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*Transcrição da Tedx de Adam Carroll na London Business School, traduzida por Casa de Investimentos.

Levei a cabo recentemente uma experiência psicológica, não autorizada e não supervisionada, com os meus filhos. A premissa desta experiência consistia em 10.000,00 dólares na mesa da cozinha e um aviso ao lado que dizia: “Não toquem no dinheiro, para já!”

Antes de avançarmos, devo informar-vos que somos uma família de jogadores. Jogamos jogos com bolas, dados, jogos de tabuleiro, cartas, todo o tipo de jogos, mas os jogos que os meus filhos mais gostam de jogar são os jogos tipo Monopólio. E quando jogam Monopólio, jogam maratonas de Monopólio que duram horas e horas ao longo de vários dias.

Cada um dos meus filhos tem uma personalidade e estratégia únicas quando jogam Monopólio. A minha filha, que tem 11 anos, é sempre o Cão. Ela joga exclusivamente para as cartas da “Sorte” e da “Caixa da Comunidade”. Podemos dizer que ela utiliza a estratégia da “sorte”.

O meu filho de 9 anos é sempre o Carro – um jogador muito estratégico. Ele compra todas as Estações e as Companhias de Água e Eletricidade e depois constrói casas e hotéis nas propriedades mais caras – muito astuto.

Finalmente, o irmão mais novo, que tem sete anos, compra tudo onde cai, sem exceção – o que é adequado uma vez que ele é o Carrinho de Mão.

Antes de lhes contar como a experiência se desenrolou, tenho que partilhar uma observação que me levou a criá-la. Durante uma maratona de Monopólio, certo sábado de manhã, eu estava a jogar com os meus filhos e notei que todos eles estavam a jogar um pouco fora das regras do jogo. Faziam coisas como comprar a libertação da cadeia e emprestar dinheiro uns aos outros para comprarem propriedades e eu tive que os avisar: “não é assim que se joga este jogo!”. Eles retorquiram: “Pai, não há problema. Nós só queremos que ela continue a jogar” ou então, “ele paga-me no fim do jogo, quando estiver cheio de dinheiro”. E eu fico a pensar: “O que estou eu a ensinar a estes miúdos?”

Comecei a prestar mais atenção à forma como jogavam, ouvir as suas brincadeiras, tentar perceber como tomavam decisões e ocorreu-me: “E se estão a jogar assim porque o dinheiro não é real?”

Este é um conceito acerca do qual tenho vindo a ler bastante, Abstração Financeira: a noção de que quanto mais o dinheiro se torna uma ideia - menos tangível e, portanto, mais abstrato - mais se altera a forma como interagimos com ele. Podemos encontrar evidências de abstração a toda a nossa volta.

Só precisamos de ouvir atentamente as pessoas que dizem: “Emprestei o telefone ao meu filho ou neto e, um mês depois, recebi uma fatura cheia de compras in-app.”

Em 2014, a Apple reembolsou clientes por compras in-app não aprovadas, a maioria por crianças, no valor de 32,5 milhões de dólares.

Citando um acórdão da FTC (Federal Trade Commission), “É demasiado fácil, para crianças, fazer uma compra in-app.”

Os Imagineers da Disney foram encarregues de tornar os parques “livres de atrito” – é o que lhe chamam. Investiram então mil milhões de dólares numa “Pulseira Mágica”. Um dispositivo portátil que funciona como chave do quarto, bilhete de entrada, cartão de identificação e carteira enquanto se encontra em propriedade do parque. Portanto, se o seu filho quiser umas orelhas ou uma sobremesa no Reino Mágico, “bibbidi-bobbidi-boo”, as suas férias acabaram de ficar mais caras… magicamente.

Por último, mas não menos importante, tive uma conversa com alguns adolescentes que me disseram que 100.000,00 dólares por ano não é assim tanto dinheiro. Eu perguntei: “A sério? Porque dizem isso?”. Eles responderam: “Nós temos 500 mil dólares nas nossas máquinas multibanco no Grand Theft Auto”, um jogo de computador muito popular e algo duvidoso.

