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A propósito das perspetivas económicas e políticas para 2019, o jornalista e analista financeiro David Almas colocou algumas questões à CEO da Casa de Investimentos. Abaixo, reproduzimos as respostas de Emília Vieira, parte delas incluídas no artigo "Tempestade à vista em 2019?", na edição de janeiro da Revista Exame.

1. O Fundo Monetário Internacional estima um crescimento económico mundial de 3,7% em 2019. Quais são as duas maiores ameaças ao crescimento económico e aos mercados financeiros em 2019? Porquê?

As duas questões que têm dominado os mercados nos últimos tempos são a guerra comercial, sobretudo entre os Estados Unidos e a China e a subida de taxas de juro nos Estados Unidos. Não me parece que este nível de taxas constitua qualquer ameaça ao crescimento económico nesta altura. No entanto, não se pode dizer o mesmo da guerra comercial.

Não há dúvida que os benefícios do comércio livre para o progresso mundial são enormes, desde logo, para a mais eficiente alocação de recursos, para a inovação, para as lutas que temos que fazer juntos como as grandes alterações climáticas ou o combate à pobreza em muitos países.

De tempos a tempos existirão tensões entre os principais países e isso acontece sempre que um quer tomar vantagem e ganhar mais que os outros. Contudo, numa situação em que todos ganham, como é o comércio livre, o entendimento entre os países é inevitável para que não se sacrifique a prosperidade mundial. É contra o interesse de todos e por isso, os Estados Unidos e a China, como dois dos maiores beneficiários, estão condenados a entenderem-se. Julgo que é o que acontecerá.

Esta questão tem condicionado os mercados financeiros, sobretudo a cotação em bolsa das empresas mais exportadoras. 

Para nós, investidores em valor, tem sido uma oportunidade para alocar capital a empresas excecionais, algumas das melhores marcas do mundo e líderes de inovação e criação de riqueza para os acionistas.

Os mercados transacionam a múltiplos abaixo das médias históricas e com excelentes oportunidades para os investidores pacientes.

As previsões, sejam do FMI ou outros, são sempre distrações muito caras para os investidores. A prazo, as notícias sobre os mercados financeiros serão positivas. Basta olhar para os últimos 100 anos e para os eventos extraordinários que aconteceram: guerras mundiais, conflitos locais, a grande depressão, recessões e outros eventos dispendiosos. Os investidores teriam ficado melhor se se concentrassem nas variáveis que conseguem controlar.

Na Casa de Investimentos, analisamos as oportunidades à medida que elas surgem e tentamos perceber as perspetivas de longo prazo do negócio. Preferimos concentrar-nos no que o ativo vale, na riqueza que produz e nos cash-flows que receberemos no futuro. Não fazemos qualquer julgamento quanto à direção do mercado com base em fatores macroeconómicos. Simplesmente não faz diferença.

2. A União Europeia enfrenta vários desafios (Brexit, orçamento italiano, por exemplo), além de estimativas mais baixas de crescimento do que os EUA, segundo o FMI. Os investidores portugueses devem privilegiar os EUA em vez da Europa?

O futuro é sempre incerto e ocorrerão sempre eventos inesperados. Estes assuntos têm dominado os mercados e, por essa razão, as cotações atuais refletem já estas questões e a incerteza que originam para os negócios. A incerteza e o pessimismo produzem preços baixos e os investidores devem aproveitar essas oportunidades para comprarem muito valor a desconto. Dito isto, entendo que a volatilidade das cotações os incomode e assuste.

Nos últimos oito anos, vivemos uma longa série de eventos desta natureza. O que fizemos, e que produziu bons resultados, foi concentrarmo-nos no Valor, na qualidade dos negócios que tínhamos ou queríamos comprar, na capacidade dos seus gestores alocarem capital e aumentarem as vantagens competitivas destes negócios e no desconto a que os queríamos comprar face à nossa estimativa de valor. Aproveitamos essas oportunidades para comprar estes títulos a cotações mais atrativas. Esta, para nós investidores em valor, é a abordagem que faz sentido para sermos bem-sucedidos a longo prazo.

Analisamos os investimentos individualmente e, muito embora nos foquemos sobretudo nos Estados Unidos e na Europa, não tomamos decisões de alocação de capital seguindo tendências ou o que é popular. Grande parte das empresas em que investimos vendem os seus produtos e serviços em todo o mundo e por isso, têm as suas receitas e os seus lucros diversificados por muitas geografias. Esta é a melhor forma de minimizar os riscos.

3. Quais são as duas principais pessoas que os investidores devem acompanhar em 2019? Porque são importantes?

É uma pergunta muito interessante. 

