Voltar

Todas as falhas humanas e vieses que nos impedem de gerir melhor o nosso dinheiro

A culpa não é nossa, nós somos apenas humanos. Mas, porque somos humanos, estamos condenados a tomar algumas decisões, digamos, menos ótimas. Nós, humanos, sofremos de vieses sistemáticos – tal como os psicólogos já o provaram, uma e outra vez – que se atravessam no caminho das nossas melhores intenções. O dinheiro é um exemplo paradigmático. 

Em muitos países, os governos inspiraram-se nas finanças comportamentais e académicos como o galardoado com o Prémio Nobel, Richard Thaler, para ajudar os seus cidadãos a tomarem melhores decisões financeiras com ações que contrariam os seus vieses inerentes, os chamados “empurrões”. Um exemplo comum são os planos de poupança reforma com inscrição automática ou planos opt-out, que comprovadamente aumentam o número de pessoas que poupam para a sua reforma, em comparação com planos opt-in.

Estes “empurrões” não cobrem, obviamente, a gama completa de decisões financeiras que a maioria das pessoas tem que tomar. Mesmo se nos considerássemos especialistas em finanças pessoais, a maioria de nós teria algo a aprender com a psicologia e as finanças comportamentais sobre como gerir melhor o nosso dinheiro. Em primeiro lugar, segundo Stephan Meier, professor na Columbia Business School, a maioria das pessoas “não sabe, na verdade, o que está no seu melhor interesse”. Ou simplesmente não agem no seu melhor interesse.

Então, onde estamos a errar?

Viés do Presente

As pessoas tendem a dar demasiado valor ao presente quando estão a planear o futuro. Isto leva àquilo a que os economistas chamam inconsistência dinâmica.

O famoso teste da alteia (marshmallow), levado a cabo nos anos 70 por Walter Mischel da Stanford University, é um exemplo perfeito. A uma criança é oferecida uma alteia e é-lhe dito que, se esperarem um pouco, um adulto regressará e oferecer-lhe-á outra. Embora seja no seu melhor interesse aguardar e receber duas deliciosas alteias, muitas crianças, quando deixadas sozinhas, sentem grandes dificuldades em fazê-lo e acabam por comer a alteia antes que ao adulto regresse. (Existem dezenas de vídeos com crianças a tentar resistir à tentação.)

Os adultos sentem a mesma dificuldade, no que é chamado o Viés do Presente. Se agíssemos racionalmente e otimizássemos o nosso nível máximo de utilidade (tal como a maioria dos modelos económicos assume que o fazemos), as decisões que tomamos não deveriam depender da altura em que as tomamos. Embora desejemos planear o futuro, poupando mais, por exemplo, podermos ficar inquietos e pedir emprestado e gastar mais. “Poupamos mais amanhã”, prometemos a nós próprios.

Pesquisa levada a cabo por Stephan Meyer da Columbia Business School demonstra que o viés do presente pode conduzir a, entre outras coisas, dívidas no cartão de crédito mais elevadas e taxas de incumprimento no crédito à habitação mais elevadas. Num paper de 2010, com Charles Sprenger, Meyer conclui que as pessoas enviesadas para o presente tinham, em média, uma dívida de 1565 dólares nos seus cartões de crédito contra apenas 776 dólares nas pessoas não enviesadas.

Planeador versus Fazedor

O viés do presente levanta o problema do autocontrolo, uma questão irritante na tomada de decisões financeiras. A luta interna entre tomar uma decisão sensata para o futuro ou escolher algo que nos oferece gratificação instantânea é aquilo a que Thaler chama o “eu planeador” e o “eu fazedor”. Embora pareça óbvio, não devemos encarar isto de ânimo leve. “A maioria de nós tem consciência de que temos problemas com o autocontrolo, mas subestimamos a sua severidade”, escreve Thaler em Misbehaving: The Making of Behavioral Economics. “Nós somos ingénuos quanto ao nosso nível de sofisticação”.

Embora isto seja um “defeito”, pode ser mitigado através do aproveitamento de outro viés humano. Se o nosso “eu fazedor” está no comando a maior parte do tempo, então o nosso “eu planeador” precisa de remover as escolhas que encorajam as decisões de curto prazo (isto vai contra a teoria económica que diz que quanto mais escolhas, melhor. O “eu planeador” pode fazer isto separando o dinheiro em potes diferentes que têm propósitos diferentes: por outras palavras, um orçamento.

Isto é o que Thaler chama contabilidade mental. Em termos económicos, não faz sentido porque o dinheiro é fungível. Se o dinheiro no pote marcado entretenimento acaba, basta ir buscar mais ao pote das mercearias. Mas, graças às armadilhas mentais humanas, a contabilidade mental funciona. Assim, o dinheiro das mercearias não será gasto e passaremos a noite da próxima sexta-feira em casa.

Confusão

Muito simplesmente, as pessoas estão confusas. Não compreendem os detalhes dos produtos financeiros. Como poderiam? Estes produtos são cada vez mais complexos, com documentação obscura que exige uma licenciatura em direito para a decifrar. A imensa variedade de taxas, condições e comissões fazem do mercado do crédito à habitação um campo de minas.

A iliteracia financeira faz com que as empresas possam ganhar à nossa custa. Os mercados de crédito são uma área onde os consumidores são particularmente suscetíveis a erros, em parte devido à complexidade dos custos, mas também devido ao impacto das decisões intertemporais (as decisões tomadas hoje afetam as opções disponíveis no futuro) e da falta de incentivos que as empresas têm para educar os seus consumidores.

Em resumo, não seja excessivamente confiante. Geralmente, vale a pena procurar conselhos especializados.

Uma das observações chave nas finanças comportamentais é a aversão à perda. As pessoas sentem a perda duas vezes mais intensamente do que um ganho equivalente. Por outras palavras, fazemos muito mais esforço para não perder 100 dólares do que para ganhar os mesmos 100 dólares. Isto pode ser prejudicial quando investimos.

Um conceito relacionado, chamado ancoramento, exacerba o problema. Quando vendemos algo, o nosso ponto de referência é provavelmente o preço que pagamos pelo produto e a nossa mente está ancorada nesse preço. Mesmo que o produto valha muito menos, poderemos não vendê-lo porque estamos ancorados o preço de compra e queremos evitar o sentimento de perda. Com as ações, por exemplo, podermos não vender a determinado preço porque já vimos a ação a transacionar a um preço bastante superior. Pior ainda, a aversão à perda pode levar as pessoas a correr enormes riscos para recuperarem perdas, mesmo que isso possa gerar perdas ainda mais significativas. É por isto que muitos traders acabam por comprar caro e vender barato.

Mesmo tendo consciência destes vieses, iremos continuar a cometer os mesmos erros. Os vieses sistemáticos são extremamente difíceis de superar porque eles fazem parte da natureza humana.

No que diz respeito a gerir dinheiro, somos frequentemente os nossos piores inimigos.


Esclareça as suas questões comerciais com um representante da Casa de Investimentos.

Serviço disponível nos dias úteis das 8h às 18h.

Save & Grow

Seja dono do seu destino.

Saiba mais