

O que 25 Anos de Investimento me Ensinaram: 12 Erros que o Seu Cérebro Continua a Cometer
Artigo publicado originalmente no Substack, The Behavioral Value Investor, a 5 de dezembro de 2025
Provavelmente não gosta de pensar em erros. Não o culpo, a maioria de nós não gosta. No entanto, há uma boa razão para o falecido e brilhante Charlie Munger nos ter ensinado a "esfregar o nariz nos nossos próprios erros". É assim que podemos melhorar.
Sabe o que é ainda melhor do que aprender com os nossos próprios erros? Adivinhou: é aprender com os erros dos outros.
Nos meus 25 anos de investimento profissional, cometi muitos erros. Observei ainda mais erros cometidos por outros. Eis os 12 principais erros de investimento para que possa evitar cometê-los.
1. Não percebermos no que estamos a investir
Quando tive a oportunidade de perguntar a Warren Buffett o que ele procura numa ação, durante a minha primeira viagem à assembleia anual da Berkshire Hathaway em 2002, ele simplificou a questão. Disse que começa por olhar para daqui a 10 anos e ver se consegue perceber, grosso modo, as futuras características económicas fundamentais da empresa que está a considerar.
Só porque é simples, não significa que seja fácil. Na verdade, Buffett é famoso pela sua "pilha do demasiado difícil", para onde vão as empresas que ele não compreende suficientemente bem. No entanto, vejo demasiados investidores focarem-se no irrelevante — notícias de curto prazo, projeções de lucros para o próximo ano, etc. — sem compreenderem realmente o que estão a comprar.
O que deve fazer em vez disso: Estude a empresa cuidadosamente antes de sequer pensar em investir nela.
2. Não nos concentrarmos o suficiente na análise qualitativa
Os números são fáceis de encontrar, especialmente nos dias de hoje, com imensa informação na ponta dos dedos. Parecem concretos.
Os atributos qualitativos, por outro lado, são mais difíceis de decifrar. É preciso usar o julgamento. São mais nebulosos.
Muitos principiantes focam-se no que conseguem encontrar facilmente — os números — e ignoram os atributos qualitativos de uma empresa.
O que deve fazer em vez disso: Avalie os atributos qualitativos do negócio e da gestão em conjunto com os números.
3. Investir em empresas frágeis
É muito fácil focar-se no guidance da gestão ou no que pensa que irá acontecer a um negócio no próximo ano ou dois. O problema é que algumas empresas são inerentemente mais frágeis do que outras.
Lembre-se de que o futuro pode seguir muitos caminhos possíveis. Não sabe qual deles se irá concretizar. Alguns negócios são resilientes a desenvolvimentos adversos, enquanto outros derretem ao primeiro sinal de adversidade.
Se investir nestes últimos, todas as suas previsões não valerão de muito. Acredite, eu sei. Como jovem analista na Fidelity, previ que uma empresa deveria ter lucros de ciclo médio de cerca de 2,50$ por ação. Com a ação a 20$, parecia um bom valor.
Só que a empresa não lucrou 2,50$. Nem sequer lucrou 1$. Os lucros reais alguns anos mais tarde, num ambiente económico de ciclo médio? Cerca de 25 cêntimos. Ups.
O que deve fazer em vez disso: Pergunte a si próprio: o que seria necessário para esta empresa ganhar menos dinheiro daqui a 5 anos do que ganha hoje? O que seria necessário para ela perder dinheiro? Melhor ainda, use uma abordagem de checklist, como a "Skeptic’s Checklist" que eu desenvolvi.
4. Ignorar o histórico financeiro da empresa
Will Danoff, o gestor estrela do Contrafund da Fidelity, perguntou uma vez a Warren Buffett se o seu acesso à gestão lhe dava uma grande vantagem como investidor. A resposta de Buffett? "Não. Está tudo nos números."
Os números devem contar-lhe uma história, tal como a narrativa da gestão o faz. A contabilidade e as demonstrações financeiras são uma linguagem e, se a compreender, pode aprender muito sobre a empresa e o tipo de negócio que ela é através do estudo dos números ao longo do tempo.
Sim, isso dá trabalho. Mas o que esperava? Que aparecesse, proferisse algumas opiniões superficiais de filósofo de bancada que ouviu na CNBC e desse o trabalho por concluído? Nunca vi isso funcionar de forma consistente para ninguém ao longo do tempo.
O que deve fazer em vez disso: Reserve tempo para estudar os números e compreender a história que eles lhe contam sobre o passado do negócio e como informam para onde ele poderá ir.
5. Ser vítima de vieses comportamentais
Muitas vezes, os investidores estão ansiosos por encontrar os erros que os outros estão a cometer no mercado. Afinal de contas, é isso que cria oportunidades.
Aposto que focar-se nas suas próprias falhas comportamentais tem muito menos piada, não tem? No entanto, é igualmente crucial. Jogar à defesa comportamental pode ajudá-lo a evitar desastres e é tão importante, se não mais, do que o ataque comportamental em que a maioria das pessoas se foca.
O que deve fazer em vez disso: Estude os vieses comportamentais e crie sistemas para os minimizar nos seus próprios investimentos.
6. Focar-se no curto prazo
Toda a gente quer ficar rica depressa. Além disso, somos constantemente bombardeados por gabarolices nas redes sociais sobre como alguém ganhou uma fortuna nisto ou naquilo. Por isso, é claro que também quer vitórias rápidas.
O problema é que o curto prazo é incrivelmente difícil de prever. Talvez alguém consiga ganhar esse jogo, mas provavelmente não será você nem eu. Como diz o velho ditado do póquer: se não conseguir identificar o totó nos primeiros 30 minutos de jogo — o totó é você.
