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Autoria
John Rekenthaler
John Rekenthaler

Artigo de John Rekenthaler, originalmente publicado, no dia 4 de maio em Morningstar.com

O Mercado de Ações não é a Economia

E o que é mais, os dois estão a afastar-se cada vez mais.

Boas Notícias, Más Notícias

Em 1982, a taxa de desemprego começou o ano alta e acabou ainda mais elevada. Entrou no ano a 8,6% e concluiu-o nos 10,8%, o seu nível mais elevado desde a Grande Depressão. Aquela foi a primeira vez em que prestei atenção às estatísticas do emprego, uma vez que estava a aproximar-se a data do fim do curso e, confesso, estava muito preocupado. (E tinha razão para isso: só consegui um emprego a tempo inteiro no verão de 1984.)

Para minha grande surpresa, as ações subiram bastante em 1982. O S&P500 ganhou 21,6% no ano, bem acima da média histórica. Isto não fazia qualquer sentido para mim. Não só o desemprego estava a subir, mas também o produto interno bruto ajustado caiu em todos os trimestres de 1982. Os media chamavam-na “A Recessão Reagan”. (Só mais tarde cheguei à conclusão que os presidentes não causam nem quedas nem subidas.)

O que eu não sabia, porque nessa altura não era investidor, é que os preços das ações apenas estão tenuemente ligados às condições económicas gerais. Por um lado, as ações antecipam os desenvolvimentos futuros e não se concentram nas condições atuais. Por outro, nem as estatísticas de emprego nem o crescimento do PIB influenciam diretamente os preços das ações. Os principais motores são dois conjuntos de expetativas: 1) os lucros futuros e 2) as taxas de juro futuras, com estas utilizadas para descontar aqueles.

Desconectados

Aprendi, mais tarde, que é difícil encontrar até uma relação indireta entre a taxa de crescimento do PIB de um país e os retornos futuros do seu mercado de ações. Os Professores da London Business School, Elroy Dimson, Paul Marsh e Mike Staunton, no mais citado dos seus estudos, encontraram uma correlação negativa entre o crescimento do PIB per capita e a performance das ações. (quando se substitui o crescimento do PIB per capita por crescimento agregado, a correlação torna-se ligeiramente positiva.)

Na teoria, a expansão faz flutuar os “barcos” empresariais. Na prática, muito fatores influenciam se o sucesso da economia em geral chega aos lucros das empresas. Os administradores das empresas podem desperdiçar a sua boa fortuna ao tomar más decisões de investimento. Os trabalhadores poderão ser eles a receber os ganhos, através da inflação de salários. Ou podem ser os governos a gozar os benefícios, através da corrupção ou impostos excessivos. A economia não é o mercado de ações.

Este ano está a reforçar esta lição de forma poderosa. Oficiosamente, o desemprego está muito acima do máximo de 1982, embora os números oficiais estejam mais baixos, uma vez que os trabalhadores que estão em lay-off, mas que esperam regressar às suas posições não são contabilizados. Com - 4,8%, a queda do PIB do primeiro trimestre foi mais pronunciada do que qualquer uma registada em 1982 e, obviamente, isto ainda está no início. Prevê-se uma queda de 30% do PIB para o segundo trimestre.

As ações, no entanto, estão a subir mesmo apesar da deterioração das notícias económicas. (Quando os preços das ações começaram a subir em março, o consenso para o PIB do segundo trimestre era de uma diminuição de 18%. Desde essa altura, os preços das ações subiram e as previsões pioraram.)

Poucos e Muitos

Com certeza que as manchetes não contam a história toda. O S&P500 recuperou tão poderosamente que a queda de 12% desde o início do ano se torna pouco memorável, se ignorarmos a rapidez do percurso. Entretanto, os índices de empresas mais pequenas caíram o dobro e os índices de valor mais pequeno, que representam o maior número de empresas listadas, caíram 30%. Estes são resultados verdadeiramente pobres.

No entanto, dado que as grandes empresas representam cerca de 80% da capitalização do mercado de ações americano, a sua performance reflete a experiência da maioria dos investidores. E essa experiência é relativamente benigna se comparada com a economia em geral. Dois fatores adicionais enfraqueceram a ligação, já de si, ténue. Um é a cada vez maior divergência entre as empresas que “têm” e as que “não têm”. O outro foi a agressiva intervenção do governo federal.

Enquanto que muitos negócios estão a debater-se com graves dificuldades, um punhado prospera. Este facto não se reflete apenas na diferença entre a performance dos índices de grandes e pequenas empresas, mas também na disparidade entre empresas cotadas ou não. Uma vez que as empresas cotadas operam a nível nacional (ou até internacional), tendem a ser tecnologicamente mais capazes e por isso, mais bem posicionadas para competir nestes tempos de distanciamento social. Os negócios locais, em contraste, são, mais provavelmente, negócios físicos que são particularmente afetados pelas restrições aos movimentos.

Por outras palavras, o facto de milhões de trabalhadores terem sido dispensados por negócios locais – ou nacionais em indústrias devastadas pelo vírus – tais como hotéis ou linhas aéreas – é relativamente imaterial para os líderes do mercado de ações. Desde que os lay offs não causem um efeito de dominó, em que os problemas económicos em geral afetam as suas receitas, os preços das ações podem, logicamente, subir mesmo que outros negócios vão à falência.

Mais Uma Vez, o Seguro do Fed

Isto eu sabia há seis semanas. O que não sabia é que o efeito dominó, pelo menos até à data não iria acontecer. Uma razão para isto é a relativa saúde dos bancos, que evitou o pânico financeiro que arrasou o mercado de ações em 2008. Bancos felizes não significam sempre preços de ações felizes, mas bancos infelizes levam inevitavelmente à infelicidade. A outra explicação, no entanto, reside, não no mercado, mas sim nos seus supervisores: o governo federal tem sido muito generoso.

Tanto a Reserva Federal como o Congresso, através da legislação CARES, fizeram chover dinheiro na economia. Estas iniciativas ajudaram a preservar o poder de compra do consumidor. Adicionalmente, encorajaram os investidores em ações ao demonstrarem que ambos os partidos – não tem havido desacordos de maior em ambos os lados da bancada – gastarão o que fizer falta para manter uma aparência de normalidade.

A intervenção do governo é a nova versão atualizada do “Seguro do Fed”: a noção que a Reserva Federal poderá suportar os preços das ações, sempre que o queira, cortando as taxas de juro. Essas taxas estão agora a zero, por isso este jogo já não pode ser jogado. Mas a Reserva Federal pode continuar a utilizar a sua nova técnica de comprar obrigações no mercado aberto e inundar os bancos com liquidez e o Congresso pode continuar a aprovar novos pacotes de estímulos. E provavelmente farão isso mesmo.

Falta ver se esta atividade beneficiará mais os investidores que os trabalhadores. Até agora, sim. 

 

 

 


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