

5 Lições de disciplina Emocional: Investir em tempos de incerteza
Artigo originalmente publicado no blog Enterprising Investor, do CFA Institute, em 21 de abril de 2025
Em tempos de tensão geopolítica, volatilidade de mercado e incerteza económica, as emoções podem tornar-se um custo oculto para os investidores. A tentação de reagir, muitas vezes precipitadamente, pode levar a decisões que prejudicam os retornos de longo prazo. Compreender e gerir os vieses emocionais não é apenas uma boa prática; é fundamental para manter os pés assentes na terra quando as notícias são tudo menos tranquilizadoras.
Os vieses emocionais não são novos. Podem encontrar-se exemplos com séculos e, mais recentemente, foram bem documentados por economistas comportamentais, incluindo o falecido Prémio Nobel, Daniel Kahneman. Por exemplo, quando algo acontece no mercado de ações, instintivamente queremos agir. Somos excessivamente confiantes. Temos medo de perder oportunidades. Confundimos correlação com causalidade. E somos seduzidos por retornos esperados elevados, tentadores mas inatingíveis. Ao compreender e aprender com a história, os investidores podem evitar os vieses emocionais e os erros que outros cometeram.
Face à incerteza que domina os mercados e as notícias de hoje, vale a pena revisitar algumas das armadilhas comportamentais que têm prejudicado os investidores durante séculos, muitas das quais exploro no meu mais recente livro, Trailblazers, Heroes, and Crooks: Stories to Make You a Smarter Investor.
Viés Emocional #1: Sentir a necessidade de vender quando há uma grande queda no mercado de ações
Quando há uma grande queda no mercado de ações, os investidores podem sentir a necessidade de vender. No entanto, esta é frequentemente a pior altura para vender. Em vez disso, uma estratégia melhor é conhecida como "inatividade magistral", ou a arte de saber quando não agir. Esta remonta à Segunda Guerra Púnica (218-201 a.C.), quando o ditador romano Quintus Fabius derrotou o cartaginês Aníbal Barca, um dos maiores comandantes militares da história.
Quando Aníbal inicialmente tentou envolver Fabius numa batalha, Fabius não fez nada, aguardando o momento certo até conseguir formar o seu exército. Em 1974, no Zaire, em África, Muhammad Ali utilizou a inatividade magistral na sua famosa estratégia rope-a-dope para derrotar George Foreman num épico combate de boxe conhecido como Rumble in the Jungle.
Em 1975, o pioneiro Jack Bogle fundou o Vanguard Group e introduziu o primeiro fundo de índice de investimento, concebido como um veículo de buy-and-hold (comprar e esquecer) de longo prazo. Segundo Bogle, "Quando ouves notícias que fazem mexer o mercado e o teu corretor te liga e diz 'Não fiques parado, faz qualquer coisa”, responde-lhe simplesmente, “Não faças nada, fica parado!”
Vamos ver o que teria acontecido se um investidor tivesse entrado em pânico após grandes quedas no mercado de ações. Os 10 piores dias do mercado de ações dos EUA ocorreram em 1987, 1997, 2008 e 2020. As quedas de um dia variaram de -20% a -7,0%. A perda diária mediana (ou valor médio) foi de -8,9%. Uma venda causada pelo pânico teria cristalizado essas perdas. Alternativamente, como teria resultado a inatividade magistral?
Nos 10 dias de negociação subsequentes, em sete dos 10 casos, o mercado subiu; numa ocasião, o mercado ficou estável e, em apenas dois casos, o mercado continuou a descer. Em ambas as últimas situações, o mercado corrigiu logo após os 10 dias de negociação. No geral, a recuperação média de curto prazo foi de 5,5%. Assim, em relação a eventos negativos extremos, em média, a inatividade magistral compensa.
Viés Emocional #2: Excesso de confiança nas capacidades de investimento
As emoções e os vieses comportamentais tendem a levar a um desempenho insatisfatório. Um grande preconceito identificado por vários estudos é que os investidores tendem a ter excesso de confiança nas suas capacidades. O excesso de confiança pode levar a transações excessivas. Num estudo clássico, os académicos Brad Barber e Terrence Odean, da Universidade da Califórnia, examinaram as contas de corretagem de mais de 66000 famílias entre 1991 e 1996. Enquanto os retornos anuais do mercado foram de 17,9%, os investidores que mais compraram e venderam tiveram um desempenho inferior em 6,5%. Em 1998, Charley Ellis escreveu o best-seller Winning the Loser's Game. Ele usou a analogia de jogadores de ténis amadores que tentaram jogar como profissionais, mas acabaram por perder. O mesmo acontece com o investimento. Em vez de transacionar excessivamente e tentar superar o mercado, pode compensar simplesmente comprar e manter um fundo de índice.
