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Autoria
Jeff Bezos
Jeff Bezos

Carta de Jeff Bezos aos acionistas da Amazon, publicada a 15 de abril de 2021.

Aos nossos acionistas:

Na carta da Amazon aos acionistas de 1997, a nossa primeira carta, falei acerca da nossa esperança em criar uma “empresa duradoura”, que reinventasse o que significa servir um cliente através do poder da internet. Observei que a Amazon tinha crescido de 158 para 614 colaboradores e que tínhamos ultrapassado os 1,5 milhões de contas de clientes. Tínhamos acabado de cotar na bolsa a um preço ajustado de 1,5 dólares por ação. Escrevi também que era o Dia 1.

Desde então, já percorremos um longo caminho e estamos a trabalhar mais do que nunca para servir e deliciar clientes. No ano passado, contratámos 500 000 funcionários e empregamos agora 1,3 milhões de pessoas em todo o mundo. Temos mais de 200 milhões de clientes Prime pelo mundo inteiro. Mais de 1,9 milhões de pequenas e médias empresas vendem produtos na nossa loja e representam cerca de 60% das nossas vendas a retalho. Os clientes ligaram mais de 100 milhões de casas aos nossos dispositivos Alexa. Amazon Web Services serve milhões de clientes e terminou 2020 com uma receita anualizada de 50 biliões de dólares. Em 1997, ainda não tínhamos inventado Prime, Marketplace, Alexa ou AWS. Não eram sequer ideias ainda e nenhuma delas estava predestinada. Corremos enormes riscos em cada uma e canalizámos suor e engenho em cada uma delas.

Pelo caminho, criámos 1,6 triliões de dólares de riqueza para os acionistas. Quem são eles? O vosso CEO é um deles e as minhas ações da Amazon tornaram-me rico. No entanto, mais de 7/8 das ações, que representam 1,4 triliões de riqueza, são propriedade de outros. Quem são eles? São fundos de pensões, universidades, planos de poupança reforma e são a Mary e o Larry, que me enviaram esta carta, precisamente na altura em que me preparava para escrever esta carta aos acionistas:

5 de março de 2021

Mr. Jeff Bezos
Executive Chairman
Amazon.com Inc.
410 Terry Avenue North
Seattle, WA 98109

Caro Sr. Bezos,

Obrigado por fazer da Amazon uma empresa excecional! Acreditamos que gostaria de saber como a Amazon beneficiou a nossa família.

Em 1997, quando a Amazon entrou em bolsa, o nosso filho Ryan tinha 12 anos e era um leitor voraz. No aniversário dele, oferecemos-lhe duas ações da sua empresa que vendia livros – não tínhamos dinheiro para mais na altura. Passado um ano, as ações tiveram um stock split de 2 para 1, depois de 3 para 1 e finalmente de 2 para 1 e o Ryan ficou com 24 ações. As ações estavam em nosso nome devido à sua idade. Pretendíamos colocá-las em nome dele, mas nunca chegámos a fazê-lo, mas ele sabia que eram dele.

Por várias vezes, ao longo dos anos, o Ryan quis liquidar as ações, mas sempre lhe dissemos que lhas comprávamos. Depois, eventualmente, acabávamos por lhas oferecer novamente. Era uma espécie de piada privada na família.

Dado o crescimento exponencial no valor das ações, decidimos dividi-las entre nós próprios e ambos os nossos filhos, Ryan e Katy.

O Ryan vai comprar casa este ano e gostaria de vender algumas ações. Antes de as vender, tivemos que converter os certificados originais em papel para um formato digital. Reparámos que o primeiro certificado tinha um número extremamente baixo. Nem consigo imaginar quantas mais ações foram emitidas desde essa data!

Anexo uma cópia do certificado original das ações de 1997 – há 24 anos. Essas duas ações tiveram uma influência maravilhosa na nossa família. Todos nós adoramos testemunhar o crescimento da Amazon ano após ano e esta é uma história que adoramos contar.

