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Rick Newman, colunista sénior da Yahoo Finance, escreve sobre o fervor regulatório que pende sobre os gigantes tecnológicos americanos.

Verifica-se agora interesse bipartidário no desmantelamento dos gigantes tecnológicos Amazon, Apple, Facebook e Google. Reguladores na Administração Trump estão a estudar medidas e congressistas democratas planeiam, eles próprios, uma investigação. A Senadora Democrata, Elizabeth Warren, candidata a Presidente, tem o seu próprio plano para desmantelar a Big Tech.

Esta ideia tem uma falha fatal. As cruzadas contra os monopólios omnipotentes têm sucesso quando são apoiadas pela indignação pública. Com a possível exceção do Facebook, os gigantes tecnológicos são populares com os consumidores. Nenhum é um monopólio tradicional e muitos dos produtos que oferecem são gratuitos. A ira pública, se é que existe, pode ricochetear nas próprias empresas e lacerar os reguladores e políticos que as querem cortar em pedaços.

Marcas “mais amadas”

Estas quatro empresas não são a mesma coisa e é importante salientar as suas distinções. Amazon, retalhista online, e Google, gigante motor de busca, por exemplo, são extremamente populares com os consumidores, o que os torna estranhos alvos para desmantelamento. Na lista de 2019 das marcas mais “amadas” da Morning Consult, Amazon está no primeiro lugar e a Google em segundo. Youtube, propriedade da Google, está em 14º lugar, à frente da Disney. Os consumidores não são estúpidos e se realmente amam estas empresas, que interesse público é servido ao desmantelá-las?

A Apple é talvez a marca mais valiosa do mundo, mas isto não é o mesmo que mais popular. YouGov, empresa de inquéritos, classifica a Apple como a oitava mais popular marca de produto electrónicos, com a Samsung e Sony nos lugares cimeiros. 64% dos consumidores têm uma impressão positiva da Apple e apenas 15% têm uma impressão negativa. Existirá algum problema aqui? Não me parece. Os smartphones da Apple têm uma cota de mercado de cerca de 47% nos Estados Unidos, mas o Android, da Google, tem cerca de 52% - e não é com esta parte da Google que os reguladores estão preocupados. Os consumidores podem mudar comprar o telemóvel que desejarem e trocarem com relativa facilidade.

O Facebook é uma história diferente. O gigante das redes socias desempenhou um papel ativo, ainda que involuntário, na interferência da Rússia nas eleições americanas de 2016. Violou os seus próprios princípios ao recolher dados de utilizadores no escândalo Cambridge Analytica e é provavelmente a empresa mais faminta por dados que existe atualmente. O Facebook não é uma marca “amada”, bem pelo contrário, surge em algumas listas de empresas mais odiadas.

Desmembrar o Facebook

Um desmantelamento ordenado pelo governo serviria algum objectivo? Andy Serwer, Editor Chefe do Yahoo Finance, acredita que sim. Serwer argumenta que o Facebook tem sido tão desonesto quanto às suas práticas há tanto tempo que deveria ser o alvo principal para os reguladores.

O desmantelamento, no entanto, não tornaria o Facebook mais barato, uma vez que o serviço é já gratuito. A ideia básica parece ser a separação do Instagram e WhatsApp, hoje propriedade do Facebook, para servirem como redes sociais concorrentes. os três serviços, contudo, são diferentes e nenhum é um substituto natural para os outros. Para além disso, os utilizadores do Facebook podem abandonar o serviço virtualmente sem esforço – basta parar de aceder – mas parecem não estar a fazê-lo. Os últimos resultados trimestrais do Facebook demonstram que o número de utilizadores americanos se manteve estável e as receitas aumentaram.

Faz sentido desmantelar as empresas quando gozam de cotas de mercado quase monopolistas, quando fornecem um serviço pobre e caro, quanto têm o poder de intimidar ou eliminar potenciais concorrentes. O desmantelamento da AT&T, no início dos anos 80 – que demorou oito anos – surgiu após o gigante das telecomunicações ter afastado os concorrentes do mercado das chamadas de longa distância, desencadeando um processo do governo. O desmantelamento levou a preços mais baixos e a melhor serviço.

Desmantelar as Big Four tecnológicas traria os mesmos resultados? Duvidoso. Existe já muita competição nos preços nessas indústrias. Os smartphones da Apple são produtos premium, caros, mas qualquer um pode comprar um telemóvel Android por um preço consideravelmente mais baixo. A Amazon provavelmente ajuda a baixar preços quando compete agressivamente com Walmart, Target e Home Depot. E a Amazon conseguiu, sem dúvida, melhorar os serviços na indústria ao dar origem a entregas rapidíssimas e ao forçar os concorrentes a fazer o mesmo.

Existem outras soluções para estes problemas legítimos que não o desmantelamento destas empresas – tal como legislação que regule o seu comportamento. Se os consumidores americanos se importassem com a sua privacidade online como os europeus, o Congresso aprovaria legislação semelhante à GDPR que entrou em vigor na Europa no ano passado. E para combater as fake news nos medias sociais, o Congresso poderia alterar ou revogar parte do Communications Decency Act de 1995 que absolve as plataformas de responsabilidade por conteúdo difamatório ou falso publicado por terceiros. Se o Facebook, Twitter e restantes fossem responsabilizados por todos os posts racistas ou vídeos falsos publicados nas suas plataformas, limpariam as suas redes de um dia para o outro. O desmantelamento não é necessário.


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