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Capitalismo, segundo o Dicionário Webster, é “um sistema económico baseado na propriedade de bens de capital, com o investimento determinado por decisão privada e com preços, produção e a distribuição de bens e serviços determinados principalmente num mercado livre”.

Durante os séc. XVIII e XIX, à medida que o mundo se afastava das suas raízes agrárias em direção a uma sociedade industrial, o capitalismo começou a florescer. Tornaram-se indispensáveis grandes acumulações de capital para a construção de fábricas, para o desenvolvimento de sistemas de transporte e para o financiamento dos bancos, de quem a nova economia iria depender.

Segundo um artigo de James Surowiecki na Revista Forbes, os Quakers estiveram na origem deste desenvolvimento. No séc. XVIII e início do séc. XIX, os Quakers dominavam a economia britânica, provavelmente porque a sua simplicidade e frugalidade lendárias lhes permitiram arrecadar o capital para investir. Eram proprietários de mais de metade das empresas metalúrgicas do país e desempenhavam papéis chave na banca e no comércio transatlântico. A sua ênfase na fiabilidade, honestidade absoluta e registos rigorosos criavam confiança nos negócios entre si e os restantes mercadores observavam que a confiança caminhava de mãos dadas com o sucesso nos negócios. O interesse próprio exigia a virtude.

Esta coincidência de virtude e valor é exatamente aquilo que o grande economista e filósofo escocês, Adam Smith, esperava. Em “A Riqueza das Nações”, de 1776, escreveu, “o esforço ininterrupto e uniforme para melhorar a sua condição, o princípio do qual derivam a opulência pública e privada é suficientemente poderoso para manter o progresso natural das coisas para a sua melhoria…Cada indivíduo não pretende promover o interesse público nem sabe o quão o está a promover… (mas) ao orientar a sua indústria de forma a que o seu produto seja o mais valioso possível, ele é guiado por uma mão invisível que promove um objetivo que não faz parte das suas intenções”.

Assim, continua o artigo da Forbes, a evolução do capitalismo foi na direção de uma maior confiança e transparência e um comportamento menos egoísta; não é coincidência que esta evolução trouxe consigo uma maior produtividade e crescimento económico…Não porque os capitalistas são boas pessoas, mas porque os benefícios da confiança são potencialmente imensos e porque um sistema de mercado de sucesso ensina as pessoas a reconhecer esses benefícios…um ciclo virtuoso em que cada nível de confiança gera um novo nível de confiança”.

Este era o capitalismo dos proprietários, cujo objetivo era servir os interesses dos donos e acionistas das empresas maximizando os retornos dos capitais investidos.

Capitalismo sem Donos

Infelizmente, nos últimos anos, desenvolveu-se um novo sistema: o capitalismo dos gestores. As grandes empresas são geridas para beneficiar os seus gestores, em cumplicidade com contabilistas, auditores e gestores de outras empresas. Como é que isto aconteceu?

A grande dispersão do capital das grandes multinacionais em bolsa, sobretudo a partir de 1950, faz com que não haja “um dono” responsável. Milhões de investidores deram lugar a investidores institucionais criados e controlados pelas grandes instituições financeiras. Os investidores – grandes institucionais ou particulares – não assacam responsabilidades aos gestores. Os grandes institucionais, que detêm grande parte das ações – e na maioria dos casos são detidos por grandes bancos – gerem os fundos de pensões destas grandes multinacionais e são contratados para as operações de banca de investimento, que proporcionam comissões extraordinárias. Ora, não têm “liberdade” para questionar as remunerações de gestores, as políticas de aquisições ou a falta estratégia de criação de riqueza para os acionistas a longo prazo. Os pequenos investidores são estimulados a olhar para o curto prazo e as ações são papel para trocar de mãos todos os dias, permitindo elevadas comissões de transação. Os auditores, que deveriam vigiar a atividade dos gestores para minorar conflitos de interesses, são, eles próprios, contratados por aqueles que terão que avaliar. Ao mesmo tempo criou-se um sério conflito de interesses: as empresas que gerem os fundos de biliões são as mesmas que prestam os serviços de banca de investimento a estas grandes multinacionais.

Assistimos, por isso, a uma enorme transferência de riqueza dos acionistas para os gestores de grandes multinacionais que pagam a si próprios bónus extravagantes. Os investidores “profissionais” alteraram o seu foco de investimento de longo prazo para a especulação de curto prazo e comissionamento. Entre 1997 e 2002, o total de comissões pago pelos investidores norte americanos aos bancos, corretoras e fundos de investimentos excedeu os 1,275 triliões de dólares. Parafraseando Churchil, nunca tanto foi pago por tantos a tão poucos por tão pouco.

O nosso sistema de capitalismo de mercado sofreu um falhanço profundo, com uma variedade de causas, cada uma interagindo com e reforçando as outras: a ascensão do CEO imperial; os truques da engenharia financeira no reporte de resultados; o falhanço dos nossos guardiões – auditores, reguladores, gestores de investimentos e conselhos de administração – que se esqueceram a quem deviam lealdade; as instituições financeiras que passaram a ser traders de ações ao invés de se comportarem como donos de ações; a hipérbole promocional de Wall Street; a vontade dos analistas em pôr de lado o seu ceticismo; a excitação frenética dos media; e, obviamente, os membros do público investidor que festejam sempre o lucro fácil. Quando deveríamos estar a ensinar os nossos jovens universitários sobre o investimento a longo prazo e a magia do juro composto, os jogos da bolsa que são organizados pelas universidades e corretoras estão, na realidade, a ensiná-los a especular e a reforçar uma mentalidade de curto prazo. Foi esta conspiração entre todas as partes interessadas, que baixou os padrões do negócio.

Há meses, um artigo da Bloomberg noticiava que por todo o mundo Family Offices retiravam o dinheiro dos bancos para criarem as suas estruturas de gestão. Nesse artigo, gestores de várias famílias nos quatro cantos do mundo manifestavam a sua insatisfação com os grandes bancos e gestores de dinheiro, alegando que deixaram de atuar como guardiões de capital, para passarem a meros vendedores e comissionistas.

Em Março passado, a Deco denunciou que maus depósitos custaram 1,5 mil milhões aos portugueses. A semana passada, depois de uma análise aos depósitos indexados e duais vem novamente dizer que “a taxa atrativa do depósito serve como isco para atrair investidores” com exemplos de produtos de várias instituições financeiras.

Londres arrisca-se a perder o estatuto de maior centro financeiro do mundo. Depois da JPMorgan anunciar uma perda de trading de mais de $2 biliões e da alegada fraude de $2,3 biliões da UBS, 12 bancos vêm-se envolvidos na investigação sobre a manipulação das Libor (taxas de juro globais, num mercado que representa cerca de 360 triliões de dólares) e que motivou já a demissão de vários quadros de topo do Barclays.

Este é o capitalismo dos gestores e não o dos donos, como deveria ser.

A Alma do Capitalismo

O capitalismo requer uma estrutura e um sistema de valores em que as pessoas acreditem e dependam. Não precisamos de ter fé na boa vontade humana, mas precisamos de ter confiança que as promessas e compromissos, uma vez assumidos, serão cumpridos. Também necessitamos de garantias que o sistema, no seu todo, não beneficia indevidamente alguns à custa de outros. É importante o regresso do capitalismo dos donos.

É essencial ser de confiança.

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