Parabéns pela sua carreira como CEO da Amazon. Nem conseguimos imaginar o esforço e o trabalho que o Sr. Bezos e a sua equipa tiveram que fazer para tornar a Amazon na empresa mais bem-sucedida e inventiva do planeta. Desejamos que tenha agora tempo para relaxar e para fazer as coisas que deseja fazer, tal como explorar o espaço!

Mal podemos esperar para ver onde a Amazon vai entregar de seguida! No Dia Seguinte em Marte!

Com os melhores cumprimentos,
Mary e Larry

Recebo constantemente histórias parecidas. Conheço pessoas que utilizaram o dinheiro das ações Amazon para a universidade, para emergências, casas, férias, para dar início à sua empresa, para ajudar os outros – e a lista é interminável. Tenho muito orgulho na riqueza que criámos para os acionistas. É significativa e melhora as suas vidas. No entanto, estou seguro de outra coisa: este não é o maior quinhão do valor que criámos.

Crie mais do que consome

Se queremos ser bem-sucedidos nos negócios (na realidade, na vida), temos que criar mais do que consumimos. O nosso objetivo deverá ser criar valor para todos aqueles com quem interagimos. Qualquer negócio que não crie valor para as pessoas com que entra em contacto, mesmo que aparente ter sucesso à superfície, não perdurará. Está de saída.

Recordemos que os preços das ações não têm a ver com o passado. Os preços das ações são uma previsão dos cash flows futuros descontados para o presente. O mercado de ações antecipa. Permitam-me falar um pouco do passado. Quanto valor criámos para os acionistas em 2020? Esta é uma questão relativamente fácil de responder uma vez que existem sistemas contabilísticos preparados para isso. O nosso lucro em 2020 foi de 21,3 biliões de dólares. Se, ao invés de ser uma empresas publicamente cotada com milhares de donos, a Amazon tivesse um único dono, esse teria sido o lucro que o dono arrecadaria em 2020.

E os funcionários? Esta também é uma pergunta relativamente fácil de responder uma vez que podemos consultar os gastos com pessoal. Em 2020, os funcionários ganharam 80 biliões de dólares, a que se somam mais 11 biliões de dólares em benefícios e impostos, para um total de 91 biliões de dólares.

E quanto aos vendedores na nossa loja? Temos uma equipa (Selling Partner Services) que trabalha para responder a esta questão. Estimam que, em 2020, os lucros das suas vendas nas nossas lojas foram entre 25 e 39 biliões de dólares. Sendo conservador, levamos em consideração os 25 biliões de dólares.

Para os clientes, temos que os dividir entre clientes consumidores e clientes AWS.

Primeiro, os consumidores. Oferecemos preços baixos, uma vasta seleção e entregas rápidas, mas imaginemos que, para o propósito desta estimativa, ignoramos tudo isto e avaliamos apenas uma coisa: poupamos tempo aos nossos clientes.

Os clientes completam 28% das compras na Amazon em três minutos ou menos e metade de todas as compras são concluídas em menos de 15 minutos. Se compararmos isto a uma típica saída às compras numa loja física – conduzir, estacionar, procurar nas estantes da loja, esperar na caixa, encontrar o carro no parque e regressar a casa. Estudos sugerem que a típica viagem à loja demora cerca de uma hora. Se assumirmos que uma compra típica na Amazon demora 15 minutos e que nos poupa um par de viagens a uma loja física, isto significa uma poupança de mais de 75 horas por ano. Isto é importante. Neste início do Séc. XXI, estamos todos muito ocupados.

Para que possamos chegar a um número em dólares, vamos avaliar a poupança no tempo em 10 dólares por hora, um número conservador. Setenta e cinco horas multiplicadas por dez menos o custo do Amazon Prime resulta numa criação de valor para cada membro do Prime de cerca de 630 dólares. Temos 200 milhões de membros Prime e uma criação de valor, em 2020, de 126 biliões de dólares.

