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Autoria
Paul McCaffrey
Paul McCaffrey

Artigo publicado originalmente no blog Enterprising Investor

Daniel Kahneman: Quatro Chaves para uma Melhor Tomada de Decisões

Daniel Kahneman, galardoado com o prémio Nobel, transformou as áreas da economia e do investimento. Na sua essência mais básica, as suas revelações demonstram que os seres humanos e as decisões que tomam são muito mais complexas – e muito mais fascinantes – do que previamente pensávamos.

Na 71ª Conferência Anual do Instituto CFA, em Hong Kong, Kahneman fez uma apresentação cativante de algumas das ideias chave que orientaram a sua carreira: a intuição, a especialidade, vieses, ruído, como o otimismo e o excesso de confiança influenciam o sistema capitalista e como podemos melhorar a nossa tomada de decisões.

“O otimismo é o motor do capitalismo,” diz Kahneman. “O excesso de confiança é a maldição. Uma maldição e uma bênção. As pessoas que conseguem grandes feitos, se olharmos para trás, elas eram excessivamente confiantes e otimistas. Correm enormes riscos porque subestimam o quão enormes são esses riscos.”

No entanto, ao analisar apenas as histórias de sucesso, as pessoas estão a aprender as histórias erradas.

“Se olharmos para toda a gente,” nota Kahneman, “há muitos falhanços.”

Os Perigos da Intuição

A intuição é uma forma daquilo a que Kahneman chama pensamento rápido, ou Sistema 1, e frequentemente baseamos as nossas decisões no que o Sistema 1 nos diz.

“Confiamos na nossa intuição mesmo quando está errada,” conclui.

No entanto, nós podemos confiar nas nossas intuições – desde que elas se baseiem no conhecimento real. E embora adquiramos conhecimento pela experiência, esta, isoladamente, não é suficiente.

De facto, estudos demonstram que a experiência aumenta a confiança com que as pessoas se agarram às suas ideias, mas não aumenta necessariamente a precisão dessas ideias. O conhecimento exige um tipo particular de experiência, uma que exista num contexto que ofereça feedback regular, que seja efetivamente testável.

Será o mundo em que a intuição surge suficientemente regular para que tenhamos a oportunidade de aprender as suas regras?” questiona-se Kahneman.

No que diz respeito ao sector financeiro, a resposta é provavelmente não.

“É muito difícil imaginar, da análise psicológica do que é realmente o conhecimento, que se possa desenvolver verdadeiro conhecimento na previsão do comportamento dos mercados acionistas,” defende Kahneman. “Não é possível porque o mundo não é suficientemente regular para que as pessoas aprendam as regras.”

Isto não impede as pessoas de preverem, com elevado grau de confiança, desfechos financeiros com base na sua experiência.

“Isto é um puzzle psicológico,” declara Kahneman. “Como pode alguém aprender quando não existe nada para aprender?”

Este tipo de intuição é na realidade superstição. O que significa que não devemos assumir que temos conhecimento em todos os domínios em que temos intuições. E não devemos assumir que os outros o têm.

“Quando alguém nos diz que tem um forte feeling acerca de um evento financeiro”, alerta Kahneman, “o a coisa segura a fazer é não acreditar.”

Alerta de Ruído

Mesmo em áreas do conhecimento testáveis, onde as relações causais são facilmente discerníveis, o ruído pode distorcer os resultados.

Kahneman descreve um estudo que analisou avaliadores de risco (underwriting) numa seguradora bem gerida. Embora esta não seja uma ciência exata, a avaliação de risco é uma área com regras que se podem aprender e onde o conhecimento pode ser desenvolvido. Os avaliadores têm acesso ao mesmo ficheiro e determinam um prémio. São esperadas divergências nos prémios que cada avaliador determina. A questão é, quão larga é a divergência.

“Que percentagem esperaria?” questiona Kahneman. “O número que vem à cabeça mais frequentemente é 10%. É relativamente alto e um juízo conservador.”

No entanto, quando a média foi calculada, chegou-se a uma divergência de 56%.

“Isto, na realidade, significa que os avaliadores estão a perder tempo,” declara Kahneman. “Como é possível que alguém ter tanto ruído no seu julgamento e não estar consciente disso?”

Infelizmente, o problema do ruído não está limitado à avaliação do risco nas seguradoras. E não exige múltiplas pessoas. Muitas vezes, uma é suficiente. Na realidade, mesmo em disciplinas mais binárias, utilizando os mesmos dados e o mesmo analista, os resultados podem divergir.

“Onde houver julgamento, há ruído e provavelmente muito mais do que pensamos”, declara Kahneman.