Viés Emocional #3: Medo de perder oportunidades (Fear of Missing Out - FOMO)
Uma das piores reações emocionais para um investidor é o FOMO ou o medo de perder oportunidades. Não é um fenómeno de investimento novo. Tem, pelo menos, três séculos. Foi nessa altura que o famoso matemático e físico Sir Isaac Newton obteve um enorme ganho em 1720 ao investir em ações da South Sea e as vendeu. Ele então viu a ação continuar a subir e, com medo do que estava a perder, voltou a entrar – mesmo perto do máximo.
Newton acabou por perder o equivalente a milhões de dólares hoje. Supostamente, Newton concluiu: "Consigo calcular o movimento dos corpos celestes, mas não a loucura das pessoas." Mais recentemente, muitos investidores foram prejudicados pelo FOMO em ações de meme stocks como a GameStop. Uma vez que um investidor vende um título, não deve olhar para trás.
Viés Emocional #4: Assumir que correlação implica causalidade
Correlação não implica causalidade. Esta manchete do The Washington Post, em 2021, é um bom exemplo: "Cristiano Ronaldo rejeitou a Coca-Cola. O valor de mercado da empresa caiu 4 mil milhões de dólares." Numa conferência de imprensa do Campeonato Europeu de Futebol, Ronaldo removeu duas garrafas de Coca-Cola que estavam proeminentemente expostas na mesa à sua frente.
Isto foi chocante porque a Coca-Cola era um dos patrocinadores oficiais do torneio. Ele substituiu-as por uma garrafa de água, dizendo: "Água. Não Coca-Cola." Mas a queda do preço das ações não teve nada a ver com Ronaldo. Pelo contrário, a ação caiu como esperado naquele dia devido à sua data ex-dividendo.
Aqui está outro exemplo que mostra que correlação não implica causalidade. Em 20 dos primeiros 22 Super Bowls, quando uma equipa original da NFL vencia, o mercado de ações subia nesse ano, e vice-versa quando uma equipa da AFC vencia. Foi assim que o "Indicador do Super Bowl" se tornou uma grande notícia. Mas o que poderia explicar que o vencedor de um jogo de futebol americano poderia influenciar o resultado do mercado de ações no ano seguinte? Resposta simples: nada. Não é surpreendente que, desde que o Indicador do Super Bowl apareceu na imprensa popular, tenha deixado de funcionar. Não se deixe enganar por correlações espúrias.
Viés Emocional #5: Querer acreditar que algo é verdade quando não é
Em 1999, o proprietário dos New York Mets, Fred Wilpon, concordou em comprar o contrato de Bobby Bonilla e garantiu-lhe um fabuloso salário diferido no valor de um juro de 8% ao ano, sem risco. Por que não, já que Wilpon e a sua família estavam fortemente investidos num fundo que estava a registar retornos anuais constantes de mais de 14% entre janeiro de 1990 e junho de 1999, com praticamente nenhum risco?
Wilpon viria a descobrir mais tarde que o fundo, gerido pelo infame Bernie Madoff, era um esquema de Ponzi e uma das maiores fraudes de todos os tempos. Os aparentes retornos não eram reais. Se algo parece bom demais para ser verdade, provavelmente é bom demais para ser verdade.
Disciplina Emocional Numa Era de Risco Geoeconómico
À medida que o panorama global de investimento é cada vez mais moldado pela geopolítica e pela estratégia geoeconómica — desde a mudança de alianças até ao realinhamento das cadeias de abastecimento — os investidores enfrentam um ambiente mais complexo e emocionalmente carregado do que nunca. Embora não possamos controlar as manchetes, podemos controlar como reagimos a elas. A disciplina emocional continua a ser uma das competências mais subestimadas no conjunto de ferramentas de um investidor.
A história lembra-nos que o medo, o excesso de confiança e o comportamento reativo levam frequentemente a más decisões, especialmente em tempos voláteis. A chave não é eliminar a emoção, mas reconhecê-la, controlá-la e evitar que dite as decisões de investimento. Hoje, a resiliência significa mais do que a diversificação — significa cultivar a paciência, a consciência e a disciplina para navegar na incerteza com clareza e uma perspetiva de longo prazo.