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Morgan Housel escreve para o blog Collaborative Fund. No passado 18 de Agosto, publicou The Laws of Investing.
A Casa de Investimentos traduziu integralmente o artigo, que pode ler abaixo.

As Leis do Investimento

A ciência está repleta de regras, teorias baseadas em evidências e observações probabilísticas. As Leis – verdades imutáveis sem exceções – são raras. A maioria das áreas do conhecimento têm apenas uma mão cheia.

Mas a mão cheia de leis que existe têm uma função especial: são as matriarcas, os sábios, das teorias e regras do dia a dia utilizados para descobrir novas verdades. Existe uma hierarquia na ciência: Leis na base, regras específicas acima, depois teorias, observações, palpites… quando mais se sobe na pirâmide, mais excitantes se tornam as coisas. É aí que as descobertas e as oportunidades se encontram. No entanto, tudo o que está no topo da pirâmide tem que respeitar as Leis que estão na base.

Esta ideia de as regras flexíveis derivarem de Leis inabaláveis aplica-se a todas as áreas do conhecimento. John Reed escreve no seu livro Succeeding:

Quando iniciamos o estudo de uma determinada disciplina, parece que temos que memorizar um zilião de coisas. Não é verdade. O que precisamos é de identificar os princípios centrais que regem a disciplina. O milhão de coisas que julgávamos ter que memorizar são simplesmente várias combinações dos princípios centrais.

No investimento, é exatamente a mesma coisa.

O que é uma Lei do investimento? Não existe uma definição, por isso tomei algumas liberdades. Tento limitá-las a forças que influenciam todo o tipo de investimentos, em todos os setores e países, ao longo de toda a história, com poucas exceções e tento explicar porque motivo continuarão válidas indefinidamente.

O investimento não é apenas o estudo das finanças. É o estudo de como as pessoas se comportam com o dinheiro. Portanto, a maior parte destas Leis descrevem como as pessoas se comportam face ao risco, recompensas e escassez.

Estas Leis são simples. São, no entanto, parte dos alicerces que governam a maior parte do que acontece nos investimentos e continuará a acontecer enquanto existirem investimentos.

Lei 1: O otimismo e o pessimismo atingirão sempre níveis excessivos porque os limites de ambos só são conhecidos em retrospetiva, depois de terem sido ultrapassados.

O preço certo para cada ativo é o que alguém está disposto a pagar por ele, uma vez que os preços dependem de assunções subjetivas acerca do futuro. E tal como um cego que não sabe onde está a parede até que a bengala lhe toca, os mercados não sabem quando o otimismo ou pessimismo foram longe demais até que ultrapassam os limites e os investidores, em número suficiente, protestam na direção oposta.

Os picos e fundos dos ciclos de mercado parecem sempre irracionais em retrospetiva. Mas, em tempo real, os mercados estão simplesmente a tentar encontrar os limites que as pessoas conseguem suportar. E têm que o fazer, uma vez que a diferença entre o potencial de um ativo e o que os investidores estão dispostos a aguentar cria oportunidades que serão exploradas.

Robert Shiller venceu o prémio Nobel com um paper que escreveu em 1981 acerca de uma ideia similar. A conclusão a que podemos chegar é que os mercados não são, na realidade, racionais; são apenas razoáveis.

Lei 2: A acalmia semeia a loucura.

Se os mercados não sofressem crashes, não seriam arriscados.

Se não fossem arriscados, ficariam muito caros.

Quando ficam caros, sofrem crashes.

O mesmo acontece com as recessões. Quando a economia está estabilizada, as pessoas ficam otimistas. Quando ficam otimistas, contraem créditos, quando contraem créditos, a economia fica instável.