É difícil estimar a criação de valor na AWS uma vez que as exigências de cada cliente são tão diferentes, mas vamos tentar de qualquer maneira, reconhecendo à partida que as margens de erro são elevadas. As reduções de custos diretos devidas à operação de servidores na cloud em vez de localmente variam enormemente, mas uma estimativa razoável é de 30%. Com base nas receitas da AWS de 2020, 45 biliões de dólares, esses 30$ significam uma criação de valor para os clientes de 19 biliões (o que lhes custaria 64 biliões de dólares isoladamente, custa-lhes 45 biliões com a AWS). A parte difícil deste exercício de estimativa é que a redução de custos direta é a porção mais pequena do benefício que o cliente consegue ao mudar-se para a cloud. O maior benefício é o aumento na velocidade de desenvolvimento de software – algo que pode melhorar significativamente a competitividade e lucros do cliente. Não temos qualquer forma razoável de estimar essa porção de criação de valor para o cliente exceto dizer que é quase certo que é superior à poupança nos custos diretos. Sendo conservadores (e tendo em mente que estamos apenas a tentar chegar a valores aproximados), diria que é equivalente e que a criação de valor da AWS para o cliente, em 2020, foi de 38 biliões.

Somando a AWS e os consumidores dá-nos um total de criação de valor para o cliente, em 2020, de 164 biliões de dólares.

Resumindo:

Acionistas:         21 biliões de dólares

Funcionários:     91 biliões de dólares

Vendedores:      25 biliões de dólares

Clientes:             164 biliões de dólares

Total:                  301 biliões de dólares

Se cada grupo tivesse uma demonstração de resultados representando as suas interações com a Amazon, os números acima seriam os “lucros” dessas demonstrações de resultados. Estes números são parte da razão pela qual estas pessoas trabalham para nós, pela qual os vendedores vendem através da nossa plataforma e pela qual os clientes compram na nossa loja. Nós criamos valor para eles. E esta criação de valor não é um jogo soma zero. Não é apenas mover dinheiro de um bolso para outro. Se desenharmos um círculo à volta de toda a sociedade, descobrimos que a invenção está na raiz de toda a verdadeira criação de valor. E o valor criado é, no fundo, uma métrica para a inovação.

Obviamente que a nossa relação com estes parceiros e o valor que criamos não é medido exclusivamente em dólares e cêntimos. O dinheiro não conta a história toda. A nossa relação com os acionistas, por exemplo, é relativamente simples. Eles investem e mantêm as ações em carteira pelo tempo que desejarem. Fornecemos instruções aos acionistas pouco frequentemente em matérias como reuniões anuais e o processo para votar com as suas ações. E mesmo assim, os acionistas podem ignorar essas instruções e simplesmente não votar.

A nossa relação com os funcionários é um exemplo muito diferente. Temos processos que eles seguem e padrões que respeitam. Exigimos formação e vários certificados. Os funcionários devem marcar presença nos horários estabelecidos. As nossas interações com os funcionários são numerosas e são complexas. Não se limitam ao salário e benefícios. Têm também a ver com outros detalhes da relação.

Será que o vosso CEO está satisfeito com o desfecho da recente votação do sindicato em Bessemer? Não, não está. Acho que devemos fazer mais pelos nossos funcionários. Embora a votação tenha sido desequilibrada e a nossa relação direta com os funcionários seja forte, é evidente para mim que precisamos de uma visão melhor para a forma de criar valor para os funcionários – uma visão para o seu sucesso.

Se lerem algumas notícias, poderá pensar que não nos importamos com os nossos funcionários. Nessas notícias, os nossos funcionários são descritos como almas desesperadas e tratados como robôs. Isto não é verdade. São pessoas sofisticadas e ponderadas que têm opções para trabalhar noutros locais. Quando fazemos inquéritos aos funcionários dos nossos armazéns, 94% dizem que recomendariam a um amigo a Amazon como um sítio para trabalhar.

Os funcionários podem fazer pausas informais ao longo dos seus turnos para esticar as pernas, beber água, utilizar a casa de banho ou falar com um supervisor sem que isso tenha impacto na sua performance. Estas pausas informais são acumuláveis com o intervalo de 30 minutos para almoço e o intervalo de 30 minutos já incorporado no horário normal.

