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Autoria
Morgan Housel
Morgan Housel

O medo é mais contagioso do que qualquer vírus e pode levar as pessoas a reagir instantaneamente de formas que pareceriam impensáveis momentos antes.

Publicado originalmente no The Collaborative Fund a 22 de março de 2023

TODOS JUNTOS

Quando foi inaugurada em 1883, a Ponte de Brooklyn era a maior estrutura do hemisfério ocidental. Tinha quase o dobro do comprimento de qualquer ponte suspensa até então construída. As pessoas, com alguma razão, questionavam-se: será estável? Será que vai cair?

Este receio da ponte cair era tão generalizado que, no dia da inauguração, P.T. Barnum desfilou uma manada de elefantes pela ponte, para provar a solidez da estrutura gigante aos espectadores ansiosos.

As dúvidas, porém, mantiveram-se. Uma semana após a abertura, multidões de nova-iorquinos demonstraram o que acontece quando a incerteza e o pensamento de grupo se encontram.

Tudo começou quando uma mulher que atravessava a ponte tropeçou e caiu de uma escada de madeira que servia de saída para os peões. Outra mulher gritou com medo. Então alguém gritou que a ponte estava a desabar. Todos aqueles que estavam a cruzar a ponte correram, em pânico, para a saída, aglomerando-se numa massa confusa.

Estavam mais de mil pessoas a atravessar a ponte. Em menos de 15 segundos, todos os mil e quinhentos metros de extensão da ponte mergulharam no caos.

O New York Times escreveu:

“Subitamente, a estreita escada entupiu-se com seres humanos, empilhados uns sobre os outros, que estavam a ser esmagados até a morte. Em poucos minutos, 12 pessoas morreram, 7 feridas tão gravemente que as suas vidas estão em perigo, e 28 outras mais ou menos gravemente feridas.”

Controlar o nosso comportamento na incerteza pode ser muito difícil. Controlar as nossas reações ao comportamento das outras pessoas é muito mais difícil. O medo é mais contagioso do que qualquer vírus e pode levar as pessoas a reagir instantaneamente de formas que pareceriam impensáveis momentos antes.

A opinião mais interessante que ouvi sobre a implosão do Silicon Valley Bank (SVB) é que isto não poderia ter acontecido com qualquer outro grande banco – pelo menos com a rapidez com que aconteceu – porque praticamente todos os titulares das contas são do mesmo grupo social. Vivem nos mesmos bairros, vão às mesmas festas, têm os mesmos grupos de WhatsApp, trabalham nas mesmas empresas, investem nas mesmas start-ups, etc. Não é o que acontece, por exemplo, com o Wells Fargo.

As corridas aos bancos acontecem há séculos. O SVB era único porque tinha a rede social de uma pequena cidade, mas o balanço de um banco grande e díspar. Quando alguém gritou fogo, imediatamente todos os depositantes ouviram e 50 biliões de dólares saíram pela porta fora.

Imagino que tanto as pessoas que atravessaram a ponte de Brooklyn como os clientes do SVB reagiram de uma forma que nunca teriam imaginado antes de se verem face a face com o pânico dos seus pares.

É fácil assistir a isto e criticar. O pânico aparenta sempre ser irracional. Mesmo as pessoas cujos depósitos eram garantidos pela FDIC tiraram o dinheiro do SVB. Mesmo as pessoas que estavam longe da ponte de Brooklyn fugiram – há relatos de pânico a centenas de metros do tabuleiro da ponte.

Na minha opinião, é muito fácil subestimar a nossa própria propensão para o pânico quando vemos outras pessoas a entrar em pânico.

Há alguns anos, um grupo de cientistas levou a cabo uma enorme experiência no Facebook. Ao ajustar os feeds de notícias dos usuários – controlando aquilo que as pessoas viam – conseguiam influenciar que tipo de publicações esses utilizadores geravam. “Quando as expressões positivas foram reduzidas, as pessoas produziram menos publicações positivas e mais publicações negativas; quando as expressões negativas foram reduzidas, ocorreu o padrão oposto.”

Quando isto acontece – existe todo um campo de estudo sobre este processo, conhecido como contágio emocional – as pessoas nunca dizem: “Ah, eu agi assim porque fui influenciado por todos à minha volta”. Todos assumem que tomam as suas próprias decisões de forma independente, na sua própria cabeça.

Há alguns anos, entrevistei o economista de Yale, Robert Shiller. Ele disse-me algo que me marcou: “Tens de perceber, os teus pensamentos não são realmente os teus próprios pensamentos. Eles infiltram-se de outros lugares e de outras pessoas.”

Esta ideia é mais forte agora do que nunca, porque os media sociais aumentam o número de pessoas com quem interagimos e recompensam as publicações mais hiperbólicas, performativas e que procuram atenção.

Algumas pessoas são mais impressionáveis do que outras. Mas todos somos produto das experiências que tivemos, das pessoas que conhecemos, das pessoas que observamos, das pessoas sobre quem lemos e das pessoas à nossa volta num determinado momento. Tudo isto molda os nossos comportamentos de formas boas, más e feias. Basta isto para explicar muito do comportamento selvagem no mundo.

Uma lição a tirar daqui é que, quando percebemos o quão suscetível somos às emoções dos outros, ficamos mais atentos às pessoas com quem nos rodeamos. Quem seguimos no Twitter, quem vemos na TV, onde trabalhamos, com quem saímos depois do trabalho. Com quem nos casamos – este é muito importante! Quanto mais altas a aposta, mais atentos temos de ser àqueles que nos rodeiam.

As emoções, no entanto, serão sempre contagiosas. Bill Seidman, ex-chefe da FDIC, afirmou certa vez: “Nunca sabemos o que o público americano fará, mas sabemos que farão tudo ao mesmo tempo”.


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