O economista Hyman Minsky concluiu, há meio século, que a estabilidade é desestabilizadora e esta é uma das observações mais úteis no investimento uma vez que explica por que razão a volatilidade é, não só inevitável, mas também é causada por pessoas que agem de forma razoável. Se encararmos todas as recessões, crashes de mercado ou bolhas, causadas por dívida em excesso como exemplos de pessoas a agir loucamente, poderemos ficar cínicos, o que torna difícil ser otimistas de longo prazo, mesmo quando o devemos ser. Se as encararmos como inevitáveis, concluímos que são parte normal da viagem e um lembrete ocasional de que o sinal de “apertar o cinto de segurança” nunca deve ser desligado.

Lei 3: Realidades de carreira originam um desfasamento entre fluxos de dinheiro e horizonte temporal, constrangendo o poder do juro composto.

Conselheiros financeiros bem-intencionados, ao dirigirem-se a jovens com 23 anos de idade, declaram: “que afortunado, tem 45 anos antes da reforma. O juro composto pode fazer crescer o seu dinheiro 20 vezes nesse período.” O confuso e realista jovem de 23 anos responde: “Isso é muito giro. Ganho 16 dólares por hora e tenho créditos de estudante de 58 mil dólares.” Pela altura em que a carreira dos estudantes está encaminhada e têm capital suficiente para investir, já estão nos seus 40 ou 50, quando o poder do juro composto diminuiu cerca de 90%.

Investir é o equivalente de a NFL apenas poder recrutar jogadores com 50 anos – que já passaram o seu apogeu, com performances muito inferiores às que conseguiriam quando eram mais novos. Quando tudo nos é favorável quando somos novos, tipicamente assumimos que os cheques continuarão para sempre e não tiramos partido da vantagem do horizonte temporal mais longo.

O fosso entre o que é possível numa folha de cálculo e praticável no mundo real será sempre vasto.

Lei 4: Pessoas com horizontes temporais diferentes e objetivos diferentes querem coisas diferentes dos mesmos ativos, criando diferenças razoáveis nas suas opiniões, que podem ser mal interpretadas como divergências.

Fundos de pensões têm Google em carteira. Fundos de índices também. E gestores ativos. E traders diários. E traders de alta frequência.

Cada um tem horizontes temporais e objetivos diferentes. Por isso, vão reagir de forma diferente às notícias e vão ter opiniões diferentes quanto à informação que importa e sobre o que vai acontecer de seguida.

Isto pode criar problemas, porque se temos um ativo em carteira, a última coisa que queremos é alguém inteligente dizer-nos, ou sinalizar, que somos loucos por tê-lo. Muita inteligência pode ser afogada por um pouco de persuasão social. Se estamos expostos à opinião de pessoas que têm o mesmo ativo que nós, mas diferentes objetivos ou horizontes temporais, poderemos ser desviados e tentados a tomar más decisões, ainda que o que a outra pessoa está a dizer esteja correto (para ela).

Quando existem objetivos diferentes, pessoas razoáveis podem discordar. Concentrar a nossa atenção na informação que está alinhada com os nossos próprios objetivos é essencial, mas bem mais difícil do que parece.

Lei 5: Sorte e risco são os lados opostos da mesma moeda, mas tratamo-los de forma muito diferente.

Tudo o que é importante nas finanças tem a ver com probabilidades e, uma vez que a maioria das probabilidades é inferior a 100, existe uma hipótese de tomar uma boa (ou má) decisão e, mesmo assim, conseguir um desfecho mau (ou bom).

O primeiro é chamado risco. O segundo é sorte.

Risco e sorte são irmãos de sangue. Mas nós tratamo-los como se fossem espécies diferentes.

O risco é tipicamente visto como algo que nos acontece enquanto que a sorte é tratada como algo que fizemos a nós próprios. Os retornos são ajustados pelo risco, nunca pela sorte.

As pessoas fazem tudo para evitar o risco. Deveremos querer evitar a sorte? Claro que não. Mas se não reconhecermos a sorte quando ela acontece, podemos iludir-nos e concluir que a performance passada é indicativa de capacidade superior. Isto pode levar-nos a decisões lamentáveis.

