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Segundo Dr. Frank Murtha, autor deste ensaio, existem dezenas de vieses – ou “armadilhas mentais” que podem afetar adversamente a tomada de decisões de investimento.

Criar e seguir um processo de investimento ponderado e focado em objetivos de longo prazo pode ajudar a combatê-los. Este ensaio analisa cinco dos vieses mais comuns, insidiosos e destrutivos.

Heurísticas

As Heurísticas podem ser entendidas como “regras básicas” ou atalhos que as pessoas empregam na tomada de decisões.

  • Ancoramento: Estabelece um ponto de referência que influencia, bem ou mal, a tomada de decisões financeiras.
  • Viés da Disponibilidade: A tendência de sobrevalorizar a probabilidade de eventos que são recentes, pessoais e emocionais, ou seja, eventos que estão psicologicamente mais disponíveis.

Teoria do Prospeto

Desenvolvida por Daniel Kahneman e Amos Tversky, a Teoria do Prospeto afirma que as perdas magoam pelo menos duas vezes mais que a euforia resultante de ganhos comparáveis.

  • Enquadramento: A forma como a informação nos é apresentada (copo meio-cheio ou meio-vazio) pode enviesar a nossa interpretação.
  • Extrapolação: A tendência para nos focarmos em demasia nas tendências atuais e para acreditarmos que elas continuarão ou ganharão velocidade. 

Planeamento

  • Falácia do Planeamento: A tendência para subestimar a quantidade de tempo/dinheiro necessários para atingir com sucesso os objetivos, incluindo objetivos financeiros de longo prazo.

Níveis de Alerta nos Vieses

Os investidores são humanos. Corremos sempre riscos de vieses na nossa tomada de decisão e análise. No entanto, alguns vieses são mais prevalentes em determinados momentos do investimento.

Amarelo: Significa que o viés tem uma maior probabilidade de surgir acima dos níveis de base. Os investidores devem estar atentos.

Laranja: Significa que os vieses são significativamente mais prevalentes e prejudiciais do que os níveis de base. Os investidores devem estar atentos e os vieses devem ser cuidadosamente monitorizados.

Vermelho: Significa o nível máximo de perigo. Os vieses encontram-se no seu máximo poder destrutivo nestas ocasiões. Um esforço concertado deverá ser feito para reconhecer e enfrentar estes vieses.

O Processo de Investimento e o Guia de Alerta contra Vieses

Etapa 1: Inventário de Ativos

O inventário de ativos é o primeiro passo natural de um processo de planeamento eficiente.

É a contabilidade da riqueza presente e outros ativos, assim como de fontes de rendimento esperadas. Esta etapa vital, quando executada adequadamente, fornece uma plataforma para o destino, caminho e veículos que definirão a viagem.

Para muitas pessoas, a etapa do inventário de ativos representa o verdadeiro primeiro passo de um plano de investimento estratégico com um gestor de patrimónios.

Alerta de Vieses:

O Ancoramento pode surgir sub-repticiamente no processo de investimento quando estabelecemos pontos de referência monetários.

Um nível de base essencial surge quando estabelecemos o valor monetário dos ativos de um investidor. Este número torna-se no ponto de referência para todos as perdas e ganhos futuros.

Por exemplo, um valor líquido que caia abaixo do número original do inventário de ativos pode criar um sentimento de frustração e desalento que origina comportamentos impulsivos (comprar, vender, ou mudar de gestor).

No longo prazo, estas ações impulsivas causam frequentemente mais danos que benefícios.

Etapa 2: Estabelecer Metas e Objetivos

É ao estabelecer metas e objetivos que o destino da viagem de investimento é determinado.

Dá-se nesta etapa uma transferência do foco nos meios (os ativos investíveis) para o foco nos fins (os desfechos reais).

Os objetivos e metas podem não ser completamente preconizados (e podem sofrer alterações ao longo do tempo), mas devemos envidar todos os esforços para que sejam o mais detalhados possível.