Então, estou a jogar com os meus filhos e a vê-los jogar, a ouvi-los a falar e pensei: “E se o dinheiro na mesa fosse real? Jogariam de forma diferente?”

Calculei rapidamente quanto dinheiro seria necessário para jogar um jogo de Monopólio com os meus filhos de forma a que eles pudessem sentir, tangivelmente, o dinheiro nas mãos? E estimei que, para quatro ou cinco jogadores, são cerca de 10 mil dólares. Na sexta-feira, fui ao banco, levantei todas as denominações que temos no Monopólio, menos a nota de 500 – difícil de conseguir – e, no domingo, reuni toda a família para um jogo “duro” de Monopólio onde o vencedor fica com tudo – 20 dólares, neste caso.

Nunca viram olhos de criança iluminar-se da forma como os dos meus filhos brilharam quando lhes entreguei 1500 dólares de capital inicial e nunca viram olhos brilhar tanto como os da minha mulher quando depositei de novo o dinheiro na segunda-feira. Todo o dinheiro.

O nosso jogo maratona durou apenas 2 horas e meia – muito mais curto e mais estratégico do que a maioria dos jogos que normalmente jogam.

Confirmando a minha hipótese, dois dos meus três filhos jogaram de forma diferente; a minha filha continuou a utilizar a estratégia da “sorte”. Foi a primeira a falir e retirou-se, toda contente, para a sala de estar para ler um livro. O meu filho mais novo, o Carrinho de Mão, não comprou tudo onde caía. Calculava, isso sim, cuidadosamente, a quantas casas de distância estava das propriedades do irmão e quanto ficaria a dever ao irmão, caso aterrasse numa dessas propriedades, e tomava as suas decisões com base nisso. 

Com efeito, ter dinheiro real na mesa e um prémio, em dinheiro, no final do jogo, tornou-o mais conservador. E o meu filho do meio – muito estratégico – continuou a comprar todas as Estações e as Companhias de Água e Eletricidade.

Não comprou, no entanto, o Rossio (Lisboa) ou a Rua das Amoreiras (Lisboa). Em vez disso, construiu imediatamente hotéis na Rua Faria Guimarães (Porto) e na Alameda das Linhas de Torres (Lisboa). Quando lhe perguntei por que fez isso, ele respondeu, nas suas próprias palavras, “Pai, estas são propriedades mais económicas”. Nesse momento, chorei uma lágrima de orgulho. Ele percebeu!

No final, o meu filho acabou com 28 propriedades, mais dinheiro do que alguma vez tinha visto, ou tocado, na sua vida e sabe agora o significado da expressão “fazer chover”. Vejam que feliz ele está… e como chateados estão o irmão e a irmã.

Nos limites da minha experiência, há uma ideia que vale a pena divulgar: estou convicto que as crianças de hoje estão a ser criadas num mundo onde o dinheiro já não é real; é uma ilusão, mas com consequências muito reais.

Peter Drucker, o famoso guru da liderança, disse que a indústria financeira atual tem menos a ver com dinheiro e mais com informação e, no entanto, os jovens de hoje não recebem essa informação, não vivem as experiências com dinheiro, cedo na vida.

Três investigadores do Centro de Liderança Criativa, num estudo levado a cabo há três décadas e que foi replicado muitas, muitas vezes, entrevistaram mais de 200 executivos num relatório chamado “Eventos Chave na Vida de Executivos”. Neste relatório, concluíram que todos os 200 executivos, que estavam no pico das carreiras, partilhavam características similares

Uma delas era que, no início das suas carreiras, tinham sido “empurrados” para um papel de liderança que os obrigou a tomar decisões que tiveram sérias consequências. Tinham também um mentor que os ajudou a apreciar as lições que aprenderam com essas experiências.

