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Autoria
Jeremy Grantham
Jeremy Grantham

Originalmente publicado a 30 de outubro de 2020 no site da GMO

SUMÁRIO EXECUTIVO

Para enfrentar a crise climática, o mundo precisa urgentemente de novas infraestruturas nos setores da energia, transporte e indústria. A combinação de um crescimento económico anémico, o aumento das desiguladdaes, taxas de juros negativas e o impacto económico do Covid-19 faz com que este momento seja o mais adequado em décadas para que a próxima administração dos Estados Unidos lance um abrangente programa fiscal que responda a estas necessidades. Este programa fiscal ajudaria o clima, a economia e, no longo prazo, até a vantagem geopolítica dos Estados Unidos.

COVID-19, ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS E A NECESSIDADE DE UM NOVO PLANO MARSHALL

Ao longo dos últimos 50 anos, as economias do mundo desenvolvido têm vindo a perder dinamismo e o crescimento do PIB do mundo desenvolvido caiu de mais de quatro por cento anuais para menos de 2 por cento anuais (imagem abaixo). Até mesmo este ritmo mais lento de crescimento está ameaçado por problemas de longo prazo decorrentes das alterações climáticas e problemas de curto prazo – Covid-19 – com efeitos a chegar a 2022, e mais além, para alguns subsetores económicos.

As mudanças resultantes do teletrabalho são difíceis de prever, mas, no pior dos casos, poderão esmagar os preços dos imóveis comerciais e, muito possivelmente, também os preços dos apartamentos nas cidades.

Destes problemas, é o mal-estar de longo prazo o que mais me preocupa. Acredito que a desigualdade de rendimentos está a corroer a economia por dentro com a ausência de progresso económico para os trabalhadores a reduzir a procura. Nos EUA, isto está a ser compensado, temporariamente, e até certo ponto, pela explosão de curto prazo de um pequeno conjunto de novas empresas disruptivas do tipo FAANG.

É aqui, no entanto, que deve entrar em ação uma solução mágica: precisamos de um programa de obras públicas longo, sustentado e massivo – uma segunda vinda do Plano Marshall – para chocar os EUA e a economia global para algumas décadas de crescimento acelerado. O problema é que grande parte do mundo perdeu o ânimo após a crise financeira porque está desnecessariamente preocupado com os níveis de endividamento.

Sempre acreditei que o significado da dívida é muito exagerado. Isto é contabilidade de dupla entrada. Para cada dólar devido, há um credor a quem é devido. E se estamos preocupados com a liquidez, então é claro que é a cobertura de juros que conta e as taxas de juros reais negativas de hoje para empréstimos sem risco, mesmo para longas maturidades, fazem com que este seja um momento muito vantajoso para governos e empresas pedir dinheiro emprestado e investir. No entanto, muitos deles agem como se estivessem intimidados pelos rácios de dívida, em oposição à cobertura dos juros.

 Agora enfrentamos a ameaça económica de curto prazo do Covid-19 e a ameaça de longo prazo das alterações climáticas (embora o seu impacto de curto prazo, sob a forma de incêndios e inundações também já se fazem sentir). Temos um incentivo claro, eu diria até um imperativo, para levar a cabo um programa de obras públicas massivo e sustentável.

O grande desperdício em 2009 e 2010 nos EUA foi a alocação de recursos preciosos para resgatar bancos, mesmo aqueles que fizeram grandes apostas e perderam. Eles não estavam simplesmente com problemas de liquidez, como numa clássica “corrida aos bancos”: estavam insolventes. Resgatá-los foi injusto e economicamente ineficiente; foi uma violação do espírito do capitalismo. Desta vez, precisamos que ass infraestrutura dominem o programa.

E que melhor altura para fazer isto do que agora, por dois motivos. Primeiro, nos EUA, as nossas infraestruturas atuais encontram-se excecionalmente atrasadas na sua manutenção e são, em termos de qualidade, abaixo da média. Em segundo lugar, é absolutamente essencial que toda a economia seja verde se desejarmos ter qualquer esperança de manter uma civilização global estável nos próximos séculos. Isto vai exigir dezenas de biliões de dólares, ao longo de várias décadas, globalmente. As boas notícias é que o investimento em infraestruturas, especialmente as infraestruturas sustentáveis, rendem um retorno no investimento respeitável, tanto quanto os olhos podem ver. Se financiados com taxas reais negativas, é a maior pechincha de todos os tempos. Mesmo que prejudique algumas atividades comerciais na margem, continua a ser uma pechincha, uma vez que o PIB atual consegue apenas um baixíssimo retorno social de longo prazo. E dada a procura atualmente deprimida, este efeito de exclusão deverá ser pequeno.

Um programa inspirado no Plano Marshall ajudaria a lidar com a crescente desigualdade.

Os trabalhadores típicos - como estamos todos a começar a perceber - foram deixados para trás, desde meados da década de 70. Grande parte dos gastos com as novas infraestruturas seriam industriais e com mão de obra intensiva. Isto teria o mesmo efeito que um enorme onshoring de manufatura, criando centenas de milhares de empregos e aumentando os salários da mão de obra qualificada e não qualificada. (Embora, dadas as alterações que vivemos na economia, a requalificação da mão de obra, continua a ser uma prioridade.)

Isto ajudaria também a desafiar o crescente domínio da China na energia e nas tecnologias industriais do próximo século. Se as tendências atuais se mantiverem, esse domínio poderá tornar-se inexpugnável. A título de exemplo, os EUA têm 400 autocarros elétricos, enquanto que a China tem 400.000! A energia e indústria verdes não serão apenas economicamente importantes nas próximas décadas, mas, tal como o petróleo o foi antes, serão geopoliticamente essenciais. Um novo programa de infraestruturas ajudaria os EUA – apesar de tudo, ainda o país mais país inovador do mundo – a diminuir o avanço da China.

As infraestruturas verdes não apenas produzem um bom retorno, impulsionam o avanço da economia e ajudam a diminuir as desigualdades, mas também ajudam a criar um ambiente onde os EUA podem, pelo menos, competir com a China pela liderança daquelas que serão as indústrias dominantes de 2050. E, acima de tudo, proteger-nos-ão contra a escalada de custos resultantes do insucesso no controlo das alterações climáticas que, na pior das hipóteses serão incalculáveis – a desintegração de uma sociedade global razoavelmente estável. Esta é a hora. Vamos em frente.


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