Quanto mais curto o período de tempo, mais está a tentar adivinhar como outros intervenientes do mercado irão reagir a nova informação. Está a adivinhar como eles vão adivinhar sobre como outros vão adivinhar... percebe o ponto. Esse jogo é simplesmente demasiado difícil.
O que deve fazer em vez disso: Foque-se no longo prazo, onde há muito menos competição; pense na sua vantagem (edge) e no seu círculo de competência e mantenha-se fiel a ele.
7. Extrapolar o passado recente demasiado para o futuro
O mercado assume habitualmente que o que tem acontecido ultimamente continuará a acontecer quase para sempre. Os lucros estão a crescer rapidamente? Vamos assumir que isso acontecerá nos próximos 10+ anos. A empresa está a passar por um período difícil? Com certeza que é permanente.
Não me interprete mal, por vezes essa conclusão está corretíssima. Só que nem sempre está correta, nem é verdade apenas por causa do desempenho recente.
O que deve fazer em vez disso: Escave mais fundo. Vá à causa raiz do que tem acontecido para determinar quão sustentável, ou não, é o desempenho recente.
8. Confundir sorte com competência
Alguma vez encontrou um post que diz algo como: "Amigo, já viste os meus retornos?! Subi 100 triliões % este ano, olha para mim!"?
Bem, deixe-me dizer-lhe: os resultados de curto prazo são muito mais aleatórios do que a maioria das pessoas gostaria de pensar. A única coisa que uma pessoa que se gaba deles está a revelar não é a sua enorme competência, mas sim a sua falta de compreensão sobre como o investimento realmente funciona.
O que deve fazer em vez disso: Foque-se no que pode controlar, que é o seu processo. Deve orgulhar-se de quando está a executar bem o seu processo, independentemente dos resultados. E se não está a seguir o seu processo (ou não tem um), mas está a obter bons resultados a curto prazo, isso não é motivo de orgulho.
9. Não considerar o ponto de vista oposto
Muitos investidores pensam que o trabalho está feito quando terminam de formular a sua tese. Errado. Deve pensar no contra-argumento mais forte possível ao que acredita e depois compreender por que razão ele está incorreto.
Afinal, o mercado é um lugar muito competitivo. Só porque uma ação desceu, está barata ou a empresa é boa, isso não significa muito por si só. Para um investimento estar a um preço errado, tem de formar uma opinião fundamentada sobre o que é que alguém que vê as coisas de forma diferente de si está a perceber mal.
O que deve fazer em vez disso: Se gosta de uma ação, não se fique pela sua própria investigação. Encontre alguém — um short-seller, um analista negativo ou até uma IA — para obter uma perspetiva informada oposta. Às vezes, isso ajudará a evitar grandes perdas no futuro.
10. Pagar demasiado
Não existem ações de "decisão única". O preço importa sempre. Se não acredita em mim, imagine a melhor empresa do mundo e mude o preço da sua ação para mil milhões de dólares por ação. Continua a ser uma compra?
As pessoas que pensam que conseguem identificar uma boa empresa e deter a sua ação independentemente do preço não deverão ser consistentemente recompensadas num dos mercados de capitais mais eficientes do mundo. É certo que haverá algumas empresas de alta qualidade caras que continuarão a superar o mercado. No entanto, muitas dessas ações irão desapontar, mesmo com bons resultados, porque as suas ações estavam a descontar um resultado ainda melhor.
Não acredita em mim? Pergunte ao Warren Buffett. Ele manteve a Coca-Cola (KO) durante o último quarto de século, apesar de ter admitido publicamente que a ação estava cara. O resultado? Teria tido um desempenho muito melhor num fundo de índice durante esse período — e 25 anos é muito tempo.
O que deve fazer em vez disso: Perceba que expectativas estão incorporadas no preço de uma ação e por que razão acredita que a empresa fará ainda melhor.
11. Ignorar os incentivos da gestão
Eu costumava pensar que os incentivos da gestão moldam o comportamento. Talvez o façam até certo ponto.
No entanto, nos meus 25 anos de experiência em investimento profissional, percebi que a forma como a gestão escolhe pagar a si própria é mais um reflexo da sua ética e motivações do que um impulsionador de comportamento.
Se vir uma equipa de gestão a pagar-se generosamente por um mau desempenho, há uma boa probabilidade de a empresa que está a considerar estar a ser gerida por pessoas que estão apenas a tentar transferir parte da riqueza dos acionistas para os seus próprios bolsos. Não é com essas pessoas que deve fazer negócios.
O que deve fazer em vez disso: Leia atentamente a secção de remuneração de executivos no relatório anual (proxy statement). Se a gestão pode ganhar muito dinheiro sem que seja criado muito valor para os acionistas, considere passar à frente.
12. Prestar atenção apenas à Demonstração de Resultados
Quase toda a gente começa pela Demonstração de Resultados (Income Statement). É disso que as gestões e os analistas de Wall Street mais falam. Qual será o EPS (lucro por ação) no próximo trimestre ou no próximo ano? As receitas surpreenderam pela positiva?
Claro, a Demonstração de Resultados é importante. No entanto, se não a analisar em conjunto com o Balanço e a Demonstração de Fluxos de Caixa, está potencialmente a cometer um erro grave. Olhar para as três demonstrações em combinação não só o ajudará a detetar algumas fraudes, como lhe dará uma compreensão muito mais holística da empresa.
O que deve fazer em vez disso: Trate as três demonstrações financeiras como parte de um todo e estude-as em conjunto.
Conclusão
Se alguns destes erros de investimento parecem ser o oposto uns dos outros, isso não é um lapso. Investir é difícil. Para ser um bom investidor, tem de evitar muitas armadilhas, por vezes opostas. Espero que o estudo da lista acima o ajude a cometer menos erros próprios.












