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A abordagem à criação de valor não pode passar por olhar para o mercado financeiro como um jogo de sorte e azar. A presidente do CA da Casa de Investimentos explica.

O investimento em valor está na génese da criação da Casa de Investimentos, em Braga. Esta gestora de patrimónios, que investe essencialmente em acções, «é a instituição em Portugal com melhores rentabilidades», afirma a cofundadora e presidente do Conselho de Administração, Emília Vieira. Com uma equipa de oito pessoas e pouco mais de 200 clientes, tem como principal foco «criar uma filosofia de valor e orientar os clientes para o médio, longo prazo».

O que a levou a criar a Casa de Investimentos em 2010, numa altura em que o País e o mundo atravessavam uma grave crise económica e financeira?

Trabalhei cinco anos no Banco Português do Atlântico, fiz um mestrado em Finanças em Inglaterra, regressei e estive na Bolsa dois anos. Depois acabei por regressar a Inglaterra e fui dando aulas por todo o mundo ao sector financeiro, desde a União de Bancos Suíços, em Londres, Zurique e Nova Iorque, Credit Suisse, Merrill Lynch, Banco de Inglaterra. Ao longo destes anos, vi sempre que no sistema financeiro estão muito mais preocupados com os lucros das instituições, com os seus bónus, do que com os interesses dos clientes. Em 2002, foi-me pedido se alguém em Braga podia abrir uma agência de uma corretora e achei que seria uma oportunidade. O que constatámos foi que as pessoas não analisam os activos, não têm paciência para esperar uma boa oportunidade de investimento que lhes dê frutos e usam o mercado financeiro quase como um jogo de sorte e azar. Esta não pode ser a abordagem à criação de valor. Entendemos a partir de 2006 que o que fazia sentido era criar uma casa com o nosso nome, em que conseguíssemos alinhar interesses com os clientes.

Algo que não acontecia no mercado...

O grande problema é que enquanto um lado, para maximizar o resultado tem de estar sempre a comprar e a vender, o outro tem alguém que quando mais o fizer menos lucros vai ter, porque as comissões custam dinheiro. Para nós era fundamental que o modelo de negócio fosse sobre o património do cliente. Ou seja, criar uma filosofia de valor e orientar os clientes para o médio, longo prazo. As pessoas normalmente gerem o seu dinheiro focadas no curto prazo, num depósito a prazo, que vão renovando, e muitas vezes o que fazem num bom investimento são capazes de o perder em três ou quatro maus. Por isso, o que fazia sentido era ter uma casa independente de bancos em que temos imenso prazer em tornar os clientes mais ricos. No livro “Investimento em Valor”, traduzido por um dos nossos administradores, e em que escrevo o prefácio, conto como se decidiu isto. Estava em Londres a fazer uma formação com um professor com quem dei aulas 14 anos pelo mundo, e ele ofereceu-me um livro do Warren Buffett, o Buffettology, que já conhecia, mas que ao ler fiquei a conhecer mais profundamente a forma como geria os activos e como fazia sentido ser dessa forma. Foi a partir daí que o Hugo Roque – co-fundador da Casa de Investimentos – foi pegando nestes livros, nos vários que depois fomos comprando, e descobriu muito mais sobre a filosofia de investimento em valor e o modelo, o método de investimento que é consistente e que há mais de oito décadas prova que cria imensa riqueza. A maior prova ou mais conhecida é Warren Buffett, mas há um conjunto de investidores extraordinários que criaram riqueza para os accionistas e os clientes e é nisto em que acreditamos. O dinheiro tem uma importância muito grande na vida. Estamos ainda a falar de um País com problemas financeiros, onde a Segurança Social se vai retirando cada vez mais e, por isso, acho que esta ideia de criar valor a prazo é extraordinária. E temos histórias muito boas com os nossos clientes. O que o investidor em valor faz é comprar activos com um grande desconto face ao seu real valor.