Não estabelecemos objetivos de performance irrazoáveis. Estabelecemos objetivos alcançáveis que levam em conta a antiguidade e os dados da performance passada. A performance é avaliada ao longo de períodos de tempo prolongados; sabemos que uma variedade de fatores pode ter impacto na performance de uma determinada semana, dia ou hora. Se um funcionário está prestes a falhar um objetivo num determinado período de tempo, o seu supervisor fala com ele e providencia coaching.

Coaching é também providenciado aos funcionários que excedem os seus objetivos e que estão na calha para responsabilidades acrescidas. Na realidade, 82% do coaching é positivo, providenciado a funcionários que cumprem ou excedem os seus objetivos. Rescindimos o contrato de trabalho de menos de 2,6% dos funcionários devido à sua incapacidade de levar a cabo o seu trabalho (e esse número foi ainda mais baixo em 2020 devido aos impactos operacionais do COVID-19).

O Melhor Empregador da Terra e o Local Mais Seguro para Trabalhar da Terra

A realidade é que a vasta equipa de milhares de pessoas que lideram as operações na Amazon se preocupam profundamente com os nossos funcionários que trabalham à hora e estamos orgulhosos do ambiente de trabalho que criámos. Estamos também orgulhosos do facto de que a Amazon é uma empresa que faz mais do que criar empregos para engenheiros informáticos e pessoas com graus académicos avançados. Criamos empregos para pessoas que nunca tiveram essas vantagens.

Apesar de tudo aquilo que alcançámos, torna-se evidente para mim que necessitamos de uma melhor visão para o sucesso dos nossos funcionários. Sempre almejámos ser a Empresa Mais “Cliente-cêntrica” da Terra. Não vamos mudar isso. Foi isso que nos trouxe ao momento atual. Mas prometo uma adição. Vamos ser O Melhor Empregador da Terra e O Local Mais Seguro para Trabalhar da Terra.

No meu futuro papel de Executive Chair, vou focar-me em novas iniciativas. Eu sou um inventor. É o que gosto mais de fazer e o que eu faço melhor. É onde crio mais valor. Estou ansioso para iniciar o trabalho ao lado da vasta equipa de pessoas apaixonadas que temos nas Operações e para ajudar a inventar nesta arena de O Melhor Empregador da Terra e O Local Mais Seguro para Trabalhar da Terra. Nos detalhes, nós, na Amazon, somos sempre flexíveis, mas, na visão somos teimosos e implacáveis. Nunca falhámos quando nos decidimos a algo e não vamos falhar aqui.

Temos uma profunda preocupação com questões de segurança. Por exemplo, 40% dos acidentes de trabalho na Amazon estão relacionados com desordens musculoesqueléticas (MSDs), coisas como entorses e tensões que podem ser causadas por movimentos repetitivos. MSDs são comuns neste tipo de trabalho e a probabilidade de ocorrerem aumenta nos primeiros seis meses do funcionário na Amazon. Precisamos de inventar soluções para reduzir as MSDs nos novos funcionários, muitos dos quais poderão estar a trabalhar em posições que exigem trabalho físico.

Um destes programas chama-se WorkingWell – que, em 2020, abrange 850 000 funcionários em 350 locais nos Estados Unidos e Europa – onde formamos pequenos grupos de funcionários em mecânica corporal, em estar proativo e segurança. Para além de reduzir lesões no local de trabalho, estes conceitos têm um impacto positivo nas atividades diárias fora do trabalho.

Estamos a desenvolver novos agendamentos de horários de trabalho automatizados que utilizam sofisticados algoritmos de forma a poder rodar funcionários por diferentes funções que utilizam diferentes grupos de tendões/músculos com o objetivo de minimizar movimentos repetitivos e ajudar a proteger os funcionários de MSDs. Esta tecnologia é essencial para o programa de rotação de funções que temos vindo a implementar desde o início de 2021.

Esta nossa atenção à prevenção das MSDs está já a alcançar resultados. De 2019 para 2020, as MSDs caíram cerca de 32% e as MSDs que resultam em baixas médicas caíram mais de metade.

Na Amazon, empregamos mais de 6200 profissionais de segurança. Utilizam a ciência da segurança para resolver problemas complexos e estabelecer novas melhores práticas para a indústria. Em 2021, vamos investir mais de 300 milhões de dólares em projetos de segurança, incluindo uns iniciais 66 milhões de dólares para criar tecnologia que ajudará a evitar colisões entre empilhadoras e outros tipos de veículos industriais.

