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A diferença entre Risco e Volatilidade

Há anos, li um artigo de Jason Zweig, colunista do Wall Street Journal e autor de vários livros de investimento, onde contava que, numa conferência de jornalistas, lhe pediram para definir o seu trabalho. Ele respondeu: “o meu trabalho é escrever exatamente a mesma coisa 50 a 100 vezes por ano, de tal forma que nem os meus editores nem os meus leitores pensem que eu me estou a repetir”.

Infelizmente, não tenho os mesmos dotes de Jason Zweig e os editores deste jornal e os estimados leitores facilmente se apercebem que digo sempre a mesma coisa. Não o faço apenas por não ser um “Jason Zweig”, mas também porque o meu trabalho na Casa de Investimentos é a salvaguarda e a valorização dos patrimónios dos nossos Clientes. A coerência no investimento é determinante para atingir estes dois objectivos.

Ao longo dos últimos anos, nos artigos que escrevemos, nas reuniões com investidores ou potenciais investidores, nunca escolhemos o caminho mais fácil: dizer o que todos dizem nestas circunstâncias e procurar encostar-nos ao “conforto” da multidão, fazendo o que os profissionais de dinheiro fazem. Na crise financeira de 2008/2009 (em que o maior índice americano, S&P caiu 57% e o MSCI – que congrega 23 mercados desenvolvidos - 59%), quando houve o downgrade da dívida americana em agosto de 2011 (com o S&P a cair 21% e o MSCI 25%), o chamado fiscal cliff até final do mesmo ano, (os índices voltaram a cair significativamente), com a crise de dívida soberana na europ a em 2012(o resgate à Grécia, o resgate a Portugal, a dívida Italiana ou Francesa) ou a crise na Rússia e Ucrânia em outubro passado (S&P caiu 9,8% e o MSCI caiu 10,5%), dissemos sempre a mesma coisa. Agora, com a actual situação na Grécia e a falta de acordo com os credores, só podemos dizer e fazer o mesmo:

No investimento, as previsões políticas e económicas de curto prazo são uma distracção muito cara para os investidores. A prazo, as notícias sobre os mercados financeiros serão positivas. O que verdadeiramente importa é a qualidade dos ativos que temos e o desconto a que os compramos do seu real valor. Se investirmos com horizonte de investimento adequado, após ter feito uma análise profunda dos ativos e garantindo que estamos a comprar bom e barato, a disciplina e a paciência para esperar, permitirão obter bons retornos.

Já aqui escrevi que vivemos uma crise de retornos baixos: as taxas de juro, sobretudo na Europa e Estados Unidos, ainda em mínimos historicamente baixos, fazem com que os investimentos de taxa fixa não sejam hoje investimentos a considerar e sejam investimentos muito arriscados e quase sem retorno É nossa convicção que os investidores nesta classe de ativos serão chamados a assumir perdas consideráveis no futuro. Não sabemos quando subirão as taxas e a que ritmo. Sabemos, no entanto, que as taxas de juro foram trazidas para perto de zero para ajudar os países, as empresas e os particulares e recuperarem de excessos de endividamento, que a níveis médios de longo prazo, não seriam suportáveis para a riqueza que estes produzem.

O Problema do Investidor Individual

Os investidores gostam que lhes apresentem uma previsão ou um acontecimento certo. Talvez por isso, têm preferência por investimentos de taxa fixa já que, no momento do investimento, fica definida a data em que será pago o rendimento (juro no caso do depósito a prazo ou o cupão no caso da obrigação) e a data em que vencerá. No caso das obrigações que normalmente têm maturidades muito longas, é fundamental que o investidor tenha consciência que durante este período a solvabilidade do emitente da obrigação (a quem está a emprestar o seu dinheiro) pode alterar-se significativamente e existe o risco de não vir a receber parte dos rendimentos, todo o seu capital ou ter que ser prolongado o prazo de dívida e o seu capital seja devolvido mais tarde. Há ainda um risco, durante o perído em que tem a obrigação, das taxas de juro subirem e ver o seu dinheiro “atado” a um rendimento muito baixo por longos anos .

As obrigações, que também sofrem flutuações de preço, têm menos liquidez do que grande parte das ações em que investimos (com excepção do Tesouro Americano). O exemplo é apresentado no gráfico abaixo, que representa as variações de preço de uma obrigação do Estado Português emitida em 20 de janeiro deste ano e que se vence em 2045. Esta obrigação paga um cupão anual de 4,1% e o Estado Português compromete-se a pagar aos investidores, em 2045, os 2,5 mil milhões de euros que pediu emprestado.