Investem essencialmente em acções...

Investimos essencialmente em acções, embora muitas vezes tenhamos uma parte tão relevante do património de uma família que nos é pedida uma parte do património mais alocada em obrigações. Fazemos as duas coisas. Aliás, a minha escola é a da taxa fixa, a minha tese de mestrado é na Modelização da Curva de Rendimentos, o trabalho que fiz de doutoramento foi na área de Risco de Crédito, por isso compreendemos muito bem a taxa fixa e tudo gira à volta do custo do dinheiro. Hoje, na nossa opinião, o investimento em obrigações não é uma boa alternativa de rendimento, já que para termos segurança máxima, temos rendimento de quase zero. A Casa de Investimentos está muito mais vocacionada para acções porque entendemos que são o que cria riqueza no mundo. Se reparar, grande parte dos investimentos de taxa fixa, ao longo do tempo, são corroídos pela inflação, a inflação retira-lhes o valor. Porquê? Porque quando uma instituição emite uma obrigação a 10 anos, daqui a 10 anos vai devolver exactamente o mesmo dinheiro e hoje vai pagar uma taxa de 1,5 ou 2 ou 3,5%. É claro que se for com risco elevado, então já põe em causa o capital e é para isto que nós sensibilizamos os investidores. Nós gostamos é de investir em activos que produzam rendimentos crescentes ao longo do tempo. Procuramos que nas contas dos nossos clientes haja um conjunto diversificado de acções, de grandes empresas mundiais, empresas com enormes vantagens competitivas que ano a ano conseguem aumentar os seus lucros, que ano a ano aumentam os dividendos.

Pode dar um exemplo?

Um dos maiores investimentos que fizemos nos últimos quatro anos foi na Johnson & Johnson, uma empresa que há 53 anos consecutivos aumenta o dividendo. Os últimos resultados vêm acima do esperado novamente. Tem 18 mil milhões de dólares para ir ao mercado comprar outros negócios que agora estão baratos e vão ampliar as suas vantagens. A Casa de Investimentos o que entende é que a solidez está em identificar estas máquinas de criar riqueza no mundo e comprá-las quando estão baratas.

Portanto só investem em empresas sólidas...

Só investimos em activos sólidos, acções de grandes empresas mundiais que compramos quando estão em desconto. Não quer dizer que às vezes não fiquem durante algum tempo mais baratas do que o preço pelo qual as comprámos, porque nunca acertamos no mínimo. Mas o segredo é esperar. Costumo dizer que primeiro faz-se uma análise profunda dos activos e depois é disciplina férrea, só comprar quando está barato e ter paciência para aguardar os frutos. É por isso que a Casa de Investimentos é a instituição em Portugal com melhores rentabilidades.

Tem áreas de negócio onde prefere investir, como as tecnologias ou o retalho?

Nós temos presente a diversificação sectorial, mas analisamos sobretudo as oportunidades individualmente. Gostamos de ir à pesca num oceano muito grande e gostamos sobretudo de muitas características que vemos em empresas americanas. Nós gostamos de empresas europeias e americanas, mas as europeias que são hoje excelentes empresas, muitas delas não são bons investimentos, não estão com grande desconto. Temos algumas, mas continuamos a encontrar mais valor a um preço mais baixo nos Estados Unidos.

Quem são os vossos principais clientes? Empresários?

Sim, são empresários, profissionais liberais, médicos. Estamos fisicamente em Braga, mas temos clientes um pouco por todo o país e grande parte dos contactos que nos são feitos – a Casa de Investimentos não tem comerciais – são recomendações dos nossos clientes a familiares ou amigos e tem sido esse o nosso crescimento.

Qual é o montante mínimo para ser cliente da Casa de Investimentos?

São 50 mil euros.

O segredo é esperar. Costumo dizer que primeiro faz-se uma análise profunda dos activos e depois é disciplina férrea, só comprar quando está barato e ter paciência para aguardar os frutos. É por isso que a Casa de Investimentos é a instituição em Portugal com melhores rentabilidades.