Quando lideramos, outros seguem. Há dois anos e meio, quando aumentámos o salário mínimo para 15 dólares por hora, fizemo-lo porque queríamos liderar nos salários – não apenas correr junto com a matilha – e porque acreditávamos que era a coisa certa a fazer. Um paper recente de economistas das Universidades da Califórnia/Berkeley e Brandeis analisaram o impacto da nossa decisão em aumentar o salário mínimo inicial para 15 dólares por hora. As suas conclusões refletem aquilo que já ouvimos de funcionários, das suas famílias e das comunidades em que vivem.

O nosso aumento dos salários estimulou as economias locais pelo país inteiro, beneficiando, não apenas os nossos funcionários, mas também outros trabalhadores na mesma comunidade. O estudo demonstrou que o nosso aumento de salário resultou num aumento de 4,7% nos salários horários médios de outros empregadores no mesmo mercado de trabalho.

E a nossa liderança não acaba aqui. Se queremos ser O Melhor Empregador da Terra, não nos podemos contentar que apenas 94% dos funcionários digam que recomendariam a Amazon a um amigo como um local para trabalhar. Temos que apontar para 100%. E faremos isso continuando a liderar nos salários, benefícios, oportunidades de formação e doutras formas que, ao longo do tempo, descobriremos.

Se algum acionista estiver preocupado que O Melhor Empregador da Terra e O Local Mais Seguro para Trabalhar da Terra diluirão o nosso foco n’ A Empresa Mais “Cliente-cêntrica” da Terra, deixem-me sossegá-los. Pensem nisto da seguinte maneira. Se conseguimos operar dois negócios tão diferentes como o Ecommerce e AWS, e fazê-lo ao mais alto nível, podemos certamente fazer o mesmo com duas declarações de princípios. Na realidade, estou convencido que elas se reforçarão mutuamente.

O Compromisso do Clima (The Climate Pledge)

Numa primeira versão desta carta, comecei esta secção com argumentos e exemplos escolhidos para demonstrar que as alterações climáticas induzidas pelos humanos são reais. No entanto, para ser franco, acho que podemos parar de dizer isto. Não temos que dizer que a fotossíntese é real, ou defender a teoria da gravidade ou que a água ferve a 100 graus centígrados ao nível do mar. Estas coisas são simplesmente verdade, assim como a realidade das alterações climáticas.

Há não muito tempo, a maioria das pessoas acreditava que seria bom resolver os problemas das alterações climáticas, mas também acreditavam que seria muito caro e que ameaçaria os empregos, a competitividade e o crescimento económico. Hoje, já sabemos mais. Iniciativas inteligentes no combate às alterações climáticas não apenas impedirão coisas más de acontecer, mas também tornarão a nossa economia mais eficiente, impulsionarão a mudança tecnológica e reduzirão riscos. Em conjunto, estes fatores podem levar a mais e melhores empregos, crianças mais saudáveis e felizes, trabalhadores mais produtivos e a um futuro mais próspero. Isto não significa que será fácil. Não o vai ser. A próxima década será decisiva. A economia de 2030 terá que ser vastamente diferente do que é agora e a Amazon tenciona estar no coração da mudança. Lançámos o Compromisso do Clima juntamente com o Otimismo Global (Global Optimism) em setembro de 2019 porque queríamos ajudar a impulsionar esta revolução positiva. Precisamos de ser parte de um conjunto crescente de empresas que compreendam estes imperativos e oportunidades do Séc. XXI.

Hoje, menos de dois anos depois, 53 empresas de quase todos os setores da economia, assinaram o Compromisso do Clima. Signatários como Best Buy, IBM, Infosys, Mercedes-Benz, Microsoft, Siemens e Verizon concordaram em atingir zero carbono nos seus negócios globais em 2040, 10 anos antes do alvo dos Acordos de Paris. O Compromisso exige também a monitorização regular da emissão de gases de estufa; a implementação de estratégias de descarbonização por via da inovação; e a neutralização de quaisquer emissões remanescentes através de medidas compensatórias permanentes, reais e quantificáveis. Estas medidas compensatórias são preciosas e devemos reservá-las para as atividades económicas onde não existem alternativas de carbono reduzido.

