Autoria
Emília O. Vieira
Emília O. Vieira

Artigo publicado originalmente na edição de novembro da revista EXAME.

"Fiquei rico quando percebi isto"

A maior parte dos conselhos financeiros é sobre o presente. O que deve fazer agora e que ações parecem boas para comprar hoje? É isto que os investidores querem saber e é isto que dá mais comissões a todo o sistema financeiro. Ouvirá certamente, “agora fique conservador, pode vir aí uma recessão, as taxas de juro poderão ficar altas durante mais tempo, a guerra pode continuar, quando houver mais visibilidade, ou lá para o fim do ano, fique mais agressivo”. Isto é dito aos investidores com grande convicção (mas, se der jeito, com a mesma convicção lhe dirão o contrário).

Na maior parte do tempo, “hoje” não é importante.

O que realmente faz diferença ao longo da nossa vida, na nossa profissão ou como investidores é a forma como conseguimos pensar a longo prazo, que objetivos de vida queremos alcançar e traçar a estratégia que nos permita lá chegar com razoável grau de probabilidade, aprendendo com os erros que cometemos e corrigindo-os para que, no futuro, não se repitam.

Poupar e investir é importante para termos controlo sobre a nossa vida; é a importância que damos ao nosso futuro. De uma forma geral, somos ensinados a poupar, mas não somos ensinados a investir. Vivemos cada vez mais tempo, teremos cada vez menos Segurança Social nas nossas vidas e os rendimentos do trabalho caíram nas últimas quatro décadas, a nível mundial. Investir melhor não é um luxo; é uma necessidade.

Investir em quê?

As possibilidades de investimento são muitas. Agrupando-as em três categorias principais, temos os investimentos denominados em moeda (depósitos bancários, obrigações, fundos de tesouraria e outros); ações (de empresas cotadas e não cotadas, private equity ou capital de risco); e ativos físicos, em que se incluem o imobiliário (residencial ou comercial), ouro e colecionáveis.

Considerando que todos os ativos têm risco, o investimento deve ser visto como uma operação de alocação de capital que nos permita obter um retorno muito satisfatório com um nível de risco aceitável. Significa conquistar ganhos de poder de compra, após impostos. É importante referir que os ativos podem variar muito de preço e não serem arriscados, e muitos não variam de preço e estão carregados de risco (voltaremos aqui em futuros artigos).

O que nos diz a história financeira nos últimos 100 anos?

São muitos os estudos que demonstram que, nos últimos 100 anos, as ações foram a classe de ativos mais rentável, independentemente da geografia mundial. No caso americano, as ações tiveram uma rentabilidade média anualizada de 9,6% (6,6% acima da inflação).

Triunfaram o engenho humano e quem acreditou que as empresas, incorporando os avanços tecnológicos, conseguem produzir cada vez mais com menos. As empresas são o ativo onde os interesses estão mais alinhados: os donos do capital (os milhões de acionistas nas empresas cotadas) e os seus gestores perseguem o mesmo objetivo – fazer crescer a empresa e os seus lucros ao longo do tempo.

Porque não aproveitamos este conhecimento?

Tendo, hoje, o privilégio deste conhecimento, porque tão poucos investem em ações? A falta de literacia financeira e a própria indústria, que fomenta o lucro rápido e lucra com as comissões avultadas nos milhares de produtos que cria e vende, são o maior entrave.

Numa entrevista recente, Warren Buffett conta a sua história como investidor: começou a investir aos 11 anos em ações – tentava prever as variações do mercado e o que este iria fazer no dia ou na semana seguintes. Aos 19 anos, leu o livro O Investidor Inteligente, de Benjamin Graham, e a sua vida mudou. Compreendeu que comprar uma ação é ser dono de uma fatia de uma empresa, o que lhe dava o direito a receber a percentagem correspondente dos seus lucros, ano após ano. “Fiquei rico quando percebi isto”, afirmou Buffett. “Nunca mais comprei ‘ações’,
comprei negócios.”

Comprar ações é ser dono de negócios, e o retorno do investimento será medido pelos lucros que estes negócios geram. Devemos ignorar as cotações diárias e centrar a nossa atenção na riqueza que a empresa produz.

Post Scriptum

Desde a fundação da Casa de Investimentos, em 2010, escrevi mais de 200 artigos e ensaios na Imprensa. Este convite da revista EXAME para regressar à escrita é feito num contexto de grande incerteza, de vários conflitos geopolíticos sérios e de taxas de juro e inflação elevadas. Procuraremos adicionar valor e contribuir para que as decisões de investimento dos leitores sejam mais ponderadas e permitam obter melhores retornos a longo prazo.

Muito obrigada à revista EXAME pelo convite.


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