Fazer isto é financeiramente importante porque facilita a priorização de decisões e a monitorização do progresso; é também importante psicologicamente porque pode ajudar as pessoas a concentrar-se no motivo “porque” estão a investir.

Esta é frequentemente uma questão mais saudável do que “como” estão a investir.

Alerta de Vieses:

Existe uma tendência quase universal de subestimar o custo e duração de tempo necessário para atingir objetivos de longo prazo.

A Falácia do Planeamento é significativa na Etapa 2 porque muitas pessoas tendem a encarar a viagem do investimento como um passeio e não como um tapete rolante. Se não avançarmos mais depressa que a inflação, estamos, em termos de poder de compra real, a andar para trás.

Ironicamente, é a Falácia do Planeamento que impede muitos investidores de não ter um plano de investimento.

Os clientes que subestimam a importância de começar a investir o mais cedo possível e reforçar o investimento frequentemente, ou que acreditam que ainda há tempo de investir mais tarde, são vítimas da Falácia do Planeamento.

Enquadramento: É mais fácil pensar no que queremos do que no que não queremos.

As pessoas em geral preferem objetivos positivos. No entanto, é importante levar também em consideração as coisas desagradáveis. Invalidez, cuidados de saúde de longo prazo, morte – intempestiva ou não – devem ser tidos em conta no processo de planeamento.

Quando as pessoas enquadram as suas metas e objetivos apenas ao longo de linhas positivas (o que querem), arriscam-se a não ter um plano de contingência para aquilo que não querem.

Etapa 3: Criação do Plano e Implementação

As primeiras duas etapas estabelecem um ponto de partida e um destino, respetivamente.

A Etapa 3 é onde a verdadeira viagem de investimento tem início. Antes de mais, é desenvolvida uma Política de Investimentos (PI) onde é exposta a filosofia de investimento, linhas de ação e restrições.

Com base na PI, é selecionado um portfólio de investimentos que leva em conta não apenas fatores financeiros (por exemplo, os retornos necessários para atingir determinados objetivos) mas também psicológicos (tolerância ao risco, por exemplo).

Com a Política de Investimentos ratificada, o investimento – com todos os riscos e recompensas – pode começar.

Alerta de Vieses:

Extrapolação: Comprometer capital a um plano de investimentos exige sempre um ato de fé.

Muitas vezes, os investidores sentem a tentação de alterar um plano já estabelecido ou de adiar a sua implementação devido ao clima geopolítico ou financeiro que se vive.

Todas as decisões de investimento são tomadas para o futuro, mas no presente. As tendências do presente exercem uma força psicológica poderosíssima.

Na Etapa 3, a Extrapolação pode sobrevalorizar a importância dessas tendências, fazendo com que a viagem de investimento comece com o pé errado.

Intimamente ligado à Extrapolação, está o Viés da Disponibilidade. Os eventos recentes, particularmente aqueles que nos são próximos e têm uma carga emocional muito forte, podem ter um impacto desproporcional na psicologia do investidor.

A tendência de sobrevalorizar o impacto destes acontecimentos pode transformar aquilo que deveria ser uma decisão para a vida ponderada com base em fatores múltiplos numa decisão tomada com base num único evento – para o qual o risco não foi devidamente calibrado.

Os espetadores de canais financeiros e seguidores de eventos correntes correm os maiores riscos. Notícias más e assustadores são, e continuarão a ser, parte da vida.

Os investidores devem recordar-se que os seus objetivos são de longo prazo.

Etapa 4: Monitorização

O destino foi marcado, um caminho traçado e a viagem teve início.

A esmagadora maioria do processo de investimento tem lugar na Etapa 4 com a monitorização de onde nos encontramos na viagem, se estamos dentro da rota traçada e quão próximos nos encontramos do destino.

A probabilidade de aqui encontrarmos mais vieses e emoções aumenta substancialmente uma vez que esta etapa dura tipicamente muitos anos.

Alerta de Vieses:

Para muitos investidores, o problema não é a falta de um plano, é a incapacidade de se manter fiel à sua implementação.

