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Autoria
Emília O. Vieira
Emília O. Vieira
Nuno Lopes Gama
Nuno Lopes Gama

Artigo publicado originalmente na Simple - plataforma internacional de colaboração e produção de conhecimento orientada às necessidades de family offices e famílias empresariais - a 29 de janeiro de 2021.

Para os family offices e famílias empresariais que procurem proteger e fazer crescer o património familiar, é primordial uma abordagem à gestão do mesmo estruturada em horizontes temporais. Para os que tenham a seu cargo as decisões financeiras, estas projeções temporais são possivelmente a estratégia mais sensata para preservar, fazer crescer e transferir património em contexto familiar.

Debruçamo-nos aqui sobre a forma como pinhões, pinheiros e carvalhos podem ser uma boa metáfora de como salvaguardar riqueza para futuras gerações.
Num relatório de 2018, a UBS apresentou os contornos de uma abordagem à gestão de património movida por propósito, através dos 3 Ls: Liquidez, Longevidade e Legado. Na sua essência, a estratégia 3L é um mapa de instruções para as famílias que queiram compreender como melhor alocar o seu capital para atingirem os seus objetivos. Mas como poderemos transformar estes termos financeiros em algo que inspire a geração seguinte a tomar as rédeas deste futuro?

A resposta poderá passar pelo seu enquadramento num paradigma de crescimento e legado, pedindo emprestadas à natureza algumas metáforas. Chamamos PPO a esta abordagem (do inglês “Pine nuts, Pine trees, and Oak trees”) – colher pinhões e plantar pinheiros e carvalhos. Os pinhões são a reserva nutricional (poupanças) para as necessidades imediatas e de curto prazo. Pinheiros são o que plantamos (investimos) com a expetativa de obtermos um fluxo de rendimento durante a nossa vida. Finalmente, carvalhos são o que plantamos (investimos) para a posteridade, para benefício de filhos, netos, gerações seguintes e a sociedade em geral.

Desperta para (e em harmonia com) o balanço financeiro e os objetivos de vida da família, a abordagem PPO inverte a típica jornada de decisão financeira. O mix ideal de classes de ativos e produtos de investimento de uma família é, muitas vezes, uma consequência inescapável e óbvia das suas escolhas quanto a estilo de vida, tranquilidade e legado pretendidos em diferentes horizontes temporais. Isto pode ser contraintuitivo e não convencional, mas revela-se quase sempre acertado.

O mapa PPO

O seu futuro começa amanhã e pode levá-lo (e a cada um dos seus) tão longe quanto os 100 anos de vida ou mais. Quer seja um empreendedor bem-sucedido da geração millennial ou já esteja a ponderar reformar-se de uma posição executiva no seu negócio familiar e explorar outros caminhos de felicidade, uma abordagem PPO pode permitir-lhe tomar certas decisões sábias agora e delinear um trajeto para um futuro mais luminoso. Em última análise, tudo se resume a viver uma vida com propósito, nos seus próprios termos e fazer com que cada dia conte para alcançar aquilo que é mais importante para si e para a sua família. Abaixo elencamos sete passos e princípios chave a seguir numa estratégia PPO.

  • Identifique os ativos e passivos tangíveis e intangíveis da família e os recursos disponíveis para os períodos pré e pós-reforma. Tome nota dos aspetos mais importantes desse seu balanço financeiro familiar, de forma a perceber como podem articular-se entre si ao longo dos ciclos de vida e de mercado.
  • Considere exaustivamente as metas e objetivos financeiros da sua família ao longo da vida. Seja ambicioso e preocupado com cada pessoa – não se contenha. Se o dinheiro não fosse problema, como quereria que fosse a sua vida e a deles? Consegue identificar as necessidades e os desejos? Se o inesperado bater à porta – como acontece com frequência – vai estar preparado?
  • Organize as suas finanças pessoais em três dimensões chave – pinhões, pinheiros e carvalhos. Distribua os seus ativos entre elas e (re)aloque-os com confiança quando necessário. Poderá então reequilibrar essas três estratégias em função do seu propósito, caprichos do mercado e circunstâncias.
  • Otimize a sua carteira, alinhando oportunamente os seus investimentos e decisões de alocação com as intenções da família e a sua potencialmente maior capacidade para lidar com a incerteza.
  • Assegure-se de que constrói um plano dinâmico e flexível o suficiente para aguentar tanto o risco, como o retorno de longo prazo, e que possa suportar os gastos da família também durante períodos de volatilidade e perante necessidades imprevisíveis.
  • Esteja consciente do fator impostos desde o início.
  • Seja disciplinado e evite de forma consciente vieses emocionais que possam provocar decisões imprudentes.

Este plano será a tela desenhada por si a que irá recorrer para proteger e fazer crescer o seu património no longo prazo e para as gerações seguintes. Para começar, considere todos os seus objetivos financeiros, divida-os em três grupos e crie, deliberadamente, uma estratégia específica de investimento para cada um.