Este estudo criou uma estrutura de liderança que diz, na sua essência, que alguém com potencial, se tiver a oportunidade de participar em experiências estrategicamente relevantes e lhes for dada a capacidade de aprender as lições dessas experiências, terá uma maior probabilidade de sucesso, num papel de liderança, na sua carreira.

Se aliarmos esta estrutura de liderança à minha experiência dos 10 mil dólares e a olharmos através do caleidoscópio teríamos uma declaração deste tipo: se as crianças tiverem experiências financeiramente relevantes na sua vida e tiverem alguém que as ajude a aprender as lições dessas experiências, elas terão uma maior probabilidade de atingir o sucesso financeiro, mais tarde na sua vida. Na minha humilde opinião, as crianças precisam de ter estas experiências cedo e com frequência.

Estamos hoje a atravessar uma, muito pouco subtil, mudança de paradigma na forma como nos pagamos uns aos outros. Estima-se que, todos os dias, triliões de dólares circulam na nossa economia global. No entanto, apenas 4% desse dinheiro é físico, moedas e notas. O resto é digital, pacotes digitais, "uns" e "zeros" e a juventude nativa digital de hoje não vê ninguém a pagar com notas ou cheques. Na realidade, se estivermos numa fila e virmos alguém, mais à frente, a puxar do seu livro de cheques, a nossa reação será: “A sério, cheques? Nunca mais saímos daqui.” Riem-se porque é verdade.

A moeda de hoje é digital. Muitos destes jovens equiparam "gastar" a cartões de crédito ou débito, a Google Wallet, Paypal ou Zap. Isto é o que para eles é "gastar". Já agora, não estou a diminuir os avanços tecnológicos nos pagamentos de hoje em dia, longe disso. Acho que a “tokenização”, “aleatorização” e biométrica são a vaga do futuro. A primeira vez que utilizei Apple Pay, foi como ter revelado o fogo a um homem das cavernas. Foi espantoso. Mas o que me puxou de volta à realidade foi ouvir o meu filho atrás de mim: “Quem me dera ter um telefone para comprar coisas”.

O dinheiro, para um jovem, é algo de abstrato e, quando acenamos uma Pulseira Mágica ou passamos o telemóvel por um sensor ou pagamos com a impressão digital, estamos a levar a abstração mais longe.

Esta é a receita para o desastre financeiro mais tarde na vida para as pessoas financeiramente iletradas. Os jovens veem o dinheiro como ilimitado porque não têm qualquer conceito do que está por trás até que as contas os vêm morder por trás.

Já testemunhei isto em primeira mão com os meus estudantes universitários, jovens que pedem emprestado e gastam enormes quantidades de dinheiro, sem qualquer entendimento do aumento dos pagamentos e da diminuição do estilo de vida e dos desafios que terão que enfrentar mais tarde.

No Reino Unido e nos Estados Unidos, o crédito estudantil cresce assustadoramente. Nos Estados Unidos, atingimos os 1,2 triliões de dívida de estudantes. Mais altas, apenas as dívidas do crédito à habitação. Um em cada três estudantes tem pagamentos em atraso; um em cada cinco está em default. Este é um enorme problema e a razão pela qual isto nos deve preocupar a todos, a toda a economia global, é isto:

Dun & Bradstreet concluiu que as pessoas gastam mais 12 a 18% quando utilizam cartões de crédito e não dinheiro. Ainda não fizeram o estudo que nos diga quanto mais gastaremos com uma Pulseira Mágica ou um telemóvel, mas eu imagino que poderão ser 15 a 20% mais, ou 18 a 25% mais.

E tudo o que precisamos de fazer é ler as manchetes nos jornais e revistas de hoje. The Guardian, The Washington Post, Fortune, Forbes, estas são as manchetes com que nos deparamos: “Dívida de consumo atinge o máximo dos últimos sete anos no Reino Unido”, “Dívida de consumo atinge máximo histórico nos Estados Unidos”, “Asfixia com dívida de cartões de crédito”, “A crise da dívida dos cartões de crédito: o próximo dominó económico”.