Experimentar o risco faz-nos concluir que algumas coisas estão fora do nosso controlo. Isto pode dar-nos feedback valioso. A sorte fornece-nos o oposto: uma sensação falsa e perigosa de que estamos no controlo, porque fizemos algo e conseguimos o desfecho desejado. Bill Gates declarou: “O sucesso é um professor terrível. Seduz as pessoas inteligentes e convence-as que não podem perder”.

Lei 6: O maior risco é sempre aquele de quem ninguém fala, porque, se ninguém fala dele, ninguém está preparado.

Tudo nas finanças são dados no contexto de expetativas. Um não importa sem o outro. A expetativa de um grande risco pode sanar o quão doloroso esse evento é quando ocorre, porque as pessoas são muito boas a preparar-se. No final de contas, a maior parte dos danos causados por grandes eventos financeiros é a reação exagerada a surpresas e ao desconhecido (ver Lei 1). Consigo colocar e retirar as minhas lentes de contacto sem qualquer dificuldade, mas se me tocam nos olhos de repente, eu retraio-me e grito porque não sei qual foi o dano ou o que ainda está para vir. A diferença entre um tweet louco de Donald Trump ou um de Jerome Powell é abismal.

A ironia universal do risco é que por mais que o tentemos quantificar, vamos sempre deixar de fora tudo aquilo em que não estamos a pensar ou que nem sequer imaginamos. E isso é o que importa mais.

Carl Richards resume: “O risco é o que sobra quando pensamos que pensamos em tudo.”

Lei 7: As narrativas tornam-se autorrealizáveis e podem sobrepor-se às capacidades visíveis que são mais facilmente mensuráveis.

A 1 de janeiro de 2009, a economia americana tinha sensivelmente o mesmo número de pessoas, o mesmo número de fábricas, máquinas, edifícios de escritórios, computadores, datacenters, camiões, comboios, patentes, escolas, criatividade e ideias que tinham em janeiro de 2007. No entanto, era 16 triliões de dólares mais pobre e empregava menos 10 milhões de pessoas em 2009 do que em 2007.

O que mudou foi a narrativa. De otimismo a pessimismo – estalar os dedos é o que basta.

Quando a narrativa – de que os preços das casas sobem sempre – quebrou, as hipotecas executadas aumentaram, os bancos perderam dinheiro, reduziram o crédito a outros negócios, o que levou a despedimentos, resultando em menos consumo, que levou a mais despedimentos e por aí em diante. Em 2009, tínhamos a mesma capacidade de crescimento de 2007, a narrativa a que nos agarrámos é que era diferente. E a economia sofreu a maior crise dos últimos 80 anos.

As finanças e a economia dependem de assunções subjetivas voltadas para o futuro e todo o edifício pode ser impulsionado ou ruir quando essas assunções mudam. A capacidade produtiva não precisa de mudar; basta mudar a história em que as pessoas acreditam.

A determinada altura, a narrativa de que os preços das casas podem cair parece ridícula. No entanto, assim que um número suficiente de pessoas acredita que isso pode acontecer, esse evento torna-se autorrealizável. Isto também é verdade na direção oposta e pode explicar o sucesso económico americana face a nações com cidadãos igualmente capazes. Nunca subestimar um grupo de pessoas com convicções fortes, para o bem ou para o mal.

Lei 8: Quanto mais revolucionária for a tecnologia, mais ridicularizada será porque é difícil distinguir a familiaridade da utilidade.

