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I – Honestidade, integridade e transparência

A propósito do escândalo da manipulação da Libor, Bob Diamond, na altura presidente do Barclays Bank, foi chamado em julho de 2012 a uma comissão de inquérito parlamentar para explicar a actuação do banco nesta matéria. As respostas às questões técnicas não levantaram qualquer problema para Diamond, que a cada passo do interrogatório manifestava o seu “amor” ao banco e aos seus 114 mil colaboradores. O Membro do Parlamento Inglês, John Mann, um pouco irritado com este discurso do então Presidente do Barclays, perguntou-lhe se ele conhecia a história do Banco e dos seus fundadores, os Quakers. Bob Diamond não soube responder.

Os Quakers estiveram na origem do grande desenvolvimento de Inglaterra nos séculos XVIII e XIX. À medida que o mundo caminhava para uma sociedade industrial e o capitalismo começou a florescer, tornaram-se indispensáveis grandes acumulações de capital para a construção de fábricas, para o desenvolvimento de sistemas de transporte e para o financiamento dos bancos, a nova economia iria depender. Os Quakers dominavam a economia britânica, provavelmente porque a sua simplicidade e frugalidade lendárias lhes permitiram arrecadar o capital para investir. Eram proprietários de mais de metade das empresas metalúrgicas do país e desempenhavam papéis chave na banca, bens de consumo e no comércio transatlântico. A sua ênfase na fiabilidade, honestidade absoluta e registos rigorosos criavam confiança nos negócios entre si e os restantes mercadores observavam que a confiança caminhava de mãos dadas com o sucesso nos negócios. O interesse próprio exigia a virtude (escrevi sobre os Quakers em fevereiro de 2012 no Jornal i, o artigo “Capitalismo sem Donos”).

Esta coincidência de virtude e valor é o que o grande economista e filósofo escocês, Adam Smith, escreveu em A Riqueza das Nações, de 1776: “o esforço ininterrupto e uniforme para melhorar a sua condição, o princípio do qual derivam a opulência pública e privada é suficientemente poderoso para manter o progresso natural das coisas para a sua melhoria…Cada indivíduo não pretende promover o interesse público nem sabe o quão o está a promover… (mas) ao orientar a sua indústria de forma a que o seu produto seja o mais valioso possível, ele é guiado por uma mão invisível que promove um objectivo que não faz parte das suas intenções”.

Os princípios dos Quakers eram a honestidade, integridade e a transparência.

O capitalismo deve basear-se num sistema de valores em que as pessoas acreditem e dependam. Não precisamos de ter fé na boa vontade humana, mas precisamos de ter confiança que as promessas e compromissos, uma vez assumidos, serão cumpridos. É necessário garantir que o sistema, no seu todo, não beneficia indevidamente alguns à custa de outros. É importante o regresso do capitalismo dos donos. É fundamental confiar e ser de confiança.

Como diz Charlie Munger, sócio de Buffett, “só quero saber onde vou morrer para nunca lá ir”. Porque razão perdem os investidores tanto dinheiro nas ações da banca?

II - São apenas uns cêntimos por ação: o que é que eu posso perder?

A propósito da questão que domina a actualidade no nosso país, a situação do BES, escrevi há dois anos nestas páginas o artigo “Porquê este aumento de capital no BES?. Ainda, a propósito das subidas exageradas que se verificaram nas ações da banca no final do ano e primeiros meses deste ano, escrevi em 14 de fevereiro o artigo “Banca - atração fatal”. Este artigo pretendia apenas esclarecer os investidores para a dificuldade de avaliar um banco e quais os indicadores que devem ter em conta antes de fazer os seus investimentos.

Quantas vezes já ouviram a pergunta: são apenas uns cêntimos por ação: o que é que eu posso perder? Talvez o próprio leitor já o tenha feito. Encontramos uma ação a transacionar a menos de 1 euro por ação e pensamos: "é muito mais segura que uma ação de 50 euros”. Na realidade, não importa se a ação custa 50 ou 3 euros, se forem a zero, perdemos a totalidade do capital investido. Se caírem para 50 cêntimos, o resultado é ligeiramente diferente. O investidor que comprou a 50, perde 99% do capital; o que comprou a 3, perde 83%. Fraca consolação.

Uma ação com um preço baixo é tão arriscada como uma ação com um preço alto. Se investirmos 1000 euros numa ação de 43 euros ou numa ação de 3 euros, perderemos o mesmo montante se elas forem a zero. Não importa o preço, o risco máximo de perda são sempre os mesmos 100%.

