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Artigo da autoria de Morgan Housel, originalmente publicado no blog Collaborative Fund, em 16 de março de 2020

Duas coisas que sabemos com grande confiança

O Desconhecido excede o Conhecido mesmo no melhor dos tempos

Atualmente, isto aumentou exponencialmente.

Ninguém pode esperar que a sua capacidade para prever o próximo ano seja melhor que a sua capacidade de prever o ano passado. A velocidade da mudança ancora a precisão das previsões, por isso o resto do ano torna-se uma mancha quando não sabemos que novas políticas podem ser implementadas nas próximas horas.

A melhor coisa a fazer nestas situações é não atualizar constantemente as nossas previsões com a nova informação que está permanentemente a chegar. Não é possível acompanhar o ritmo. Ao invés, foquemos a nossa atenção nas poucas coisas que sabemos, com um alto grau de confiança, serem verdadeiras independentemente do que aconteça.

Eis duas:

1. A necessidade é mãe da invenção, por isso a nossa disponibilidade para resolver problemas está prestes a acelerar.

O capitalismo funciona porque o lucro é um incentivo a fazer sempre melhor. Quando o incentivo é a sobrevivência – literal ou financeira – essa força entra em alta rotação.

“A energia em excesso libertada pela reação em excesso aos obstáculos é que cria a inovação!”, escreve Nassim Taleb.

Vejam a Grande Depressão. O economista Alexander Field escreveu que “os anos 1929-1941 foram, no agregado, os mais tecnologicamente progressivos de qualquer período comparável na história económica dos estados Unidos”. O crescimento da produtividade foi duas vezes mais rápido nos naos 30 do que na década anterior.

Os anos 20 foram a era do ócio porque as pessoas se podiam dar ao luxo de relaxar. Os anos 30 foram a era de frenética resolução de problemas porque as pessoas não tinham outra opção.

A Grande Depressão trouxe dor financeira inimaginável. Trouxe-nos também supermercados, micro-ondas, protetor solar, jatos, foguetes, microscópios eletrónicos, gravações magnéticas, nylon, fotocópias, teflon, helicópteros, televisões a cores, plexiglass, avaliação comercial, a maior parte dos plásticos, borracha sintética, lavandarias e inúmeras outras descobertas.

O mesmo aconteceu com a Segunda Guerra Mundial, que é responsável pelo maior risco e pela maior rapidez criativa de qualquer período de seis anos na história da humanidade. A guerra começou com soldados acavalo e terminou com a cisão do átomo.

Escrevendo em 1952, o historiador Frederick Lewis Allen descreve a erupção de progresso científico que irrompeu durante a guerra:

“O que o governo dizia constantemente durante a guerra era, de facto: esta descoberta ou aquela poderão ter alguma aplicação militar? Se sim, então desenvolvam-na e ponham-na em uso e que se dane a despesa!”

A guerra deu origem a tudo desde a penicilina ao radar até à energia nuclear. Todas estas ideias tinham já sido, de uma forma ou doutra, descobertas, pelo menos no papel, antes da guerra. Mas a urgência de vida ou de morte da situação impulsionou o aperfeiçoamento e aplicação rápida, nalguns casos gerando, em poucos meses, o tipo de avanço tecnológico que poderíamos esperar ocorresse numa geração.

As inovações mais importantes nasceram de uma necessidade induzida pelo pânico e não de tempos confortáveis. Isto é verdade há muito tempo e posso dizer com um alto grau de confiança que é verdade hoje.

2. A preocupação excederá o prejuízo real, o que é simultaneamente trágico e, de certa forma, confortante.

Mais pessoas se preocupam em adoecer gravemente do que as que realmente ficam gravemente doentes.

Mais pessoas se preocupam em ser despedidas do que as que realmente são despedidas.

Mais negócios se preocupam em ir à falência do que aqueles que vão realmente à falência.

É sempre assim.

A convulsão começa habitualmente com complacência e eventualmente transforma-se em reação excessiva. As duas são faces opostas da mesma moeda: é mais fácil assumir que algo vai acontecer do que calmamente calcular as probabilidades do que pode acontecer. É também fácil calcular mal as probabilidades quando as consequências são extremamente boas ou extremamente más.

Quando sobe, é divertido sonhar com as recompensas (os mercados vão continuar a subir), por isso é confortante assumir que elas vão mesmo acontecer. A mesma coisa acontece na outra direção – as consequências são tão gravosas (pessoas que eu conheço morrerão? Vou perder o emprego?) que assumimos que vão acontecer coisas más e começamos a preparar-nos.

Preocupação que excede o prejuízo real é trágico porque, em retrospetiva, origina mais sofrimento do que é necessário.

É também, de certa forma, reconfortante porque sabemos, com um elevado grau de certeza, que chegaremos a um ponto em que a pessoa média olha em volta e diz, “Meu Deus, não posso acreditar que isto está tão mau” e um ano depois, olha para trás e pensa, “Não devia ter acreditado, porque nunca ficou assim tão mau”.

Talvez estejamos nesse ponto, talvez demore mais um pouco. Mas, em retrospetiva, vamos chegar à conclusão que atingimos um ponto em que o pessimismo foi longe demais.

 


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