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Publicado originalmente na revista The Economist em 16 de janeiro de 2021

Uma Nova Aurora de Otimismo Está a Nascer

A década de 2010 foi marcada pelo pessimismo no que à inovação diz respeito. Este está a dar lugar à esperança.

O ritmo da inovação na passada década desiludiu muitas pessoas – especialmente aqueles economistas miserabilistas. O crescimento na produtividade foi anémico e as novas invenções mais populares – o smartphone e os media sociais – não pareceram ajudar muito. Os seus efeitos secundários nocivos, tais como a criação de poderosos monopólios e a poluição do espaço público, tornaram-se dolorosamente aparentes. Tecnologias promissoras arrastaram-se, incluindo os carros autónomos, fazendo com que os evangelistas de Silicon Valley parecessem ingénuos. Os falcões da segurança nacional alertaram para o facto de a China estar a ultrapassar o Ocidente a grande velocidade e algumas pessoas sombrias apregoaram que o mundo estava finalmente a ficar sem ideias úteis.

Hoje, uma aurora de otimismo está a nascer. A velocidade a que as vacinas contra o Covid-19 foram produzidas tornou os cientistas conhecidos lá em casa. Descobertas importantes, um boom no investimento em empresas tecnológicas e a adoção de tecnologias digitais durante a pandemia estão a aliar-se para levantar a esperança numa nova era de progresso: os otimistas preveem euforicamente uns “Loucos Anos 20”. Tal como o pessimismo da década de 2010 foi exagerado – a década assistiu a muito avanços, tais como avanços no combate ao cancro – as previsões de uma utopia tecnológica são também empoladas. No entanto, existe uma probabilidade realista de uma nova era de inovação que pode elevar os padrões de vida, especialmente se os governos ajudarem as novas tecnologias a florescer.

Na história do capitalismo, o rápido progresso tecnológico tem sido a norma. O Séc. XVIII trouxe a Revolução Industrial e as fábricas mecanizadas; o Séc XIX, os caminhos de ferro e a eletricidade; o Séc XX, os carros, aviões, a medicina moderna e a libertação doméstica graças às máquinas de lavar. Nos anos 70, no entanto, o progresso – medido pelo crescimento global da produtividade – abrandou. O impacto económico foi temporariamente minimizado pela incursão das mulheres na força de trabalho e por uma explosão de eficiência após a adoção dos computadores pessoais, nos anos 90. Após 2000, no entanto, o crescimento estagnou novamente.

Há três razões para acreditar que esta “grande estagnação” pode estar a terminar. Em primeiro lugar, a vaga de recentes descobertas com potencial transformativo. O sucesso da técnica “mensageiro RNA”, que está por trás das vacinas da Pfizer-BioNtech e Moderna, e dos tratamentos de anticorpos à medida mostram como a ciência continua a fortalecer a medicina. O ser humano é cada vez mais capaz de dobrar a biologia à sua vontade, quer seja no tratamento de doenças, edição de genes ou produzir carne num laboratório. A inteligência artificial está finalmente a demonstrar avanços impressionantes numa variedade de contextos. Um programa criado pela DeepMind, parte da Alphabet, mostrou uma notável capacidade de prever as formas das proteínas; no verão passado, a OpenAI revelou o GPT-3, o melhor algoritmo de linguagem natural até à data; e desde outubro, táxis sem condutor têm transportado passageiros em Phoenix, Arizona. Quedas espetaculares no preço das energias renováveis dão confiança aos governos que os seus investimentos verdes vão compensar. Até a China promete neutralidade no carbono até 2060.

A segunda razão para o otimismo é a explosão de investimento na tecnologia. No segundo e terceiro trimestre de 2020, pela primeira vez em mais de uma década, o setor privado não residencial gastou mais em computadores, software e pesquisa e desenvolvimento (R&D) do que em imóveis e equipamento industrial. Os governos estão empenhados em dar mais dinheiro aos cientistas. Os gastos públicos em R&D, que há anos têm vindo a diminuir, começaram, em 2017, a subir em 24 países da OCDE. O entusiasmo dos investidores pela tecnologia alcança hoje diagnósticos médicos, logística, biotecnologia e semicondutores. Tal é o otimismo do mercado relativamente aos carros elétricos que o CEO da Tesla, Elon Musk, que também gere uma empresa de foguetões espaciais, é o homem mais rico do mundo.

A terceira razão para aplauso é a rápida adoção de novas tecnologias. Não são apenas os trabalhadores que adotaram as videoconferências ou os consumidores que fazem as compras no comércio eletrónico – por muito significantes que sejam estes avanços, por exemplo na resolução de constrangimentos, causados pela falta de casas, na procura de emprego. A pandemia acelerou também a adoção de pagamentos digitais, telemedicina e automação industrial. Isto vem-nos recordar, mais uma vez, que a adversidade força as sociedades a progredir. O combate às alterações climáticas e a concorrência entre a China e América poderão impulsionar novos avanços.

Infelizmente, a inovação não vai permitir às economias que estas alijem os lastros estruturais que travam o crescimento. À medida que as sociedades ficam mais ricas, gastam uma maior fatia do seu rendimento em serviços de mão-de-obra intensiva, tais como a restauração, em que o crescimento da produtividade é baixo dado que a automatização é bastante difícil. O envelhecimento das populações continuará a sugar trabalhadores para os cuidados em casa, que são de baixa produtividade. A descarbonização das economias não impulsionará crescimento de longo prazo a menos que a energia verde materialize o seu potencial de se tornar mais barata que os combustíveis fósseis.

No entanto, é razoável esperar que uma nova vaga de inovação possa, em breve, reverter a queda no dinamismo económico que é responsável por, talvez, um quinto do abrandamento do crescimento verificado no Séc. XXI. Ao longo do tempo, isto poderá significar uma enorme subida nos padrões de vida. Talvez se consiga ainda mais uma vez que muitas indústrias de serviços, incluindo os cuidados de saúde e a educação, beneficiariam enormemente de mais inovação. Eventualmente, a biologia sintética, a inteligência artificial e a robótica poderão revolucionar a forma como quase tudo é feito atualmente.

Isto não é ciência de foguetões

Embora seja o setor privado que, no final de contas, determina que inovações têm ou não sucesso, os governos têm um papel importante a desempenhar. São os governos que devem arcar com os riscos dos projetos mais “moonshot”. O estado pode claramente oferecer mais e melhores subsídios para R&D – por exemplo, prémios para resolver problemas claramente definidos. O estado tem também uma enorme influência sobre a rapidez com que as inovações se difundem na economia. Os governos precisam de se assegurar que a regulação e o lobbying não atrasam a disrupção, fornecendo uma rede de segurança adequada para aqueles cujo modo de vida foi subvertido. A inovação tipicamente concentra em muito poucas empresas. Assegurar que toda a economia tem acesso a novas tecnologias exigirá uma regulação antimonopolista robusta e regimes de propriedade intelectual menos restritivos. Se os governos estiverem à altura destes desafios, então um crescimento mais rápido e padrões de vida ais elevados estarão ao seu alcance, permitindo-lhes desafiar os pessimistas. A década de 2020 começou com um grito de dor, mas, com as políticas certas, a década poderá rugir.


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