E estão a considerar alargar este leque a investidores mais pequenos?

Temos em curso com o processo de licenciamento para ser também gestora de fundos. Quando a Casa de Investimentos conseguir oferecer um fundo de investimentos à pequena poupança, à abertura de contas individuais, terá de ser aumentado o montante mínimo para um valor mais elevado. O cliente individual quer faça um reforço de 3 mil, 30 mil ou 50 mil euros na sua conta, esta vai ser ajustada e gerida individualmente, e isto também representa um custo de atenção. A partir do momento em que temos esse serviço, temos que oferecer um serviço de primeira classe. É claro que nós não o vamos poder fazer para centenas e centenas de clientes. Nesta altura temos pouco mais de 200 clientes e não iremos alargar muito mais, porque entendemos que depois se perde a qualidade do serviço. Nunca vamos querer pôr em causa a rentabilidade dos nossos clientes. Não temos interesse nenhum em ser muito grandes, temos interesse em ser a melhor gestora em Portugal, os melhores gestores de dinheiro em Portugal. Isso acho que já somos. Somos mais pequenos, ainda gerimos valores baixos, mas também é a natureza do investidor português que muitas vezes não distingue risco de volatilidade. As acções são, de facto, mais voláteis e não quer dizer que tenham mais risco do que muitas obrigações ou investimentos. O que para nós é importante é mostrar esta diferença.

O que é que considera investimentos seguros?

O investimento seguro passa por seleccionar activos sólidos. A solidez de uma empresa é que transmite a segurança, depois a rentabilidade alcança-se comprando barato. O princípio deve ser comprar um activo sólido barato. Há pouco tempo escrevi um artigo em que perguntava “Vendia a sua casa se lhe pagassem menos 30% do que vale? Por que é que o faz nas acções?”. Quando estamos a falar de empresas como a Microsoft, Apple, Google ou Pfizer ou Johnson ou Nestlé, estamos a falar de activos que têm uma liquidez tão grande que no dia-a-dia é possível entrar e sair sem perdas. Esta grande liquidez, e a vantagem de poder aproveitá-la e comprar um activo com grande desconto, o investidor não a usa, tem medo. E uma parte do que fazemos é ensinar, é explicar às pessoas. Essa também foi a ideia que nos levou a traduzir o livro “Investimento em Valor”. Somos pioneiros em Portugal, não há mais nenhuma instituição que verdadeiramente o faça: olhar para o dinheiro do cliente e não o “atirar” todo para o mercado ao mesmo tempo. Este é um investimento gradual que se vai fazendo à medida que se encontrem os tais activos sólidos a desconto de valor. Dito isto, eles vão ter volatilidade, mas não quer dizer que sejam mais arriscados. Risco é a probabilidade de perda permanente de capital. Volatilidade são variações que por vezes são temporárias. Não vou dizer que o investidor não tem razão para ter medo. Hoje, encontramos empresas extraordinárias a transaccionar em múltiplos que não víamos há cinco, seis anos. Hoje, o potencial da nossa carteira de investimento é de uma valorização de cerca de 80%, o que não sabemos é quanto tempo vai ser necessário para fazermos esses 80%. Mas mesmo que fosse em quatro ou cinco anos era uma rentabilidade muito boa. O que procuramos é motivar a pessoa primeiro para preservar valor. A grande questão do investimento é não perder dinheiro, por isso Warren Buffett tem uma frase que é “A primeira regra é não perder dinheiro e a segunda é não esquecer a primeira”. Este deve ser o princípio do investimento seguro. O investidor em Portugal tem uma história terrível. Há dias víamos na Bloomberg o comportamento do PSI20 nos últimos 15 anos e efectivamente perdeu dois terços do seu valor... Desapareceu um conjunto de empresas de grande capitalização.