No entanto, podemos ter a certeza que muito investidores não resistem a uma pechincha e dizem: o que é que eu posso perder?

É interessante notar que os "curtos" profissionais, aqueles que lucram com a queda das ações, habitualmente abrem as suas posições mais perto dos mínimos do que dos máximos. Os curtos gostam de esperar que uma empresa esteja em tão graves dificuldades que a falência é quase inevitável. Eles não se preocupam porque entraram a 8 ou a 6 em vez de entrarem a 60. Se a ação for a zero, eles ganham exactamente o mesmo. E adivinhe a quem estão os curtos a vender as ações a 8 ou a 6? A todos aqueles investidores que dizem: o que é que eu posso perder?

III – Custos afundados/ redução do custo médio por ação

As teorias económicas tradicionais prevêem que as pessoas consideram os custos e benefícios presentes e futuros na tomada de decisões. Os custos passados não deverão ser um factor a ter em conta. Contradizendo as previsões, as pessoas habitualmente levam em conta custos históricos não recuperáveis quando tomam decisões acerca do futuro. Este comportamento é denominado efeito custos irrecuperáveis/afundados. Em termos práticos, alguém que comprou uma ação por 6 euros, à medida que a ação cai, vai continuar a comprar mais ações para baixar o seu preço médio e recuperar as perdas na posição global. Este tipo da atitude tem duas graves consequências: o investidor expõe demasiado património a um só ativo e está muito mais vulnerável a “jogar”. Muitos estudos demonstram que um investidor que sofre perdas graves tem uma maior tendência a entrar em jogos de sorte ou azar.

Este tipo de atitude não é apenas levada à prática por investidores não profissionais. É muito comum em gestores de investimentos: primeiro porque estão preocupados em proteger a sua carreira, segundo porque precisam de manter a “roda a girar” e a cobrar comissões.

O efeito custos irrecuperáveis/afundados é uma escalada de compromisso e é definido como a tendência para prosseguir um curso de ação quando foi feito um investimento em tempo e dinheiro. Reconhecer que se errou exige discernimento e conhecimento.

IV – Ignore a Multidão

"A moda é o grande "governador" deste mundo; a moda preside, não só às áreas da roupa e da diversão, mas também às da lei, física, política, religião,etc. De facto, o mais sábio dos homens teria graves dificuldades em encontrar explicação melhor para que determinadas manifestações nestas áreas sejam, em certos períodos, universalmente recebidas e noutros universalmente rejeitadas do que declarar que estão ou não na moda."

Henry Fielding

Investir em ativos especulativos é uma atividade social. Os investidores dedicam uma parte substancial do seu tempo livre a discutir investimentos, a ler acerca de investimentos ou a comentar os sucessos e os erros dos outros investidores. É assim plausível que o comportamento dos investidores (e o preço dos ativos especulativos) seja influenciado por movimentos sociais. As atitudes e modas parecem flutuar em muitos outros tópicos de conversação, tais como comida, roupa, saúde ou política. Estas flutuações nas atitudes ocorrem transversalmente nas sociedades e surgem, muitas vezes, sem qualquer explicação lógica aparente. É plausível que as atitudes ou modas que dizem respeito aos investimentos também mudem espontaneamente ou tenham reações sociais arbitrárias a eventos globais.

A maioria dos agentes de mercado que compram e vendem em mercados especulativos parecem dar como certo que o comportamento dos preços é significativamente influenciado por movimentos sociais. Primeiro, o ser humano tende a considerar a possibilidade de ganhos no curto prazo extremamente atrativa. Estes ganhos estimulam os centros emocionais do cérebro e libertam dopamina. Isto torna-nos mais confiantes, satisfeitos connosco próprios. Segundo, a nossa tendência para adotar comportamentos de rebanho: a dor da exclusão social (por exemplo, comprar quando todos estão a vender ou vice-versa) é sentida nas mesmas partes do cérebro que sentem a dor física real. Adotar estratégias de investimentos contrárias é, segundo psicólogos e neurocientistas, um pouco como sermos espancados.

Na análise de investimentos e oportunidades de negócios, procuramos prestar um serviço sério e independente. O nosso trabalho é concentrarmos-nos na maximização da objectividade e criação de riqueza para os nossos Clientes. Nestas páginas procuramos esclarecer o leitor sobre o que realmente importa no investimento.

Não poderia terminar este artigo sem desejar ao Dr. Vitor Bento e sua Equipa, aos colaboradores, aos acionistas e obrigacionistas do Banco Espírito Santo uma recuperação rápida desta grande instituição e um futuro próspero.

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