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Autoria
Ben Carlson
Ben Carlson

Publicado originalmente a 13 de maio de 2021 no blog A Wealth of Common Sense, por Ben Carlson

O futuro dos bear markets e recessões

Em 1939, Albert Einstein escreveu uma carta a Franklin D. Roosevelt alertando-o que os nazis poderiam estar a desenvolver armas atómicas. Einstein exortou o presidente a começar a trabalhar no nosso próprio arsenal de armas nucleares.

Passados seis anos, o Projeto Manhattan tornou essas armas em realidade, primeiro, no verão de 1945, com um teste bem-sucedido no Novo México. Um mês depois, duas bombas atómicas foram lançadas no Japão, acelerando o término da Segunda Guerra Mundial.

Dan Carlin explorou a moralidade desta decisão no seu livro “The End is Always Near”:

“A verdade é que os decisores, quase certamente, não tinham à sua disposição a gama de opções que muitas vezes assumimos (ou desejamos) que eles tinham. A ideia de que o presidente Truman poderia ter feito algo diferente de utilizar a bomba atómica no Japão está, provavelmente, um pouco deslocada da realidade política da época. Tal como o historiador Garry Wills escreveu no seu livro “Bomb Power”: “Se se soubesse que os Estados Unidos tinham uma arma avassaladora e que não a utilizaram, as famílias de qualquer americano morto após o desenvolvimento da bomba ficariam furiosas. O público, a imprensa e o Congresso revoltar-se-iam contra o presidente e os seus assessores. Teria havido um apelo ao impeachment do presidente Truman e ao julgamento do general Groves num tribunal marcial. A administração seria responsabilizada pelo desperdício de bilhões de dólares e pelo desvio de recursos mentais e de mão de obra de outros projetos de guerra, e tudo isto para nada.”

Nem consigo imaginar como foi ter que tomar esta decisão.

Duas décadas mais, um documentário da NBC, “The Decision to Drop the Bomb, entrevistou o arquiteto da bomba atómica, J. Robert Oppenheimer. Ele descreveu o cenário após a decisão de utilizar estas armas de destruição maciça:

“Sabíamos que o mundo nunca mais seria o mesmo. Algumas pessoas riam. Algumas pessoas choravam. A maioria permanecia em silêncio. Lembrei-me das palavras do final da escritura, o Bhagavad Gita. Vishnu está a tentar persuadir o príncipe de que ele deve cumprir o seu dever e, para o impressionar, assume a sua forma com múltiplos braços e diz: “Agora, tornei-me a morte, o destruidor de mundos.” Suponho que todos nós pensamos nisto, de uma forma ou doutra.”

Estas bombas não voltaram, desde então, a ser utilizadas num cenário de guerra, mas Carlin argumentou que isto será difícil de evitar: "A menos que a humanidade seja capaz de quebrar padrões de comportamento coletivo que são mais antigos do que a própria história, será de esperar uma guerra nuclear nalgum momento do nosso futuro.”

Não conseguimos colocar outra vez o génio na lâmpada, depois de a esfregarmos e ele ter saído.

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Isto pode parecer um pouco exagerado, mas a administração americana tem agora à sua disposição uma arma para combater crises económicas e o povo americano vai ficar furioso se ela não for utilizada em crises futuras.

Esta semana, um ouvinte do meu podcast colocou a seguinte questão:

“Se temos um horizonte de investimento mais alargado e achamos que as recessões de longo prazo no mercado de ações são, até certo ponto, uma relíquia do passado devido às intervenções do Reserva Federal em tempos de dificuldade, por que motivo devemos investir em obrigações? A recuperação das ações não compensaria qualquer proteção que as obrigações oferecem nas quedas?

Acho que a única maneira de as obrigações funcionarem nesse novo normal seria acertar no timing do mercado, o que toda a gente sabe que é impossível. Gostaria de ouvir a sua opinião.”