Por exemplo, foram mostradas a radiologistas uma série de radiografias e foi-lhes pedido um diagnóstico. Nalguns casos, a radiografia era a mesma.

“Num chocante número de casos, o diagnóstico foi diferente,” conclui Kahneman.

O mesmo aconteceu com analistas de impressões digitais e ADN. Ou seja, mesmo em casos onde deveria existir uma única resposta incontestável, o ruído pode tornar a certeza impossível.

“Utilizamos demasiadas vezes a palavra viés.”

Embora tenha dedicado a maior parte da sua carreira a estudar vieses, Kahneman dedica-se agora ao ruído. Os vieses, segundo Kahneman, podem ser diagnosticados em excesso, e recomenda que assumamos que o ruído é o culpado na maioria dos erros na tomada de decisões.

“Devemos pensar no ruído como uma explicação possível, uma vez que o ruído e os vieses levam-nos a remédios diferentes,” conclui Kahneman.

Retrospetiva, Otimismo e Aversão à Perda

Obviamente, quando cometemos erros, eles tendem a manifestar-se em duas direções opostas.

“As pessoas são muito avessas a perdas e muito otimistas. Trabalham umas contra as outras. As pessoas, porque são otimistas, não têm consciência de quão reduzidas são as probabilidades.”

Tal como a pesquisa de Kahneman demonstrou, sentimos perdas mais agudamente do que ganhos.

“A nossa estimativa em muitas situações é de 2 para 1,” conclui Kahneman.

Ainda assim, tendemos a sobrestimar as nossas chances de sucesso, especialmente durante a fase de planeamento. E após o desfecho, a retrospetiva é perfeita: o proquê das coisas terem ou não funcionado é sempre óbvia depois do facto.

“Quando algo acontece, compreendemos imediatamente como acontece. Temos imediatamente uma história e uma explicação”, diz Kahneman. “Temos a impressão que aprendemos algo e que não cometeremos o mesmo erro novamente.”

Estas conclusões estão, habitualmente, erradas. A conclusão não deveria ser uma relação causal.

“O que deveríamos aprender é que fomos, mais uma vez, surpreendidos,” Diz Kahneman. “devemos aprender que o mundo é muito mais incerto do que pensamos.”

Portanto, no mundo das finanças e dos investimentos, onde há tanto barulho e preconceito e tão pouca experiência e intuição confiáveis, o que podem os profissionais fazer para melhorar a sua tomada de decisões?

Kahneman propõe quatro estratégias simples para uma melhor tomada de decisões que podem ser aplicadas tanto às finanças como à vida.

1. Não confie nas pessoas, confie em algoritmos

Quer seja na previsão de quem vai violar a liberdade condicional, ou ter sucesso como analista financeiro, os algoritmos tendem a ser preferíveis ao julgamento humano independente.

“Os algoritmos batem os indivíduos em cerca de metade das vezes. E empatam a outra metade,” diz Kahneman. “Há muitos poucos exemplos de pessoas com melhor performance do que algoritmos em julgamentos preditivos. Assim, quando tivermos a possibilidade de utilizar um algoritmo, devemos fazê-lo. Temos a ideia de que a construção de um algoritmo é muito complexa. Um algoritmo é uma regra. Podemos simplesmente criar regras.”

E quando não conseguirem utilizar um algoritmo, devemos formar as pessoas para o simular.

“Formar pessoas numa forma de pensar e numa forma de abordar problemas que imponha uma uniformidade,” conclui Kahneman.

2. Tenha uma visão global

Não veja cada problema isoladamente.

“O melhor conselho que podemos dar sobre o enquadramento é o enquadramento amplo”, diz Kahneman. “Encare a decisão como membro de uma classe de decisões que provavelmente terá que tomar.”

3. Teste o seu arrependimento

“Nas finanças pessoais, o arrependimento é provavelmente o maior inimigo da boa tomada de decisões,” diz Kahneman.

Avalie a sua propensão para o arrependimento. Quanto maior o potencial para o arrependimento, mais provável será a rotação excessiva da carteira, as vendas no momento errado e as compras a preços excessivos.

4. Procure bons conselheiros

Um dos componentes para conseguir uma perspetiva ampla é cultivar a curiosidade e procurar orientação.

Quem é então o conselheiro ideal? “Uma pessoa que gosta de si e que não se importa em ferir os seus sentimentos,” declara Kahneman.

Para ele, essa pessoa é Richard H. Thaler, também galardoado com o prémio Nobel.

“Ele gosta de mim,” acrescenta Kahneman. “E não se importa nada em ferir os meus sentimentos.”


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