Os signatários do Compromisso do Clima estão a implementar planos significativos, tangíveis e ambiciosos. A Uber tem o objetivo de operar como uma plataforma livre de carbono no Canadá, Europa e Estados Unidos até 2030 e a Henkel planeia utilizar, na sua atividade, apenas eletricidade de fontes renováveis. A Amazon está a fazer progressos no seu objetivo de 100% de energia renovável em 2025, cinco anos mais cedo que o nosso objetivo inicial de 2030. A Amazon é o maior comprador empresarial de energia renovável no mundo. Temos 62 projetos eólicos e solares e 125 telhados solares em armazéns e centros pelo mundo inteiro. Estes projetos têm a capacidade de gerar mais de 6,9 gigawatts de energia e de fornecer mais de 20 milhões de megawatts/hora anualmente.

Transporte é um dos principais componentes das operações da Amazon e a parte mais dura do nosso plano de atingir zero carbono em 2040. Para ajudar a acelerar rapidamente o mercado da tecnologia de veículos elétricos, e para ajudar todas as empresas na transição para tecnologias mais verdes, investimos mais de 1 bilião de dólares em Rivian – e encomendámos 100 mil carrinhas elétricas desta empresa. Iniciámos também parcerias com Mahindra na Índia e com Mercedes-Benz na Europa. Estas carrinhas de entrega elétricas da Rivian estão já operacionais e já estão na estrada em Los Angeles desde fevereiro passado. Dez mil novos veículos entrarão em ação no próximo ano e todos os 100 mil estarão na estrada até 2030 – poupando milhões de toneladas de carbono. Uma forte razão pela qual queremos que as empresas se juntem ao Compromisso do Clima é sinalizar ao mercado que deve começar a inventar e a desenvolver as tecnologias que os signatários necessitam para cumprir o Compromisso. A nossa aquisição de 100 mil carrinhas elétricas Rivian é um exemplo perfeito.

Com o objetivo de acelerar ainda mais o investimento em novas tecnologias necessárias para a construção de uma economia zero carbono, apresentámos, em junho passado, o Fundo Compromisso do Clima (Climate Pledge Fund). Este programa de investimento arrancou com 2 biliões de dólares para investir em empresas visionárias cujo objetivo é ajudar a facilitar a transição para uma economia de carbono reduzido. A Amazon já anunciou investimentos em CarbonCure Technologies, Pachama, Redwood Materials, Rivian, Turntide Technologies, ZeroAvia e Infinium – e estas são apenas algumas das empresas inovadoras que, esperamos, irão construir a economia zero carbono do futuro.

Aloquei pessoalmente 10 biliões de dólares para conceder bolsas para ajudar a catalizar a mudança sistémica de que necessitaremos na próxima década. Financiaremos também cientistas, ativistas, ONGs, organizações de justiça ambiental e outros que trabalham no combate às alterações climáticas e na proteção do mundo natural. No final do ano passado, concedi a primeira ronda de bolsas a 16 organizações que trabalham em soluções inovadoras. Vai ser necessária ação coletiva das grandes empresas, pequenas empresas, estados, organizações globais e indivíduos e estou muito entusiasmado por fazer parte desta viagem e estou muito otimista que a humanidade se consiga unir para resolver este desafio.

A Diferenciação é Sobrevivência e o Universo quer que Sejamos Típicos

Esta é a minha última carta como CEO da Amazon e tenho uma última coisa que me sinto impelido a partilhar. Espero que todos os Amazonianos levem isto muito a sério.

Eis um excerto do livro extraordinário de Richard Dawkins, “The Blind Watchmaker”. É acerca de um facto básico da biologia.