Pense nas tecnologias mais revolucionárias os últimos 100 anos. Agora tente recordar-se do que as pessoas diziam delas no início. Encontrará críticas universais e ceticismo. Quanto mais importante é a tecnologia hoje, mais ceticismo enfrentou quando surgiu. Existem poucas exceções. O ceticismo face a novas tecnologias é frequentemente justificado. Os protótipos iniciais são horríveis ou toda a ideia era ridícula. Mas uma nova tecnologia que acaba por ser fantástica – automóveis, aviões, antibióticos, vacinas, computadores – será criticada por diversas razões: poucos conseguem imaginar como se vai encaixar nas suas vidas e preocupam-se com os efeitos secundários que poderão prejudicar o seu estilo de vida. Três razões para isto acontecer:

  • Aceitar que algo substitua a forma como fazemos a s coisas hoje exige o reconhecimento de que a forma como fazemos as coisas hoje não é eficiente e se extinguirá em breve. Isto é difícil de aceitar porque as pessoas desejam ser eficientes e tornam-se sentimentais relativamente à maneira como as coisas foram sempre feitas. Uma das principais críticas aos primeiros automóveis foi a indignidade que causavam aos pobres cavalos.
  • As novas tecnologias desencadeiam frequentemente revoluções culturais, o que, para as gerações mais velhas, é difícil de distinguir de declínio moral. O telefone matou a arte de escrever cartas; o email matou as conversas telefónicas; Slack matou as reuniões face a face, e por aí adiante.
  • Compreender o valor de uma nova tecnologia requer imaginação, mas, a menos que tenhamos algo em jogo, isto pode parecer não valer a pena o esforço. A tecnologia, no final de contas, deve tornar as coisas mais simples e fáceis e não exigir esforço mental.

Um tema comum na história é a preocupação de que costumávamos inovar, mas não fizemos nada de significativo há mais de 10 anos. Em retrospetiva, a causa mais comum para esta preocupação é que costumamos demorar mais de 10 anos para reconhecer a importância de novas inovações.

Lei 9: Grandes resultados são guiados por eventos extremos, portanto ganhar enquanto perdemos a maior parte do tempo é normal.

Tudo o que é grande, lucrativo, famoso e influente é resultado de um evento extremo – um evento aberrante, um em milhares ou um em milhões. E a maior parte da nossa atenção concentra-se em coisas grandes, lucrativas, famosas e influentes. Quando a maior parte daquilo a que prestamos atenção é resultado de eventos extremos, torna-se fácil subestimar quão raros e poderosos são os eventos extremos.

Estes eventos extremos, no entanto, impulsionam quase tudo. Uma minoria de participantes capturará retornos generosos porque a oportunidade atrai concorrência e os vencedores dessa “corrida” tendem a “trancar” os lucros porque clientes, empregados e investidores querem associar-se a vencedores.

Um portfólio diversificado deriva a maior parte dos seus retornos de longo prazo de uma minoria de empresas. Estas empresas derivam a maior parte do seu valor de uma minoria de produtos e esses produtos forma criados por uma minoria de empregados, que foram educados numa minoria de escolas, e por aí em diante.

A conclusão a retirar dos eventos extremos é que devemos estar confortáveis mesmo quando a maior parte do que fazemos e vemos não funciona. Se ficarmos paralisados quando algumas coisas não funcionam, não vamos conseguir esperar e desfrutar daquelas poucas que funcionam.

Lei 10: As estratégias eficientes mudam à medida que os mercados mudam as métricas pelas quais se interessam.

As boas estratégias de investimento são como vacinas contra a gripe. Existem vacinas eficientes, mas apenas por um limitado período de tempo. A doença que pretendem combater evolui e torna-se resistente àquilo que costumava funcionar.

A vacina contra a gripe muda todos os anos com base nas estirpes de gripe mais prevalentes. As estratégias de investimento devem fazer o mesmo.

Benjamin Graham publicou diversas edições de “O Investidor Inteligente”. Em cada nova edição, Graham substituiu as velhas fórmulas por outras que funcionavam melhor. Isto não foi um erro ou uma tentativa de o disfarçar. Uma boa estratégia atrai atenção e essa atenção pode eliminar oportunidades num instante.

A citação de Jim Grant – “o sucesso no investimento é toda a gente concordar contigo... mais tarde.” – tem muita sabedoria. Uma determinada métrica pode influenciar-nos, mas não fará qualquer diferença a menos que muitos outros investidores decidam também ser influenciados por ela. O mais difícil é que as coisas a que os investidores prestam atenção e concordam, mudam ao longo do tempo.

