

Porque não vamos ter outro 1929
Publicado a 11 de novembro de 2025 no blog A Wealth of Common Sense por Ben Carlson
O The New York Times publicou um editorial que alerta que podemos estar a caminhar para outro pico de 1929:

Eis a explicação e os paralelismos:
“Os paralelismos entre as décadas de 1920 e de 2020 são numerosos — e ameaçadores. A economia dos anos 1920 cresceu enquanto a América recuperava de uma pandemia mortal, a gripe de 1918. Os americanos utilizavam planos de prestações — o precursor dos atuais e omnipresentes planos "compre agora, pague depois" nas compras online — para gastar liberalmente em bens de consumo, e atiravam dinheiro em novos investimentos especulativos. As ações de automóveis e telefones eram os investimentos tecnológicos dessa época; a Tesla e a Apple são dois dos nossos.
A taxa de juro prevalente rondava os 5%, tal como hoje. E tal como hoje, massas de americanos aproveitaram o crédito fácil e as omnipresentes corretoras de bolsa para especular no mercado. Em 1929, um editor do New York Times citou um especialista financeiro de um grande jornal que disse que o "imenso exército que diariamente joga na bolsa" passou a incluir, nas palavras do editor, "a mulher especuladora não profissional", cuja quota no mercado cresceu, segundo uma estimativa, de menos de 2% para 35%. Esse influxo de compras de 1919 a 1929 fez o mercado de ações subir mais de seis vezes ao longo da década — uma taxa de crescimento que o nosso mercado de facto superou nos últimos três anos.”
Acabei de ler o novo livro de Andrew Ross Sorkin, 1929. É assustador pensar como o comportamento dos investidores é estranhamente semelhante entre hoje e 1929 — especulação, a ascensão de investidores de retalho, alavancagem, inovação, euforia, etc.
Tudo isto levou ao maior crash na história do mercado de ações dos EUA, na década de 1930. Poderíamos de facto ver uma repetição dessa situação?
Nunca se deve dizer nunca, mas vivemos hoje num mundo completamente diferente.
Eis algumas razões pelas quais um cenário de 1929 é altamente improvável de acontecer novamente:
1. Agora Existem Regras
A maioria das regulamentações bancárias, leis de valores mobiliários e programas de assistência governamental de hoje foram desenvolvidos em resposta à Grande Depressão.
Naquela época, era o Faroeste.
Não havia SEC (a CMVM americana). Não havia garantias FDIC (Corporação Federal de Seguro de Depósitos). Não havia mecanismos de interrupção de negociação no mercado de ações para travar pânicos. Não havia requisitos de margens ou regras de negociação. Ninguém tinha a mínima ideia sobre dados económicos em tempo real. Grandes players podiam manipular os mercados. Havia insider trading (negociação com informação privilegiada). A Reserva Federal não atuava como credor de último recurso.
Quando as pessoas perdiam o emprego, também não havia subsídio de desemprego. A Segurança Social não existia.
Agora temos tudo isto para atuar como estabilizador. Também temos política fiscal e monetária se as coisas ficarem suficientemente más.
2. O Mercado de Ações é Muito Mais Importante
No seu livro The Great Crash 1929 (A Grande Quebra de 1929), John Kenneth Galbraith descreve a propriedade de ações no período que antecedeu a Grande Depressão:
“Nos anos seguintes, uma comissão do Senado que investigava os mercados de valores mobiliários procurou determinar o número de pessoas envolvidas na especulação de valores mobiliários em 1929. Nesse ano, as empresas membros de vinte e nove bolsas relataram ter contas com um total de 1.548.707 clientes. (Destes, 1.371.920 eram clientes de empresas membros da Bolsa de Valores de Nova Iorque.) Assim, apenas um milhão e meio de pessoas, de uma população de aproximadamente 120 milhões e de entre 29 e 30 milhões de famílias, tinham alguma associação ativa com o mercado de ações.”
Isso é cerca de 1-2% da população na época.
Desses 1,5 milhões de investidores no mercado de ações, cerca de 600.000 utilizavam margem para alavancar as suas negociações. Portanto, havia certamente pessoas a agir irracionalmente nas corretoras de segunda linha na altura, mas era uma pequena porção da população.
Hoje, quase dois terços de todos os agregados familiares investem em ações de alguma forma.
As pessoas dependem do mercado de ações para o planeamento da reforma e para a sua segurança financeira. Preços mais elevados nas ações criam um ambiente onde as pessoas estão dispostas a gastar mais na economia. As empresas utilizam as suas próprias ações como compensação para os funcionários.
Certo ou errado, o mercado de ações é muito mais abrangente em 2025 do que em 1929.
Os políticos e os ricos e poderosos não vão permitir uma queda de 86% no mercado de ações.
Isso levaria à anarquia.
3. Os decisores políticos aprenderam com os erros do passado.
Galbraith escreveu: "A Federal Reserve Board (Conselho da Reserva Federal) naqueles tempos era um órgão de surpreendente incompetência."
Tanto Republicanos como Democratas concordaram que a atitude certa para o governo era equilibrar o seu orçamento. Durante uma depressão!
A crise financeira de 2008 não se transformou na Grande Depressão porque a Fed estudou a Grande Depressão. O pânico da Covid de 2020 não se transformou em algo pior porque vivemos a Grande Crise Financeira em 2008.
Acha que a nossa sociedade permitiria que algo assim acontecesse novamente:
“Após o Grande Crash veio a Grande Depressão que durou, com gravidade variável, dez anos. Em 1933, o Produto Nacional Bruto (produção total da economia) era quase um terço inferior ao de 1929. Só em 1937 é que o volume físico de produção recuperou para os níveis de 1929, e depois recuou prontamente outra vez. Até 1941, o valor em dólares da produção permaneceu abaixo do de 1929. Entre 1930 e 1940, apenas uma vez, em 1937, o número médio de desempregados durante o ano caiu abaixo dos oito milhões. Em 1933, quase treze milhões estavam desempregados, ou cerca de um em cada quatro na força de trabalho. Em 1938, uma em cada cinco pessoas ainda estava desempregada.”
Nem pensar!
Lançaríamos tanta política monetária e fiscal a uma desaceleração dessa magnitude que ela nunca duraria tanto tempo.
Agora, há consequências não intencionais por remover o risco de eventos extremos negativos como este? Sim.
Ainda haverá bear markets? Claro.
Crashes? Sem dúvida.
Crises financeiras? Sim, afinal, somos humanos.
Mas outra Grande Depressão? Não vejo como é possível, a não ser que haja um ataque alienígena.
Não vamos ter outra Grande Depressão porque a Grande Depressão já aconteceu.












.png)