Ninguém nos ensina como é que devemos gerir o dinheiro e, hoje, a complexidade dos produtos que a banca apresenta às pessoas é de tal ordem que não consigo entender por que é que as pessoas põem uma assinatura no escuro.

Numa conferência na Faculdade de Direito de Lisboa, Jorge Tomé, antigo presidente do Banif, criticou fortemente a actuação do Banco de Portugal e da DGCom relativamente ao processo de resolução do Banif. Partilha da opinião de que o Banco de Portugal neste momento não actua como regulador do mercado?

Não é fácil resolver a crise grave que temos no sistema financeiro, não é fácil para o regulador e não é fácil até para os governantes. As pessoas devem-se lembrar que, muitas vezes, os chamados livros dos bancos não são assim tão fáceis de auditar, de supervisionar. Dito isto, não foi apenas Portugal que teve um problema grave, houve um problema grave em Inglaterra, Irlanda, e que começou nos EUA. Respondo com algo que me disseram há tempos. Visitei um empresário para lhe apresentar a Casa de Investimentos e abrir uma conta e ele disse-me: “Perdi dinheiro no BPP, e pelos vistos houve crime mas ninguém está preso. Perdi dinheiro no BES e ninguém está preso. Portanto, a senhora não tem qualquer incentivo para fazer bem ou para não deixar de fazer asneiras, portanto não vou abrir a conta. Se as pessoas estivessem presas, eu poderia abrir a conta.” Ninguém nos ensina como é que devemos gerir o dinheiro e, hoje, a complexidade dos produtos que a banca apresenta às pessoas é de tal ordem que não consigo entender por que é que as pessoas põem uma assinatura no escuro. E faz muito mais confusão por estarmos num país tão pobre, onde precisávamos tanto de capital, onde precisávamos de capital estrangeiro... O que eu acho que Portugal tem de maior problema é que demora muito tempo a tomar as resoluções. Os acidentes acontecem, os problemas acontecem, mas demorar três anos, a resolver problemas que se resolviam em meses... 

Têm investimento alocado em alguma empresa do PSI20?

Nesta altura temos ainda acções do Banco Português de Investimento (BPI). Quando comprámos fizemo-lo porque o vimos com um desconto enorme face ao seu valor contabilístico e achamos que o banco tem uma gestão sensata. Apesar de viver num ambiente muito difícil, economicamente adverso, achámos que a margem de segurança era tão grande – a diferença entre o valor contabilístico é uma medida muito sensata na banca, uma vez que os activos têm grande liquidez – que efectivamente o banco tinha um desconto muito grande. Hoje é nossa opinião que a última resolução do Banco de Portugal vem tornar mais difícil a vida das instituições financeiras em Portugal no que diz respeito ao financiamento. Ora uma instituição financeira trabalha muitas vezes mais com capitais alheios do que próprios, o que significa que num contexto em que o acesso ao capital lhe for encarecido – e os clientes e os institucionais internacionais não gostaram de ver a sua dívida sénior não ser paga, não gostaram desta resolução – obviamente vai criar dificuldades futuras à banca, até porque está também num contexto de taxas de juro muito baixas que se deve manter por tempo prolongado. A economia europeia está ainda numa fase muito débil de recuperação ao contrário da economia americana, que está já mais avançada e que, embora possa ser lenta, está num contexto de subida de taxas. Na Europa temos ainda as taxas muito esmagadas, temos a curva de rendimentos do mercado alemão negativa até ao sexto ano e isto diz tudo. Temos multinacionais como a Total que emite dívida com um spread de 0,65, acima da Euribor a três meses que é negativa. E isto também mostra que os investimentos em taxa fixa hoje estão extremamente condicionados e também por isso achamos que os investimentos em acções são hoje muito melhores para uma boa carteira, com boas perspectivas para o futuro de crescimento e valorização. Por isso, nesta altura, diria que mesmo este investimento no BPI é um investimento do qual estamos a ponderar sair.

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