Houve uma altura que o rácio Preço/Valor contabilístico era o que importava mais. Depois os dividendos eram supremos. Depois lucros por ação (PER). Este rácio foi popular durante um largo período de tempo. Ao longo da última década, é a Marca e talvez o crescimento das receitas. Tudo o que acontece para além destas métricas tem pouco significado.

A dificuldade está em encontrar o equilíbrio entre o que é intemporal (e a que devemos dedicar paciência) e o que expirou (e deve ser descartado). Se tivéssemos uma resposta fácil, estaríamos todos na praia.

Lei 11: A evidência mais convincente é aquela que queremos que seja verdade e/ou o que vivenciamos pessoalmente.

Um bom investidor vira muitas pedras até encontrar algo especial. Mas o especial é subjetivo. O que nós achamos espantoso pode ser entediante para outra pessoa. As coisas especiais que descobrimos não são pepitas de ouro, com um valor de mercado facilmente quantificável. O especial está nos olhos de quem observa e, por cauda da Lei 10, o truque está em fazer com que os outros vejam também. Por exemplo, as ações de valor. São amadas por muito e, por definição, detestadas por outros. A nossa história contra a deles.

O “Especial” é definido por uma história e o escritor dentro da nossa cabeça vence todos os prémios Pulitzer. A história que nos soa melhor é tipicamente:

  • O que queremos que seja verdade. Os incentivos para estar correto no investimento são tão grandes que é difícil pensar claramente sobre a nossa análise sem nos distrairmos com as recompensas potenciais. Prevendo o tempo, utilizamos as roupas certas. Prevendo os investimentos certos, podemos reformar-nos na praia. Altos ganhos potenciais dão azo a uma lógica nebulosa porque nos incentivam a querer desesperadamente que algo seja verdade mesmo que não o seja.
  • O que vivenciamos pessoalmente. Familiaridade é, dentro do nosso cérebro, equivalente a precisão. As duas são muito difíceis de distinguir. Eventos vivenciados pessoalmente são muito mais realistas do que aqueles acerca dos quais lemos. Dois investidores, igualmente inteligentes e com os mesmos dados, podem chegar a duas conclusões opostas guiados apenas pelas diferenças nas suas experiências de vida. Evidências que não queremos que sejam verdadeiras ou que não tenhamos vivenciado podem ser, obviamente, persuasivas. No entanto, a quantidade de reforço que sentimos quando queremos que a história seja verdadeira, ou quando a vivemos em primeira mão, é fácil de subestimar.

Lei 12: O fosso entre o timing das oportunidades de investimento e a fé num gestor de investimentos influenciará as decisões de investimento profissionais.

Um lamento comum a muitos gestores de investimentos é que os investidores se focam em demasia no curto prazo, resgatando os seus fundos após alguns trimestres de má performance e neutralizando o investimento a longo prazo do gestor.

É fácil, numa situação destas, culpar o investidor e acusá-lo de ter vistas curtas e ser emocional. Por vezes, isto é verdade. Frequentemente, no entanto, existe uma boa razão pela qual os investidores não se alinham com o horizonte temporal do gestor.

Os gestores de investimentos tentam encontrar oportunidades para retornos acima da média no longo prazo. Os investidores que colocam dinheiro nesses fundos tentam determinar se o gestor possui a rara habilidade para conseguir esses retornos. Estes objetivos são coisas muito diferentes.

Um gestor encara um período de performance mais fraca como uma pausa inevitável. Mas o investidor pode vê-lo como prova de falta de capacidade. E quem pode culpar o investidor dadas as performances horríveis da maior parte dos fundos? A diferença entre “temporariamente desfavorecido” e “o sucesso passado foi sorte/marketing” muitas vezes só se reconhece passados muitos anos. Os investidores de fundos que se mantêm pacientes durantes anos podem parecer irrazoáveis – até displicentes – quando as probabilidades de a performance passada do gestor não ter sido mais que sorte ou então já não é válida (ver Lei 10).  Não creio que se possa culpar o gestor ou o investidor. Na maior parte do tempo, ambos têm boas intenções, mas estão a tentar fazer coisas diferentes com dados limitados. (É por isso que uma comunicação clara é essencial.)