A Extrapolação durante a Etapa 4 é frequentemente a causa principal; este é o motivo pelo qual muitos investidores acabam por comprar caro e vender barato.

Os investidores travam uma batalha psicológica permanente para se libertarem do foco no curto prazo dos mercados e regressarem ao foco de longo prazo dos seus objetivos.

O Viés da Disponibilidade encontra-se num nível permanentemente elevado durante o processo de monitorização uma vez que eventos emocionalmente carregados estão constantemente a “acontecer” e cada um deles tem o potencial de alterar o sentimento dos investidores em relação ao seu portfólio.

Ainda que um evento isolado não cause inquietação no investidor, a barragem incessante de “más” notícias poderá ter um efeito cumulativo que pode desviar o investidor da rota traçada e até do investimento em geral.

Enquadramento: Os investidores notarão que mesmo os portfólios com fortes performances flutuam em valor.

Frequentemente, os mercados sobem ou descem muito rapidamente num período relativamente curto de tempo.

A forma como os investidores enquadram estes períodos, por exemplo, ganhos de longo prazo versus perdas de curto prazo, durante a Etapa 4 pode ter um profundo efeito na sua psicologia.

Os investidores com a última reação – enquadramento de perda – poderão gerar reações emocionais mais influenciadas por arrependimento, desapontamento e frustração.

Estas emoções fazem com que seja mais difícil seguir um plano e raramente levam a tomadas de decisão ponderadas.

Relacionado com o Enquadramento, está a heurística Ancoramento. Mostrei na Etapa 1 que o inventário de ativos pode criar uma âncora poderosa.

Uma outra âncora poderosa emerge na Etapa 4, o “máximo histórico”. Tipicamente, gera emoções positivas e, idealmente, deveria acontecer de uma forma regular.

No entanto, a acumulação de riqueza é muitas vezes uma ascensão “dentada”, não é suave.

Os investidores encaram, por vezes, estes recuos inevitáveis dos máximos como falhanços ou estagnação, o que pode conduzir a decisões emocionais.

Etapa 5: Ajuste/Rebalanceamento

A viagem de investimento é como qualquer outra viagem. Mesmo as viagens mais bem planeadas podem encontrar trânsito, desvios ou alterações no destino final.

A Etapa 5 transforma a monitorização vigilante da Etapa 4 e tradu-la em comportamentos de investimento (quando necessários) que mantenham os investidores na rota traçada.

Estes ajustes podem ser planeados (por exemplo, transições de vida, revisões anuais, rebalanceamentos) ou não (movimentos de mercado exagerados, eventos inesperados).

As Etapas 4 e 5 têm uma relação cíclica e reiterativa. A Etapa 5, no entanto, é talvez a mais crítica do processo de investimento.

É aqui que muitos investimentos podem descarrilar, quer seja porque abandonamos um plano que estava a funcionar, quer seja porque não ajustamos o investimento face a novas informações.

Alerta de Vieses:

Extrapolação: Sabemos que os investidores têm tendência a perseguir as modas, mas poucos têm consciência de quão devastadora pode ser essa tendência.

Os estudos da DALBAR -  “DALBAR’S Annual Quantitative Analysis of investor Behavior. 2016" - sobre a performance dos investidores individuais versus a performance do mercado demonstram que o prejuízo para o investidor individual poderá ascender a milhares de dólares (por vezes, centenas de milhares) ao longo da vida.

De facto, os movimentos de saída ou entrada no mercado podem, na realidade, representar um indicador negativo da direção do mercado. (Por exemplo, quando investidores estão a vender ações, isso pode ser um bom sinal de compra para outros investidores mais focados no longo prazo.)

Existem inúmeros fatores em jogo, mas a Extrapolação desempenha um papel de destaque. Ao atrair as pessoas para a tendência corrente, a Extrapolação cria um quadro de pensamento de curto prazo.

O pensamento de curto prazo não só gera emoções – medo, euforia, arrependimento, desespero – mas também dá a essas emoções um papel muito maior na tomada de decisões.

Este viés, nesta Etapa, pode ser considerado o maior destruidor de riqueza no investimento.


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