Voltar

2016 e a volatilidade dos mercados financeiros

Braga, 15 de Janeiro de 2016

Estimado Cliente,

O início de 2016 está a ser marcado por uma forte turbulência nos mercados financeiros. O abrandamento da economia chinesa e o ciclo de subida de taxas de juro nos EUA estão a provocar uma fuga dos activos de risco e têm conduzido os índices accionistas a um dos piores inícios de ano de sempre.

Neste enquadramento, fazem notícia nos meios de comunicação as quedas da bolsa e os analistas que prevêm o apocalipse financeiro. Lê-se com frequência que o mercado pode cair mais 20% ou 30%, fala-se do próximo crash, questiona-se o funcionamento das bolsas. Previsões que seriam ignoradas em fases positivas ganham uma importância e um realce inesperados. Qualquer investidor, por mais experimentado que seja, vê a sua confiança abalada e sente a tentação de se refugiar em depósitos ou até de recorrer ao colchão para proteger as suas poupanças.

E, no entanto, é nestas alturas que é fundamental manter uma disciplina e um rigor inabaláveis. Ser capaz de no meio do pânico vendedor procurar boas oportunidades, boas empresas que estão à venda por uma fracção do seu valor. Manter um rumo firme e perceber que o momento de maior pessimismo é exactamente o momento ideal para comprar. O segredo do sucesso na área do investimento é exactamente ter medo quando toda a gente está optimista e ser optimista quando toda a gente tem medo.

A Casa de Investimentos não tem por objectivo adivinhar os ciclos económicos ou os ciclos de mercado. Esse é um exercício falível, como é atestado pelos inúmeros fracassos de analistas, académicos, políticos e comentadores em prever a próxima recessão ou antecipar o próximo crash bolsista. Temos consciência que haverá períodos em que os mercados estarão mais deprimidos e que, mais cedo ou mais tarde, haverá uma nova recessão na economia global. Mas entendemos que a nossa função não é adivinhar se a recessão vem em 2016 ou em 2017.

Entendemos que a nossa função é procurar investimentos que, mesmo com uma recessão ao virar da esquina, estejam baratos e tenham potencial de valorização. O nosso conforto é saber que estamos a comprar negócios que valem muito mais do que os preços a que transaccionam e que constituem a melhor aplicação a médio e longo prazo.

É fulcral afastar-se do ruído diário dos mercados, das subidas e descidas das praças financeiras e dos pronunciamentos dos oráculos. A escola de investimento em valor já provou inúmeras vezes a sua capacidade para gerar os melhores retornos e exige três virtudes: rigor, disciplina e paciência. Rigor na análise e selecção de investimentos, disciplina para se tomar as decisões correctas mesmo contra a opinião generalizada e paciência para aguardar pelos resultados esperados. Conjugadas estas três forças, estão criadas as condições para o sucesso nos investimentos.

No investimento, como na vida, o mais importante é não cometer grandes erros. Numa altura em que vemos empresas extraordinárias a recuar 30 e 40% dos máximos e a cotar com desconto significativo do valor subjacente do seu negócio; empresas que achamos que têm condições para crescer ao longo do tempo e cujos gestores estão concentrados em maximizar o valor para os acionistas, seria um grande erro não aproveitar estas oportunidades e não manter com firmeza as posições que já temos em carteira.

Hoje, tal como em Agosto de 2011 - quando escrevemos aos nossos Clientes e no Jornal i a sugerir que ignorassem a multidão e reforçassem as posições - estamos confiantes na qualidade das empresas que temos colecionado para as carteiras de investimento dos nossos Clientes.

Ao longo dos últimos dois anos, mantivemos níveis de liquidez elevados à espera destas oportunidades. Durante este período, fomos penalizados pelas rentabilidades mas protegemos o dinheiro do nossos Clientes não o expondo a ativos caros e que teriam resultado em investimentos sem margem de segurança. Na comunicação que Vos fizemos em 26 de Agosto passado, deixámos claro que não sabemos o que o mercado vai fazer no curto prazo, que não temos capacidade de prever o futuro e que preferimos fazer aquilo que sabemos fazer bem: analisar profundamente os ativos, só investir quando compramos mais valor do que estamos a pagar e pacientemente aguardar para ser recompensados, ignorando o ruído de mercado.

A Casa de Investimentos escolheu há quase 6 anos traçar uma estratégia de valor para si e para os seus Clientes, procurar a segurança e rentabilidades na qualidade dos ativos que selecciona e no desconto a que os consegue comprar face ao seu real valor.

Escolhemos seguir o que fazem os melhores investidores do mundo, os que se preocupam em enriquecer os seus Clientes ao longo do tempo. Não estamos preocupados em estar certos um dia ou uma semana. Procuramos estar certos ao longo de 5, 10 ou 20 anos. Continuaremos focados na protecção dos valores que nos confiaram e na criação de riqueza. Hoje estamos quase totalmente investidos e não vemos melhores alternativas do que o investimento em ações de empresas excepcionais que compramos a preços sensatos.

Gostaríamos de ter ainda liquidez para aproveitar as oportunidades que possam surgir. Mas, os investimentos feitos são, na nossa opinião, valores seguros a prazo. Manifestamos a nossa total disponibilidade para apresentar os méritos dos investimentos realizados e o seu potencial de valorização a prazo.

Esperamos continuar a merecer a Vossa confiança e asseguramos-vos que estamos conscientes do seu significado.

Com consideração, apresentamos os melhores cumprimentos,

Emília Oliveira Vieira
Presidente do Conselho de Administração