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Autoria
CH
Charles Handy

Artigo publicado originalmente na revista Resurgence em junho de 1996.

O Paradoxo do Crescimento

Uma sociedade devotada ao crescimento pode tornar-se uma sociedade escravizada por descontentes, mas uma sociedade sem crescimento é uma sociedade sem iniciativa.

Para mais pessoas terem acesso às coisas boas da vida, tem de existir crescimento da economia. Aqueles que sonham com uma sociedade sem crescimento estão a querer ignorar as consequências. Lagos com águas estagnadas ficam fétidos. O dinheiro é viscoso, se deixado à sua sorte. Não se alastra, apega-se. Sem crescimento, a riqueza disponível tenderia a concentrar-se indesejavelmente em pequenos aglomerados, criando guetos de ricos e de pobres. Precisamos da dinâmica do crescimento para manter os bens em circulação, dando oportunidade àqueles que nada têm de deitar a mão a algo, sem terem de o arrancar a quem o tem.

O paradoxo é que enquanto o crescimento cria oportunidade, o crescimento é frequentemente alimentado pela inveja. A produção é fomentada pelos desejos dos consumidores. Quando temos tudo aquilo de que necessitamos, o crescimento deixa de existir a menos que nos orientemos para o que queremos, mas não precisamos necessariamente e tendemos a querer o que os outros têm e nós não. Isto começa a cultivar uma economia de coisas inúteis – aquilo a que os japoneses chamam “chindogu”

[…]

Mais seriamente, talvez, uma economia alimentada pela inveja cria uma sociedade condenada à insatisfação, uma sociedade em que muito poucos vão experienciar o “bem estar”, porque haverá sempre coisas que os outros têm que muitos vão cobiçar, em que a oferta de “bens de estatuto”, valorizados pela sua escassez, vão sempre, por definição, ser menos abundantes que a procura dos mesmos.

[…]

O primeiro passo para a liberdade pessoal é a definição de “suficiente”: dinheiro suficiente, coisas suficientes, progressão profissional suficiente, reputação profissional suficiente. Se não sabe o que é “suficiente”, então quererá sempre mais e, por definição, nunca estará satisfeito, ou livre para fazer outra coisa qualquer, porque nunca saberá o significado de “mais do que suficiente”. […] Cada um de nós tem de descobrir qual o nosso nível aceitável de pobreza, a nossa definição pessoal de “suficiente”, se queremos obter o máximo da nossa vida.

Um limite superior para “suficiente”, no nosso próprio interesse, tem de ser equilibrado com um limite inferior para os outros. Se “mais do que suficiente” é desnecessário, “menos do que suficiente” é intolerável, e deveria ser reconhecido como tal por uma sociedade decente. Equilibrar as duas definições de suficiente, a superior e a inferior, manteria o crescimento mas distribuiria a riqueza de uma forma mais equitativa.

[…]

A única coisa, acredito eu, que nunca podemos ter o “suficiente” é melhoria – melhor saúde, melhor educação, melhor qualidade de vida, melhores contribuições para o mundo à nossa volta. Não existe, por isso, qualquer limite que consiga ver à expansão benéfica destes serviços “bons para si”, desde que não se convertam numa nova forma de consumismo. […] Desde que tenhamos cuidado com este aspeto, podemos encorajar o crescimento na parte de serviços da economia sem criar um mundo de inveja, porque não há razão pela qual toda a gente não devesse ser mais saudável, saber mais ou ser mais bem tratada. Não é um jogo de soma nula, mas um em que todos ganham.

[…]

Se queremos restaurar a alma da nossa sociedade, temos de repensar os nossos indicadores económicos e adotar a doutrina do Suficiente. Paradoxalmente o resultado final será não menos crescimento, mas mais crescimento, e eu acredito, melhor crescimento porquanto mais amplamente partilhado.

 


Artigo completo na versão original: link 

Créditos da foto: Edward Howell em Unsplash


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