Mas esta realidade pode empurrar os gestores para um horizonte temporal mais curto para poderem manter os investidores felizes e manterem os seus empregos. Há um ditado na gestão de fundos: “Prefiro perder metade dos meus clientes do que metade do dinheiro dos meus clientes”. É mais nobre e mais fácil tweetar do que fazer.

Lei 13: Os erros de diagnóstico criam uma tendência para a ação numa área em que a primeira regra do juro composto é nunca o interromper desnecessariamente.

É fácil ver se o nosso carro está avariado. Se dermos à chave e o motor não pega, algo está errado. Talvez não saibamos o que está errado, mas é preciso fazer algo se queremos utilizar o carro. Não há ambiguidade.

Mas como se diagnostica um portólio?

Se não tem uma performance positiva durante um ano, está avariado.

Talvez. Ou então talvez seja uma questão de volatilidade.

Dois anos? Ainda é difícil de dizer. Talvez as ações que o compõem não estejam nas graças do mercado.

Três? Quatro? Cinco? Ainda não se sabe. “Tempestade perfeita” …

Quando estão garantidos períodos de má performance e de volatilidade, é difícil diagnosticar se a nossa estratégia de investimento está avariada ou se precisa apenas de paciência. A maior parte das coisas na vida não é assim. A maior parte das coisas são como os carros – não existe qualquer ambiguidade.

A dificuldade no diagnóstico de problemas no nosso portfólio cria um incentivo à ação porque não fazer nada quando algo pode estar errado parece irresponsável. E a ação tende a repelir a performance potencial, uma vez que quando mais botões premirmos, mais probabilidades temos de estragar tudo e mais somos obrigados a depender dos movimentos de curto prazo que são mais influenciados por alterações no sentimento dos investidores do que por alterações nos dados fundamentais.

Lei 14: A especulação é racional porque eventos de baixa probabilidade podem ser enormemente compensadores quando se envolvem enormes somas de dinheiro e alavancagem.

Se formos investidores de longo prazo, podemos encarar a cacofonia do trading diário como se fosse um desfile de cowboys inumerados. As nossas opiniões são confirmadas se consultarmos os resultados dos traders.

Por que motivo deveríamos apostar se uma determinada empresa bate os resultados trimestrais?

Ou se os futuros do sumo de laranja cairão na próxima semana?

Ou quando ocorrerá a próxima recessão?

Serão estas pessoas loucas?

Às vezes, sim. No entanto, se for esta a nossa conclusão final, perdemos um ponto importante: A forma correta de olhar para os retornos é via valor expectável – recompensa X probabilidade. E a recompensa por estar correto no investimento pode ser tão grande que faz com que apostar em eventos de baixa probabilidade se torne racional.

Apostar em eventos de baixa probabilidade não é sinal de inumeracia; esperar que todos ignorem um evento com 1% de probabilidade de acontecer, mas que oferece uma recompensa que muda a vida é um sinal de inumeracia.

Quando vastas quantidades de dinheiro e alavancagem estão disponíveis, as barreiras racionais à especulação deixam de ser as probabilidades de sucesso em determinados eventos e passam a ser os custos de transação e a liquidez. Reduzam essas barreiras e fará sempre sentido especular em ideias que parecem loucas e quase impossíveis.

Lei 15: Comportamento > Análise, porque um não pode ser ensinado e o outro sim.

Para a maior parte dos investidores de há apenas uma geração atrás, saber mais sobre novos investimentos significava ir à biblioteca e esperar que existisse algum relatório anual disponível com menos de um ano de idade. A forma como as coisas mudaram e a velocidade com que o fizeram é inacreditável.

