

Sete Hábitos para Pensar Melhor
Artigo publicado originalmente no Financial Times em 25 de maio de 2025
A maioria das pessoas está a ficar menos inteligente. Em grande parte devido aos smartphones, estamos a viver uma era de declínio da capacidade de concentração, da literacia, numeracia e do raciocínio verbal. Como podemos contrariar esta tendência? Analisei sete hábitos intelectuais dos melhores pensadores. É verdade que estas pessoas estão num patamar diferente do resto de nós. Para usar uma analogia informática, a sua elevada capacidade de computação permite-lhes processar grandes quantidades de dados de múltiplos domínios. Por outras palavras, têm uma sobrecapacidade intelectual. Ainda assim, podemos aprender com os seus métodos. Estes podem parecer óbvios, mas poucas pessoas os seguem.
Ler livros
Os livros continuam a ser é a melhor tecnologia para transmitir a subtil complexidade do mundo. Esta complexidade é um obstáculo à a ideologia pura e dura. As pessoas que querem simplificar o mundo preferem teorias da conspiração online.
Não utilizar ecrãs em demasia
Isto liberta tempo para os livros e cria mais momentos em que a mente está desocupada, tem liberdade para vaguear e faz novas conexões. Darwin, Nietzsche e Kant experimentaram estes momentos em caminhadas. A bioquímica Jennifer Doudna diz que se inspira enquanto está "a arrancar ervas daninhas dos tomateiros" ou enquanto dorme.
Fazer o seu próprio trabalho, não o do mundo
Os melhores pensadores não perdem muito tempo a maximizar os seus rendimentos ou a escalar hierarquias. Doudna deixou Berkeley para liderar o departamento de pesquisa na empresa de biotecnologia Genentech. Durou lá dois meses. Precisando de total liberdade científica, ela regressou a Berkeley, onde acabou por ganhar o Prémio Nobel da Química com a sua participação na invenção da ferramenta de edição de genes Crispr.
Ser multidisciplinar
Viena, antes da guerra, produziu pensadores como Freud, Hayek, Kurt Gödel e o irredutível polímata John von Neumann. A estrutura da universidade da cidade ajudou. A maioria das disciplinas era ensinada nas faculdades de direito ou de filosofia. Isso esbatia as fronteiras entre as disciplinas, escreve Richard Cockett em Vienna: How the City of Ideas Created the Modern World. "Não havia divisões arbitrárias entre 'ciência' e 'humanidades' — tudo era 'filosofia', no seu sentido mais puro, o estudo das questões fundamentais."
Hayek, por exemplo, "formou-se em casa como botânico a um nível quase profissional; depois licenciou-se em direito, recebeu um doutoramento em ciência política na universidade, mas... passou a maior parte do tempo a estudar psicologia, tudo isto antes de se tornar um economista reverenciado."
Romper com os silos vai contra a organização da academia moderna. Exige também um poder de processamento sem precedentes, dada a quantidade de conhecimento acumulado em cada área. Mas as conclusões de uma disciplina ainda conseguem revolucionar outra. O psicólogo Daniel Kahneman ganhou o Prémio Nobel da Economia pelas suas descobertas sobre a irracionalidade humana.
Ser um empirista que valoriza as ideias
Durante a Segunda Guerra Mundial, Isaiah Berlin foi primeiro-secretário na embaixada britânica em Washington. Os seus relatórios semanais sobre a situação política americana eram brilhantes relatos empíricos do mundo tal como ele era. Eles hipnotizaram Winston Churchill, que estava desesperado para conhecer Berlin. (Devido a uma confusão, Churchill convidou Irving Berlin para almoçar. O compositor ficou perplexo ao ser questionado pelo próprio Churchill: "Quando pensa que a guerra europeia vai acabar?")
Em março de 1944, Isaiah Berlin regressou de Washington a Londres num avião bombardeiro. Teve de usar uma máscara de oxigénio durante todo o voo, não conseguiu dormir porque tinha medo de asfixiar e não conseguia ler, porque não havia luz. "Fiquei reduzido a uma coisa terrível", recordou, "a ter de pensar — e tive de pensar durante cerca de sete ou oito horas neste bombardeiro." Nesses longos momento, Berlin decidiu tornar-se um historiador de ideias. Acabou por escrever os ensaios clássicos The Hedgehog and the Fox e Two Concepts of Liberty.
Assumir sempre que pode estar errado
Os pensadores medíocres preferem confirmar apenas as suas ideias iniciais. Este "viés da confirmação" impede-os de alcançar conclusões novas ou mais profundas. Em contraste, Darwin estava sempre a tentar encontrar argumentos que contradissessem as suas próprias teorias.
Continuar a aprender com todos
Só os medíocres se gabam da universidade que frequentaram aos 18 anos. Imaginam que a inteligência é inata e estática. Na verdade, as pessoas tornam-se mais ou menos inteligentes ao longo da vida, dependendo de quão arduamente pensam. Os melhores pensadores estão sempre a aprender com os outros, independentemente da idade ou estatuto. Lembro-me de estar numa mesa de jantar onde as duas pessoas que menos falaram e mais ouviram eram os dois laureados com um Prémio Nobel.