Não acredito que, dadas as intervenções da Reserva Federal, as recessões sejam uma relíquia do passado. Teremos, com certeza, recessões no futuro.

Poderão, no entanto, ficar mais suaves? Acho que é uma possibilidade. Agora que testemunhamos o imenso poder dos estímulos governamentais durante uma economia em crise, não há como voltar atrás, para o bem ou para o mal.

É impossível prever quanto dinheiro será gasto será usado no futuro porque a política está envolvida no processo. A política é provavelmente ainda mais difícil de prever do que os mercados. No entanto, agora que as pessoas receberam cheques de apoio, é certo que, na próxima crise, eles vão exigi-los outra vez.

Eis algumas das maiores ramificações que podemos ver num mundo com políticas fiscais e monetárias mais poderosas:

Mercados que se movem mais rapidamente.

Em fevereiro passado, o mercado de ações caiu 34% em apenas 23 sessões. Menos de 5 meses depois, regressámos a novos máximos.

Consideremos o facto de que, em abril passado, o preço do petróleo atingiu os 37 dólares negativos por barril. As pessoas estavam, literalmente, a pagar para lhes tirarem o petróleo das mãos. Um pouco mais de um ano depois, os preços do petróleo estão na casa dos 60 dólares e o sudeste americano enfrenta uma escassez de gás.

Os mercados estão a mover-se mais depressa do que nunca devido aos avanços na tecnologia, mas a intervenção fiscal do governo ainda vai acelerar mais as coisas. Os investidores vão tentar antecipar-se a isso.

Se sabemos que o governo vai distribuir cheques e aumentar o subsídio de desemprego, os investidores não irão comprar muito mais cedo durante um crash do mercado?

E se houver muita despesa pública e uma subida da inflação, os investidores não irão vender mais rapidamente quando o mercado estiver a subir?

Acredito que o aumento na despesa com estímulos pode, na verdade, levar a correções e bear markets mais frequentes, mas com durações mais curtas e magnitudes mais suaves.

Mais flash crashes.

A estabilidade gera instabilidade e o risco provavelmente aumentará devido às ações do governo durante a pandemia. Se sabemos que o governo vai eliminar a possibilidade de depressões e recessões severas, por que razão vamos esperar por preços severamente deprimidos que podem nunca surgir?

Os movimentos de mercado serão ainda mais ampliados do que no passado. Se os investidores decidirem assumir mais riscos num mundo que, aparentemente, tem menos riscos macroeconómicos, poderemos assistir ao surgimento de novos riscos de mercado. Bolsas de liquidez podem irromper no mercado ou secar rapidamente, causando enormes oscilações em ambas as direções.

Não nos surpreendamos se assistirmos a mais flash crashes nos próximos anos.

Mais volatilidade em tudo.

Se o ambiente económico que se seguiu à Grande Recessão foi classificado como lento e estável, a recuperação após Crash do Coronavírus foi rápida e volátil.

Os investidores, economistas e políticos não têm experiência em lidar com as implicações destes estímulos gigantescos. Isto provavelmente trará mais volatilidade em, sejamos honestos, tudo.

Mais volatilidade nos mercados. Mais volatilidade na economia. Mais volatilidade nos resultados das empresas. Mais volatilidade nos dados económicos. Mais volatilidade nas reações dos investidores.

Isto, por si só, não é melhor nem pior, é apenas mais volátil em muitos aspetos.

A simplicidade é mais importante do que nunca.

Os mercados e o ambiente macroeconómico são provavelmente mais complexos do que nunca. Podemos concluir que isso exige que o nosso portfólio se torne mais complicado, mas, na realidade, acredito que o oposto é verdadeiro.

Quando as coisas ficam loucas, simples é melhor do que complexo. Simples é mais fácil de entender. Ajuda a reduzir o FOMO. Facilita concentrarmo-nos no que podemos controlar.

E reduz o potencial para erros evitáveis ​​e desnecessários.


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