A maior parte das pessoas é capaz de conseguir saber mais sobre a saúde da Goldman Sachs do que da sua própria saúde, dada a quantidade disponível de informação gratuita e centralizada. “Todos podem saber tudo” pode ser um exagero, mas é nessa direção que caminhamos.

O lado comportamental do investimento – medo, ganância, impaciência, excesso de confiança – é diferente.

A sua popularidade disparou, mas não é como a informação que pode ser disseminada e aprendida. A informação é influente, mas o cortisol e a dopamina são autoritários. E muito do que impulsiona o comportamento no investimento está profundamente entranhado na personalidade e na experiência pessoal – e isto não é algo que possa ser facilmente ensinado.

O lado comportamental do investimento será sempre muito mais importante do que o lado analítico. Um bom comportamento e má informação pode, ainda assim, funcionar, mas toneladas de informação misturados com mau comportamento é um rastilho aceso.

Estou convicto que 10% da população não necessita de ajuda para investir. Nasceram com um entendimento intuitivo. Outros 10% não podem ser ajudados. São jogadores compulsivos e sempre o serão.

Lei 16: Uma atração pelo investimento/entretenimento porque o dinheiro é um produto universal com histórias de eventos extremos e emoções facilmente manipuláveis.

Um furacão que avança em direção à Florida não coloca em risco direto 92% dos americanos. Mas uma recessão que ameaça a economia pode impactar todas as pessoas, muitas delas profundamente.

Tirando a saúde, o dinheiro é o único tópico que é relevante para todos, quer queiramos ou não. Por isso, muitas pessoas prestam atenção a, e discutem, grandes histórias que, por sua vez se espalham a ainda mais pessoas, à medida que as opiniões são partilhadas e mais histórias são contadas.

De volta à Lei 9, eventos extremos: Existirão sempre histórias de sucessos e falhanços extremos, apresentados de uma forma que nos faz sobrestimar a sua prevalência e subestimar a sua complexidade. Portanto, as histórias são frequentemente extremas, fazendo com que sonhemos com desfechos enormes ou nos preocupemos com desfechos terríveis, mais do que as histórias justificam.

O dinheiro é emocional porque estamos a lidar com a nossa capacidade de nos reformarmos, pagar a educação dos filhos e o nosso bem-estar em geral. Ameaças e oportunidades potenciais são assim exageradas e ampliadas.

Isto tudo resulta no seguinte: o investimento é uma área em que o marketing, entretenimento, luzes que piscam, gráficos bonitos e histórias épicas capturam a nossa atenção de uma forma que, por exemplo, a meteorologia não consegue.

Lei 17: A humilde matemática da poupança, comissões e impostos.

"Poupe um pouco de dinheiro todos os meses e, no fim do ano, ficará surpreendido com o pouco dinheiro que conseguiu juntar.” Não me recordo quem disse isto, mas é verdade. É dolorosamente fácil esquecer isto porque poupar é simples e dá trabalho, enquanto que investir é excitante e pode dar a impressão de não exigir qualquer esforço. A poupança pode ser mais valiosa que os retornos dos investimentos porque ela está mais sob o nosso controlo.

Outra verdade intemporal: as comissões e impostos reduzem os retornos em 100% do seu montante. Todos sabem isto, mas se compararmos o esforço que é despendido na procura de ganhos no investimento enquanto que se ignoram comissões e impostos, concluímos que saber algo e fazer alguma coisa sobre isso são coisas bem diferentes.

O escritor russo, Fyodor Dostoyevsky escreveu sobre as leis naturais:

“A natureza não pede a nossa autorização, não quer saber dos nossos desejos e, quer gostemos ou não das suas leis, somos obrigados a aceitá-la tal como é e, consequentemente, todas as suas conclusões”.

Assim é com todas as leis em todas as áreas do conhecimento, incluindo o investimento.

 


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