Isto é o que acontece quando as pessoas gastam de mais e perdem o controlo das suas finanças. Infelizmente, The Money Charity afirma que, no Reino Unido, atualmente, a cada cinco minutos e três segundos, uma pessoa é declarada insolvente ou falida. Pondo isto em perspetiva, desde que comecei a falar, duas pessoas declararam falência. No Reino Unido, Demos.org afirma que os americanos com idades entre 25 e 34 anos têm a segunda mais alta taxa de falências. Jovens com 25 anos.

A questão que deveria estar na mente de todos é: porquê? Porque razão acontece isto? No meu simplista ponto de vista, a razão é esta: porque o dinheiro que eles estão a gastar não é real, é uma abstração. Para deter esta maré na geração seguinte, temos que os educar para que compreendam que vivem num mundo onde têm que tomar decisões financeiras muito reais num mundo onde o dinheiro é, em larga medida, uma ilusão, mas que tem consequências muito, muito reais.

Uma vez que desejo que os meus e os vossos filhos tenham enorme sucesso financeiro, considerem o seguinte:

Se vão gastar dinheiro com o vosso filho, ofereçam-lhe uma determinada quantia e deixem-no gastá-la. Deixem-no sentir, tangivelmente, o dinheiro nas mãos. Deixem-no ter sucesso ou fracassar com consequências menores. Desta forma, quando, mais tarde na vida, eles tomarem as grandes decisões, compreenderão as grandes consequências que poderão resultar.

Para os filhos mais velhos, estabeleça um orçamento para roupas e material escolar. Dê-lhes esse dinheiro e quando eles acabarem de o gastar, acabou.

Eis a chave: eles gastam-no com a sua orientação subtil, a sua mentoria subtil, a sua supervisão. Quer lhe chame mesada, comissão para tarefas ou semanada, cada criança, de cinco ou mais anos, precisa de receber, semanalmente, uma quantia tangível de dinheiro para que compreendam como viver numa sociedade sem notas e moedas.

É melhor ensinar aos jovens o hábito de poupar quando têm pouco dinheiro para poupar do que lhes ensinar a poupar quando não têm dinheiro nenhum porque estão atolados em dívida.

Conheci um americano chamado José. Era um estudante numa universidade americana. Era filho de pais nascidos em Cuba. Aos 15 anos, os pais disseram-lhe, José, vamos dar-te comida e abrigo e 50 dólares por mês, o resto é contigo.” Perguntei-lhe, “Como era isso?” Ele respondeu, “Roupas, artigos de higiene, material escolar, entretenimento, gasolina, era tudo comigo. Detestei os meus pais durante um ano. Mas sabe uma coisa? Cheguei à conclusão que foi a melhor coisa que poderiam ter feito por mim”.

Quando conheci o José, aos 20 anos, ele tinha uma bolsa de estudo na universidade. Tinha uma poupança de 20 mil dólares prazo ganhos a trabalhar em part time durante a escola secundária. Este jovem transpirava destreza financeira e potencial de liderança.

No coração da minha mensagem de hoje está isto: não é preciso um jogo de tabuleiro de 10 mil dólares e não é preciso abandonar os jovens à sua sorte financeira para fazer a diferença. O primeiro passo é, honestamente, muito fácil. Trata-se de educar a geração seguinte para tomar decisões num mundo onde o dinheiro é, em grande medida, uma ilusão, mas que tem consequências muito, muito reais.

A razão pela qual é tão importante que nós, como sociedade global, façamos isto é que a geração seguinte vai herdar a economia global que lhes deixarmos e que lhes vamos colocar precariamente sobre os seus ombros.

Devemos-lhes esta preparação para o sucesso financeiro.

Obrigado.

Adam Carroll


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