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Publicado originalmente a 14 de outubro de 2021 por Morgan Housel no blog Collaborative Fund
É rara a pessoa que quer ouvir o que não quer ouvir.
Richard Cavett
Uma grande parte de quase todas as histórias da História é que as expectativas movem-se mais lentamente do que os factos. As pessoas ficam investidas nas suas visões de como o mundo funciona. Mas o mundo pode funcionar de uma determinada maneira durante muito tempo e, de repente, ... bum ... abruptamente toma uma nova direção. As opiniões arrastam-se enquanto que os eventos saltam. É uma coisa complicada.
Na década de 60, antes de ficar velho, Warren Buffett gracejava acerca de aceitar conselhos de investidores mais velhos. “Eles sabem demasiadas coisas que já não são verdadeiras”, disse Buffett.
As opiniões mais fortes formam-se quando uma tendência se prolonga durante anos ou décadas, e a narrativa de “é assim que as coisas funcionam” é a via de menor resistência. As opiniões são reforçadas quando esta narrativa se torna parte da nossa identidade - onde trabalhamos, como investimos o dinheiro, com quem saímos e discutimos o que é verdade ou não.
Mas as coisas mudam. As tecnologias tornam-se obsoletas, os mercados exploram as oportunidades e as pessoas ficam entediadas com o que costumava ser empolgante. Os regulamentos mudam. As gerações evoluem. Acidentes e acasos empurram o mundo de formas impossíveis de prever. Uma coisa após a outra. Às vezes, essas mudanças acontecem literalmente da noite para o dia.
Então, o que acontece quando o mundo avança, mas as opiniões ficam para trás?
Encaramos situações em que o que é verdade parece loucura, porque as crenças das pessoas não acompanharam o ritmo da realidade.
Alguns exemplos:
E não é sempre assim?
São raras as alturas em que alguém que estava certo antes do tempo não parecesse, em determinado momento, um pouco louco.
Isto não quer dizer que devamos prestar atenção especial às pessoas que parecem loucas - a maior parte do contrarianismo é apenas cinismo à procura de atenção. Mas quando as expectativas se movem mais lentamente que a realidade, devemos sempre esperar que, quem quer que acabe por estar certo, acreditava em algo que, a certa altura, desafiava o bom senso da maioria das pessoas.
O que é um problema, uma vez que, embora a maioria das pessoas acredite que deseja boas informações, o que elas realmente querem é informação que confirme as suas crenças preestabelecidas.
O jornalista Chris Hedges explica o que acontece quando a bolha da crença de alguém é quebrada:
“A natureza da ilusão é que ela foi projetada para nos fazer sentir bem. Acerca de nós próprios, do nosso país, do nosso futuro – nesse sentido, a ilusão funciona como uma droga. Aqueles que questionam essa ilusão são desafiados não tanto pela veracidade do que dizem, mas por destruir esses sentimentos.”
Acho que existem apenas duas formas de sobreviver num mundo em que o que está certo parece quase sempre, no início, uma loucura.
Uma é manter a sua identidade pequena, como diz Paul Graham. Depois de uma opinião se tornar parte da nossa identidade, é quase impossível ver as suas falhas, quando se precisa de adaptar ou se já expirou. Quanto mais dizemos: "Eu sou um ...", menos capazes somos de perceber as grandes mudanças no mundo.
A outra é a humildade em prever as coisas que nos afetam pessoalmente. Poucas coisas são tão persuasivas como as previsões que queremos desesperadamente que sejam verdadeiras, e poucas coisas são tão fáceis de ignorar como as previsões que parecem um pouco loucas. O melhor que podemos fazer nesta situação é viver de uma forma que não dependa muito de algumas coisas aparentemente óbvias se tornarem realidade. Se o mundo funciona de 10 formas diferentes, quero dar-me bem em todas elas.