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Autoria
Morgan Housel
Morgan Housel

Publicado originalmente a 14 de outubro de 2021 por Morgan Housel no blog Collaborative Fund

Parece loucura

É rara a pessoa que quer ouvir o que não quer ouvir.
Richard Cavett

Uma grande parte de quase todas as histórias da História é que as expectativas movem-se mais lentamente do que os factos. As pessoas ficam investidas nas suas visões de como o mundo funciona. Mas o mundo pode funcionar de uma determinada maneira durante muito tempo e, de repente, ... bum ... abruptamente toma uma nova direção. As opiniões arrastam-se enquanto que os eventos saltam. É uma coisa complicada.

Na década de 60, antes de ficar velho, Warren Buffett gracejava acerca de aceitar conselhos de investidores mais velhos. “Eles sabem demasiadas coisas que já não são verdadeiras”, disse Buffett.

As opiniões mais fortes formam-se quando uma tendência se prolonga durante anos ou décadas, e a narrativa de “é assim que as coisas funcionam” é a via de menor resistência. As opiniões são reforçadas quando esta narrativa se torna parte da nossa identidade - onde trabalhamos, como investimos o dinheiro, com quem saímos e discutimos o que é verdade ou não.

Mas as coisas mudam. As tecnologias tornam-se obsoletas, os mercados exploram as oportunidades e as pessoas ficam entediadas com o que costumava ser empolgante. Os regulamentos mudam. As gerações evoluem. Acidentes e acasos empurram o mundo de formas impossíveis de prever. Uma coisa após a outra. Às vezes, essas mudanças acontecem literalmente da noite para o dia.

Então, o que acontece quando o mundo avança, mas as opiniões ficam para trás?

Encaramos situações em que o que é verdade parece loucura, porque as crenças das pessoas não acompanharam o ritmo da realidade.

Alguns exemplos:

  • Em 2009, o S&P 500 subiu 27% - um retorno fantá No entanto, de acordo com uma sondagem levada a cabo pela Franklin Templeton no início de 2010, 66% dos investidores pensavam que o S&P 500 tinha caído nesse ano. A ideia de que o mercado estava a subir parecia loucura, porque “o crash do mercado” era uma narrativa muito poderosa depois de 2008. As pessoas simplesmente se agarraram a essa narrativa.
  • Os trabalhadores com rendimentos mais baixos viram alguns dos maiores ganhos salariais, em termos percentuais. E isto não é apenas uma peculiaridade resultante da pandemia – tem sido assim desde 2018. “O crescimento recente para trabalhadores com salários baixos ultrapassou o de trabalhadores com salários altos pela maior margem, em pelo menos 20 anos”, escreveu o New York Times no ano passado. Isto parece loucura, porque vai contra a narrativa de longa data de que os trabalhadores com salários elevados estão a crescer enquanto que o fundo da tabela estagna e encolhe.
  • A demografia da China é tão pobre que, nos próximos anos, vai enfrentar uma escassez de mão de obra, como poucos outros países enfrentaram antes. A sua população total está já a diminuir. Isto parece loucura porque é o país mais populoso do planeta e sinónimo de crescimento rápido e fonte infinita de mão de obra barata. No entanto, a sua população em idade ativa cairá mais de 20% nos próximos 30 anos.
  • No último ano, as ações da ExxonMobil duplicaram enquanto que as da Zoom caíram quase 50%. Parece loucura porque a narrativa de “menos combustível fóssil, mais trabalho de casa” é tão ó Mas quando os mercados descontam totalmente o que é óbvio, basta um pequeno empurrão na outra direção para desencadear movimentos enormes.

E não é sempre assim?

São raras as alturas em que alguém que estava certo antes do tempo não parecesse, em determinado momento, um pouco louco.

Isto não quer dizer que devamos prestar atenção especial às pessoas que parecem loucas - a maior parte do contrarianismo é apenas cinismo à procura de atenção. Mas quando as expectativas se movem mais lentamente que a realidade, devemos sempre esperar que, quem quer que acabe por estar certo, acreditava em algo que, a certa altura, desafiava o bom senso da maioria das pessoas.

O que é um problema, uma vez que, embora a maioria das pessoas acredite que deseja boas informações, o que elas realmente querem é informação que confirme as suas crenças preestabelecidas.

O jornalista Chris Hedges explica o que acontece quando a bolha da crença de alguém é quebrada:

“A natureza da ilusão é que ela foi projetada para nos fazer sentir bem. Acerca de nós próprios, do nosso país, do nosso futuro – nesse sentido, a ilusão funciona como uma droga. Aqueles que questionam essa ilusão são desafiados não tanto pela veracidade do que dizem, mas por destruir esses sentimentos.”

Acho que existem apenas duas formas de sobreviver num mundo em que o que está certo parece quase sempre, no início, uma loucura.

Uma é manter a sua identidade pequena, como diz Paul Graham. Depois de uma opinião se tornar parte da nossa identidade, é quase impossível ver as suas falhas, quando se precisa de adaptar ou se já expirou. Quanto mais dizemos: "Eu sou um ...", menos capazes somos de perceber as grandes mudanças no mundo.

A outra é a humildade em prever as coisas que nos afetam pessoalmente. Poucas coisas são tão persuasivas como as previsões que queremos desesperadamente que sejam verdadeiras, e poucas coisas são tão fáceis de ignorar como as previsões que parecem um pouco loucas. O melhor que podemos fazer nesta situação é viver de uma forma que não dependa muito de algumas coisas aparentemente óbvias se tornarem realidade. Se o mundo funciona de 10 formas diferentes, quero dar-me bem em todas elas.


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