“Combater a morte é algo que exige trabalho. Deixado à sua sorte – que é o que acontece após a morte – o corpo tende a reverter para um estado de equilíbrio com o seu ambiente. Se medirmos a temperatura, acidez, teor de água ou o potencial elétrico de um corpo vivo, concluiremos que, tipicamente, essas medições são marcadamente distintas das medições correspondentes do ambiente circundante. Os nossos corpos, por exemplo, são habitualmente mais quentes que o ambiente e, nos climas mais frios, temos que nos esforçar para manter o diferencial. Quando morremos, o trabalho para; o diferencial de temperatura começa a desaparecer e acabamos com a mesma temperatura do ambiente que nos rodeia. Nem todos os animais trabalham com tanto afinco para evitar entrar em equilíbrio com a temperatura circundante, mas todos os animais fazem algum trabalho comparável. Por exemplo, numa região seca, os animais e plantas trabalham para manter o conteúdo fluido das suas células, trabalham contra a tendência natural para a água fluir deles para o mundo exterior seco. Se falharem, morrem. De uma forma mais geral, se os seres vivos não trabalhassem ativamente para o impedir, fundir-se-iam eventualmente com o ambiente circundante e cessariam de existir como seres autónomos. Isto é o que acontece quando morrem.”

Embora esta passagem não o pretenda ser, é ainda assim, uma metáfora fantástica, e muito relevante para a Amazon. Defendo até que é relevante para todas as empresas e instituições e até para as nossas vidas individuais. De que formas é que o mundo nos pressiona a ser “normais”? Quanto trabalho é necessário para manter a nossa singularidade? Para manter vivas as coisas que nos fazem especiais?

Conheço um casal, com um casamento feliz, que tem um costume engraçado. De vez em quando, o marido olha para a esposa com desespero fingido e pergunta, “não podes ser normal?”. Ambos sorriem e soltam uma gargalhada e, obviamente, a verdade é que a sua singularidade é aquilo que ele adora. Mas, ao mesmo tempo, também é verdade que as coisas seriam mais fáceis – tomariam menos energia – se fossemos todos um pouco mais normais.

Este fenómeno acontece a todos os níveis. As democracias não são normais. A tirania é o normal histórico. Se deixássemos de fazer continuadamente o duro trabalho necessário para manter esta singularidade, rapidamente regressaríamos ao equilíbrio com a tirania.

Sabemos bem que a singularidade – originalidade – é valiosa. Todos fomos ensinados a ser “nós mesmos”. O que estou aqui a pedir é que abrace e seja realista acerca da energia necessária para manter essa originalidade. O mundo quer que sejamos típicos – de mil maneiras força-nos a isso. Não permita que isso aconteça.

Temos que pagar um preço por essa originalidade e vale a pena. A versão conto de fadas do “ser nós mesmos” é que a dor para assim que permitimos que a nossa originalidade brilhe. Esta versão é enganadora. “Ser nós mesmos” vale a pena, mas não espere que seja fácil ou gratuito. Temos que dedicar energia a esta tarefa continuamente. 

O mundo tentará constantemente tornar a Amazon mais típica – tentará trazer-nos para o equilíbrio com o nosso ambiente circundante. Vai ser necessário um esforço contínuo, mas somos capazes e temos que ser melhores que isto.

Tal como sempre, anexo a nossa carta aos acionistas de 1997 que concluía desta forma: “Nós, na Amazon, estamos gratos aos nossos clientes pelo seu negócio e pela sua confiança, a cada um de nós pelo trabalho árduo e aos nossos acionistas pelo seu apoio e encorajamento.” Isto não mudou em nada. Quero agradecer especialmente a Andy Jassy por concordar em assumir o papel de CEO. É um trabalho duro com muita responsabilidade. Andy é brilhante e tem os mais altos padrões de exigência. Garanto-vos que Andy não permitirá que o universo nos torne típicos. Ele reunirá a energia necessária para manter vivo em nós aquilo que nos torna especiais. Não será fácil, mas é essencial. Prevejo também que será gratificante e muitas vezes divertido. Obrigado, Andy.

A todos vós: sejam gentis, sejam originais, criem mais do que consomem e nunca, nunca, mas nunca deixem que o universo vos confunda com o que vos rodeia. Continua a ser o Dia 1.

Sinceramente,

Jeff Bezos

Fundador e CEO

Amazon.com Inc.


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