Voltar
Autoria
Morgan Housel
Morgan Housel

Originalmente publicado a 7 de outubro de 2021 no blog Collaborative Fund

A natureza mostra-nos como tudo funciona

Duas pequenas histórias da natureza que nos ensinam algumas coisas sobre o investimento:

1. Extremos levam a extremos.

Nos últimos dez anos, a Califórnia tem sido devastada por incêndios florestais. Continuamente, ano após ano. As longas secas transformaram as florestas em estopa seca.

Todos ficaram eufóricos quando 2017 trouxe um dos invernos mais húmidos que a Califórnia tinha visto na memória mais recente. Foi épico. Caíram em partes do Lago Tahoe – não estou a inventar – mais de 20 metros de neve em poucos meses. A seca de seis anos foi oficialmente declarada encerrada.

No entanto, os incêndios só pioraram. O ano mais chuvoso de que há memória foi seguido pela “temporada de incêndios florestais mais mortífera e destrutiva alguma vez registada”. E estas duas coisas estavam de facto relacionadas.

A chuva recorde de 2017 significou uma explosão no crescimento da vegetação. Foi a chamada superfloração e fez com que até as cidades do deserto se cobrissem de verde.

Isto parecia ótimo, mas tinha um risco oculto: em 2018, o verão seco transformou essa vegetação recorde numa quantidade recorde de lenha seca para alimentar novos incêndios.

A chuva recorde levou a fogos recorde.

Isto não é intuitivo, mas há uma longa história que podemos verificar analisando os anéis das árvores, que registam marcas de chuvas fortes e incêndios subsequentes. Os dois vão de mãos dadas. “Um ano chuvoso reduz os incêndios enquanto aumenta o crescimento da vegetação, mas o aumento da vegetação seca, nos anos secos subsequentes, aumenta assim o combustível para o fogo”, escreve a NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration).

O ponto é que eventos extremos numa direção aumentam a probabilidade de eventos extremos na direção contrária.

E não é isto que acontece no mercado de ações? E nos negócios?

O mercado de ações japonês é o exemplo mais citado de quando o investimento de longo prazo não funciona. O índice Nikkei transaciona hoje abaixo do que em 1990. Em 2012, transacionava 70% abaixo do que há 22 anos. Um desastre.

Pode haver muitas explicações para o que aconteceu, incluindo a demografia do Japão. Mas a principal causa é simples: os retornos foram tão extremos de 1950 a 1990 que não sobrou nada para as décadas seguintes.

O Nikkei subiu 400 vezes de 1950 a 1990, um retorno médio anual de mais de 16%. Nenhum outro país, em qualquer altura, conseguiu um desempenho tão bom no mercado de ações.

O que aconteceu nos últimos 30 anos é o reverso da medalha de um evento extremo numa direção, que levou a um evento extremo na direção contrária. Hoje maravilhamo-nos com o desempenho terrível do mercado de ações japonês, mas o verdadeiro choque é o desempenho anterior. Meio século de desempenho extraordinário numa direção pode levar a meio século de estagnação na outra.

Um bom recorde leva a um mau recorde – tal como nos incêndios da Califórnia.

O mesmo acontece nos negócios, onde o sucesso extremo aumenta as probabilidades de nos tornarmos felizes, complacentes e perdermos o pé. O facto de a WeWork ter angariado 12 biliões de dólares de investidores parecia um sucesso extraordinário – qualquer empresa se regozija num comunicado à imprensa quando angaria uma quantia impressionante. Mas quanto mais extrema é a captação de recursos, mais distorcido se tornou o negócio. Angariar dinheiro recorde quase a fez ficar sem dinheiro. Uma coisa similar acontece constantemente: a energia passou de preços negativos no ano passado para uma escassez global hoje. As rendas de NYC passaram de quedas brutais para aumentos meteóricos. A escassez leva a excessos, os busts semeiam o próximo boom.

Essa é a primeira lição da natureza: os extremos levam aos extremos.

2. Pequenas mudanças capitalizadas ao longo de extensos períodos de tempo são indistinguíveis da magia.

A força mais surpreendente do universo é óbvia. É a evolução. A “coisa” que “transformou” organismos unicelulares num humano que consegue ler este artigo num telefone. A “coisa” que é responsável pela visão 20/20 e pássaros voadores e sistemas imunitários. Nada na ciência nos consegue impressionar mais do que aquilo que a evolução conseguiu realizar.

O biólogo Leslie Orgel costuma afirmar que “a evolução é mais esperta do que nós” porque, sempre que um crítico diz “a evolução nunca conseguiria fazer isto”, o que geralmente lhes falta é imaginação.

A evolução também é fácil de subestimar devido à matemática básica.

O superpoder da evolução não é apenas selecionar características favoráveis. Essa parte é tão entediante, e se ela é a única coisa em que nos focamos, tornamo-nos céticos e confusos. As mudanças na maior parte das espécies, num determinado milénio, são tão triviais que são impercetíveis.

A verdadeira magia da evolução é que ela “trabalha” há 3,8 biliões de anos.

É o tempo, não as pequenas mudanças, que move a agulha. Se pegarmos em mudanças minúsculas e as capitalizarmos durante 3,8 biliões de anos, conseguiremos resultados que são indistinguíveis da magia.

Esta é a verdadeira lição da evolução: se temos um número enorme no espaço do expoente, não precisamos de mudanças extraordinárias para obter resultados extraordinários. Não é intuitivo, mas é poderoso. “A maior fraqueza da raça humana é a nossa incapacidade de compreender a função exponencial”, costumava dizer o físico Albert Bartlett.

E não é isto que acontece no investimento?

Howard Marks falou a certa altura sobre um investidor cujos resultados anuais alcançaram o quartil superior, mas, num período de 14 anos, ele esteve entre os 4% melhores de todos os investidores. Se ele conseguir manter esses retornos medíocres mais 10 anos, esse investidor poderá estar no top 1% dos seus pares – um dos maiores da sua geração, apesar de não se destacar em qualquer ano individual.

A maior parte do foco no investimento está naquilo que as pessoas podem fazer agora, este ano, ou talvez no próximo ano. “Quais são os melhores retornos que posso conseguir?” parece uma pergunta tão intuitiva de se fazer.

Mas, tal como na evolução, não é aí que a magia acontece.

Se compreendermos a matemática por trás da capitalização, percebemos que a pergunta mais importante não é “Como posso obter os maiores retornos?” É: “Quais são os melhores retornos que consigo sustentar pelo maior período de tempo?”

Isto não quer dizer que os bons retornos não importam. Claro que sim. Só que eles importam menos do que o tempo ao longo do qual esses retornos podem ser ganhos. “Excelente durante alguns anos” não é tão poderoso como “muito bom durante muito tempo”. E poucas coisas conseguem bater o “mediano durante muito tempo”. Retornos médios num período de tempo acima da média levam a retornos extremos.

“A única coisa que importa é onde estamos no longo prazo”, afirma Marks.

Esta é a segunda lição: menos foco na mudança, mais foco no expoente.


Esclareça as suas questões comerciais com um representante da Casa de Investimentos.

Serviço disponível nos dias úteis das 8h às 18h.

Save & Grow

Seja dono do seu destino.

Saiba mais