Obrigação do Estado Português a 30 anos

Esta obrigação foi muito falada no mercado no início do ano. Com a queda das taxas de juro de Portugal de longo prazo para perto dos 2%, esta emissão teve uma valorização de mercado de mais de 42,19% até Março. Esta e outras emissões nacionais similares atraíram muitos investidores, que verificaram, desde então, uma correção do valor da obrigação para os níveis iniciais, à medida que as taxas de juro voltaram a recuperar e percepção que os investidores têm do risco do Estado Português voltou a subir.

Obrigação da Berkshire Hathaway, a 20 anos

Aproveitando um contexto de taxas de juro tão baixo na Europa, e a excelente qualidade de crédito a Berkshire, empresa do Sr. Warren Buffett, fez uma emissão em euros em Março passado a 20 anos com um cupão de 1,625%.

O que é um excelente investimento para a Berkshire, não será para os investidores destas obrigações que ficarão nos próximos 20 anos “atados” a um rendimento muito baixo. É muito pouco provável que durante estes 20 anos as taxas de juro se mantenham aos atuais níveis. Por isso, para os investidores, embora investindo numa empresa de excelente rating, este foi um investimento muito arriscado na medida em que, se as taxas de juro continuarem a subir para níveis normais de longo prazo e os investidores quiserem vender, podem ter que aguardar muitos anos para não verificarem perda de capital.

Muitos investidores poderão pensar que com estas obrigações a cotar todos os dias, poderão mais tarde ou mais cedo vender com ganhos. Nesse caso, estão a deixar o seu futuro financeiro à sorte e à probabilidade de encontrarem um investidor mais distraído ou que que não saiba o que está a fazer. Mas, neste caso, esta já se torna uma operação especulativa e sem margem de segurança.

Qual é a diferença entre Risco e Volatilidade?

O que significa realmente Risco? O Senhor Warren Buffett costuma dizer que, no investimento, o verdadeiro risco é não saber o que se está a fazer.

Porque se espera que o cidadão comum consiga tomar todas estas decisões de investimento no seu melhor interesse? Quem está do outro lado, a vender os produtos financeiros, sabe muito mais sobre eles (ou pelo menos deveria saber) e, por isso, parte para o negócio com enorme vantagem. É natural que o Senhor Buffett soubesse que, para muitos anos, estes serão os mínimos das taxas de juro e nada melhor do que contrair dívida neste contexto, com este prazo tão dilatado e com uma taxa de juro inferior à do Estado Português.

O risco inerente a um investimento é a probabilidade de perda permanente de capital.

A volatilidade, variação ou flutuação, é a escolha dos académicos para definir e medir o risco e deve-se ao facto de poder ser quantificável e aplicável nos modelos que os académicos produzem para prever o futuro e explicar as difíceis questões da teoria financeira moderna. Contudo, na prática, esta não é uma boa definição de risco. Ao pensar no risco, procuramos identificar a coisa acerca da qual os investidores estão preocupados e, por isso, exigem uma compensação para a suportar.

Embora muitos investidores temam a volatilidade, as variações de preço, nunca ouvi um investidor queixar-se: “o retorno esperado não é suficientemente alto para justificar esta volatilidade”. O que os investidores temem é a possibilidade de perda permanente de capital.

A perda permanente de capital é muito diferente de volatilidade ou flutuação. Uma flutuação negativa – que, como o nome indica, é temporária – não representa um grande problema se o investidor tiver a capacidade de manter as suas posições em carteira até que essa flutuação negativa passe. Uma perda permanente – da qual não há recuperação possível – pode ocorrer por uma de duas razões: primeiro, o investidor vende durante uma flutuação negativa e assume a perda, por falta de convicção, necessidades financeiras ou pressões emocionais . Segundo, o activo onde nvestiu não consegue recuperar por razões fundamentais, porque não tinha a qualidade necessária para suportar esse recuo temporário da economia.

Se comprarmos uma acção por 10 euros e a vendermos por 20 um ano mais tarde, este investimento foi arriscado ou não?

Muitos poderão dizer que não porque o lucro comprova que o investimento era seguro. O académico dirá que era obviamente arriscado uma vez que a única forma de ganhar 100% num ano é assumindo riscos enormes. Pessoalmente, diria que pode ter sido um investimento genial e seguríssimo ou então um “lançamento de dados” que teve sorte.

Os investidores podem (e devem) “aguentar” a volatilidade mas não têm qualquer hipótese de desfazer uma perda permanente de capital.

A única “fórmula” consistente de investimento que conhecemos é o investimento em valor. O investidor individual precisa de fazer duas coisas muito difíceis: ignorar a multidão e ter paciência para que o investimento dê frutos. Segundo neurocientistas e psicólogos, estes são os maiores handicaps que temos que contrariar para ser bem sucedidos. É simples, mas não é fácil.

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