Um investidor tem que conviver todos os dias com opiniões contrárias. Quando compramos, alguém está do outro lado a vender. Por isso, devemos ter cuidado com os processos que usamos para formar a nossa opinião e estar alerta para os vieses comportamentais que todos temos e que são o maior entrave ao sucesso dos investidores, profissionais ou não.

Na Casa de Investimentos, consideramos que é importante ter um conhecimento muito vasto da história financeira, de como o sistema financeiro opera e estudar profundamente as empresas que avaliamos, os setores em que se inserem e as suas dinâmicas competitivas. Neste processo, é também importante saber o que fazem os melhores investidores do mundo, os que têm os interesses dos Clientes e acionistas no coração e que têm históricos de décadas a criar riqueza com consistência e transparência. Há um bom grupo de investidores excecionais que gostamos de acompanhar e saber em que investem e porquê, o que vendem e porquê.

Tendo que escolher apenas dois nomes, continuaria a seguir Warren Buffett e o seu sócio Charlie Munger. Destilam sempre sabedoria intemporal com a qual todos ganhamos imenso. É uma questão de bom senso e isso parece que não é comum.

4. Em algumas grandes economias, em particular a dos Estados Unidos, as curvas de rendimentos parecem estar a achatar. Depois de vários anos de taxas muito baixas, isso é preocupante para a economia e para os investidores?

Quando acontece alguma coisa nos mercados, em vez de se questionar se faz sentido, se existe lógica por trás daquela reação, arranjam-se explicações à medida e por vezes, ao longo do dia nos canais de televisão da especialidade e nos média em geral, apontam-se as razões e estas vão mudando de hora a hora.

Sim, recordo-me que este ano, quer no recuo de março quer neste que se iniciou em outubro, a explicação mais frequente foi o facto das taxas de juro a 10 anos dos Estados Unidos terem ultrapassado os 3%. Afinal, não haveriam motivos fundamentais que justificassem essas quedas: os lucros das empresas americanas subiram cerca de 20%, a maior subida desde 2011.

Se investimos num imóvel pela renda que podemos vir a receber, se investimos numa obrigação pelos cupões que nos são prometidos até nos reembolsarem o dinheiro que emprestamos, é natural que quem investe em ações o faça pelos cash-flows que possa vir a receber no futuro (quer por dividendos distribuídos quer por ganhos de capital). Por isso, estas correções na maioria das empresas não fazem sentido.

Se o achatamento da curva poderá querer indicar uma recessão, não fazemos ideia. Não é o que vemos hoje. Estas coisas só se conseguem ler nos gráficos depois de terem acontecido. E se esse sinal reverter?

Naturalmente que as taxas de juro são como que uma espécie de lei da gravidade para as ações. No entanto, os níveis das taxas de juro nos Estados Unidos não representam uma ameaça para as empresas que têm uma estrutura de capitais sólida, que operam com níveis de endividamento sensatos e que ganham consistentemente mais do que o seu custo de capital. Aliás, o risco é muito maior para os investidores que têm obrigações com rendimentos baixos e que, à medida que as taxas de juro subam, ficarão presos a um ativo que irá cair de preço. Poderão não vender e aguardar pelo vencimento. Contudo, o custo de oportunidade será significativo.

As yields das obrigações subirem de 2,5% para 3,10% não é nada se compararmos com uma empresa que ganha 12% ao ano e reinveste o dinheiro. No S&P 500, os retornos nos capitais próprios tangíveis são muito superiores a isso. O que deve ser claro para os investidores é que à medida que as taxas sobem, estas podem constituir alternativa a outros investimentos, nomeadamente a negócios medíocres ou altamente alavancados. Mas isso também o são para as obrigações ou para os investimentos em imóveis. Se as taxas subissem para 15%, as ações de uma empresa que ganhasse 12% ao ano no seu negócio não eram uma boa alternativa de investimento.

Na Europa, essa questão nem se coloca. As obrigações a 10 anos do governo alemão pagam nesta altura rendimentos de 0,36% ao ano. Quem investe nestes títulos deve estar consciente que está a perder dinheiro para a inflação, está a empobrecer. É certo que tem um ativo seguro e o conforto da sua cotação ser pouco volátil. Contudo, é garantido que pagará um preço muito alto por esse conforto. Se isto for explicado com honestidade aos investidores, eles entendem.

Quem investe com um horizonte de investimento de 5 ou mais anos, tem seguramente muito maior segurança e rentabilidade investindo nalguns dos melhores negócios do mundo e que recentemente tiveram correções de 30% ou mais. É isso que faço com o meu dinheiro e da minha família. É isso que fazemos para os nossos Clientes.

Emília O. Vieira


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