Pinhões – Alimentar os gastos imediatos e de curto prazo

A subestratégia pinhões lida com o financiamento das despesas e regularização das dívidas durante os dois a cinco anos mais próximos, depois de acautelar uma margem para o inesperado. Dado o propósito de curto prazo, esta fatia da sua estratégia financeira deverá assentar em fluxos recorrentes de rendimento, tais como os de trabalho e rendas de imóveis. Estes fluxos devem ser considerados como ativos estáveis e de grande liquidez – aqueles que é expectável manterem o seu preço independentemente de variações de mercado e muito fácil e rapidamente convertíveis num instrumento de pagamento. Podemos estar a falar de depósitos, contas poupança, instrumentos de rendimento fixo excecionais como os de dívida soberana ou de empresas de muito bom risco e apólices de seguro com recebimentos regulares estipulados.

Pense neles como sendo o fruto mais fácil de apanhar. Saber que permanecem disponíveis mesmo que surja algum contratempo deverá trazer-lhe tranquilidade e reforçar a sua confiança em deter carteiras com maior volatilidade. Isto evitará que tome decisões de investimento prejudiciais – como desinvestir à pressa em ativos que comprou para o longo prazo e ainda não atingiram a devida valorização.

Pinheiros – Plantar os rebentos da prosperidade de toda uma vida

A subestratégia pinheiros deverá ter uma orientação de crescimento e ser configurada de forma a ir ao encontro das metas financeiras da família durante o resto da sua vida. Permite acompanhar potenciais aumentos de capital no negócio familiar, de forma a manter o seu controlo do mesmo sob a asa da família e garantir a sua independência estratégica. Também serve para manter e melhorar o bem-estar da família, em aspetos como cuidados de saúde no longo prazo, residência principal, pagamento de hipoteca, segunda moradia, seguro de incapacidade e educação avançada. Assim como para suportar necessidades pós-reforma que vão além das pensões ou outros veículos de poupança reforma.

Tipicamente isto traduz-se numa carteira de investimentos bem diversificada com exposição significativa a ações negociadas em bolsa – a classe de ativos com o melhor histórico de retornos no longo prazo. As diferentes famílias escolherão deter mais ou menos ações, de acordo com o patamar de vida em que se encontrem e o perfil de investidor do indivíduo a cargo. Mas os mercados de ações, e bem assim o private equity, são bons aliados no esforço de redução da concentração do património familiar no negócio de família, reduzindo, em paralelo, os seus riscos setoriais, geográficos, relacionais e específicos daquele negócio.

Carvalhos – Plantar uma floresta de legado intergeracional e filantrópico

Os ativos que excedem aquilo de que precisa para satisfazer as suas necessidades ao longo da vida são a plataforma para melhorar a vida de outros. Poderá, não apenas apoiar financeiramente os seus filhos e netos, transferindo o seu património através de gerações, mas também partilhar a sua boa sorte com o mundo mais alargado. Isto poderá traduzir-se no patrocínio de organizações e projetos com que se identifique e que sejam responsáveis por contributos importantes para a sua comunidade local em áreas como educação, saúde ou cultura. As carteiras de investimento na subestratégia carvalhos podem ser – e tipicamente são – investidos mais agressivamente, em ativos com o maior potencial de crescimento, dado que o horizonte temporal associado é de muito mais longo prazo – habitualmente várias décadas, com vista a financiar objetivos multigeracionais. Tal poderá incluir ações de empresas excecionais de elevado crescimento que ainda não são lucrativas, para além de investimentos em capital de risco, de impacto ou em bens colecionáveis.

Combinação de horizontes

Muito antes da reforma, quererá ter as suas despesas de curto prazo cobertas por ativos pinhões e focar-se em estar maioritariamente investido no plantio de ativos pinheiros cujos frutos possa colher no final da sua vida. É provável que, nessa fase, a subestratégia carvalhos ainda seja prematura.

Mas, à medida que se aproximar da reforma, os objetivos da sua subestratégia pinheiros deverão estar já totalmente financiados e deverá adotar uma ou duas das seguintes estratégias: (i) primeiro, começar a deslocar ativos para a subestratégia pinhões para compensar a expectável redução de rendimentos (por exemplo, ter uma porção de investimento grande o suficiente para financiar gastos que, nesta fase, excedam os rendimentos de segurança social, pensões e participações em negócios); e (ii) em segundo lugar, poderá querer deslocar alguns ativos para a subestratégia carvalhos.

Inversamente, na hipótese de o mercado o apanhar de surpresa, também poderá rever as suas subestratégias pinheiros e carvalhos e pedir emprestado um pouco do investido nesta para financiar aquela. Não obstante, durante os seus anos dourados, deverá ter por objetivo viver calmamente à sombra dos seus ativos pinheiros, saboreando os seus frutos lentamente e deixando a componente carvalhos a aumentar de valor sossegadamente.

Com estes princípios em mente, pode pôr em prática a sua própria estratégia PPO à prova de futuro. Ao criá-la e acompanhá-la de forma intencional e atenta, estará a planear tanto para o presente como para o longo prazo, ajustando o plano para cada horizonte temporal como mais conveniente às soluções de compromisso que a sua própria família prefira.

Se olhar para o futuro e dedicar o tempo e esforço necessários à colocação dos pontos que definirão a linha de vida da sua família, será muito mais fácil reconhecer a influência da sua própria iniciativa quando um dia os unir olhando retrospetivamente.

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