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Autoria
Ben Carlson
Ben Carlson

Artigo publicado originalmente no blog A Wealth of Common Sense

O maior risco em 2024

Em finais de 2019, a revista The Economist publicou um relatório de 150 páginas intitulado “O mundo em 2020” que fazia algumas previsões económica e geopolíticas para o ano que se avizinhava.

Esta publicação estava repleta de pensamentos e ideias de CEO’s, economistas, políticos e líderes empresariais acerca do que podíamos espera do ano vindouro.

Estas pessoas estavam preocupadas com os efeitos duradouro dos Brexit, com as eleições americanas, com o papel da China como superpotência, as alterações climáticas e muito mais. Não estavam excessivamente preocupados com uma recessão ou com um crash no mercado ou com nada relacionado com uma pandemia.

Obviamente, ninguém fazia a mais pequena ideia de quanto a pandemia Covid-19 iria disromper a nossa vida em 2020.

Como é que alguém conseguiria prever o que estava para acontecer?

Em defesa de The Economist, a revista publicou um mea culpa no final de 2020:

“Bem, não previmos isto. Tal como quase toda a gente, fomos apanhados de surpresa pelo Covid-19, cujos primeiros casos foram detetados em dezembro de 2019. Para além de causar a morte e sofrimento a muitas pessoas em todo o mundo, e o atraso ou cancelamento de eventos, grandes e pequenos, um dos efeitos secundários menos importantes da pandemia foi invalidar a maior parte das previsões para 2020, incluindo as nossas.

Esperávamos um abrandamento global, mas não a maior contração económica desde a Grande Depressão. Antecipámos um prolongar das tensões sino-americanas, mas não da variedade viral. Esperávamos uma redução das emissões de gases estufa, mas não uma redução anual de 8%, a maior desde a Segunda Guerra Mundial, com a pandemia a estrangular as atividades industriais e de transporte.”

A pandemia alterou realmente a trajetória do mundo para sempre.

Ninguém poderia ter previsto o que aconteceria ou as ramificações potenciais: como vivemos, onde trabalhamos, ou os preços que pagamos ou os salários que as pessoas recebem, etc, etc.

Mas este é o ponto essencial.

Não conseguimos prever o que ia acontecer devia ser a posição por defeito quando estamos a tentar avaliar os riscos. Os riscos não vão ser sempre assim tão grandes como a pandemia, mas as coisas raramente seguem o guião.

Quando “toda a gente” se sente razoavelmente seguro acerca de como as coisas se vão desenrolar, geralmente não acontece dessa forma. Esta manchete de outubro de 2022 é um exemplo perfeito:

(A previsão para uma recessão nos Estados Unidos atinge os 100%. Golpe para Biden

  • Bloomberg Economics prevê, com quase certeza total, que recessão terá
  • Condições restritivas, inflação e Fed pesam nesta previsão.) 

Ainda estamos à espera desta recessão.

Eis um artigo mais recente (de outubro passado):

(Economistas de topo unânimes: taxas “mais elevadas mais tempo” com ameaças de inflação persistentes)

Este artigo foi publicado, mais dia menos dia, no máximo das yields das obrigações. A obrigação do tesouro americano atingiu o máximo de 5% em outubro; está agora abaixo dos 4%.

Nós, humanos, somos muito maus a prever o futuro devido aos vieses da recência, da disponibilidade e do excesso de confiança. Mas também é verdade que prever o futuro é impossível porque muito do que acontece é impossível de prever porque o mundo é naturalmente imprevisível.

Isto é verdade para as previsões de curto prazo e de longo prazo.

Lin Wells trabalhou no Pentágono para as presidências de Bill Clinton e George W. Bush. Wells escreveu o documento seguinte para Bush em abril de 2001:

(Notas para a Revisão Quadrienal da Defesa de 2001

  • Se fossemos um legislador de segurança na maior potência mundial em 1900, seríamos britânicos e olharíamos com desconfiança para o nosso mais antigo inimigo, a França.
  • Em 1910, seríamos aliados da França e o nosso inimigo seria a Alemanha.
  • Em 1920, a Primeira Guerra Mundial teria sido travada e vencida e estaríamos agora empenhados numa corrida às armas navais com os nossos outrora aliados, Estados Unidos e Japão.
  • Em 1930, tratados de limitação de armas navais estão em efeito, a Grande Depressão está a caminho e o lema nos departamentos de defesa é: “nenhuma guerra nos próximos dez anos”.
  • Nove anos mais tarde, começa a Segunda Guerra Mundial.
  • Em 1950, a Grã-Bretanha já não é a principal potência mundial, a Era Atómica teve início e uma “ação policial” decorria na Coreia
  • Dez anos mais tarde, o foco político estava centrado na “lacuna dos mísseis”, o paradigma estratégico movia-se da retaliação massiva para a resposta flexível, e poucas pessoas ouviram falar do Vietnam.
  • Em 1970, o pico do nosso envolvimento no Vietnam já estava no passado, estávamos a principiar uma détente com os soviéticos e abençoávamos o Shah como nosso protegido na região do Golfo.
  • Em 1980, os soviéticos estavam no Afeganistão, o Irão debate-se com uma revolução, falava-se das nossas “forças ocas” e de uma “janela de oportunidade” e os Estados Unidos eram o maior credor de toda a história.
  • Em 1990, a União Soviética estava a um ano da dissolução, as forças americanas no Golfo estavam prestes a demonstrar que eram tudo menos “ocas”, os Estados Unidos eram o maior devedor da história e quase ninguém tinha ouvido falar da internet.
  • Dez anos mais tarde, Varsóvia é a capital de um país da Nato, ameaças assimétricas transcendem geografias e as revoluções paralelas nas tecnologias de informação, biotecnologia, robótica, nanotecnologia e fontes de energia de elevada densidade antecipam mudanças quase para além de qualquer previsão.
  • Tudo isto para dizer que não tenho a certeza de como será 2010. Estou certo, no entanto, que será muito diferente do que antecipamos. Devemos, portanto, preparar-nos para isso.

Lin Wells)

A conclusão é a minha parte favorita deste documento:

“Tudo isto para dizer que não tenho a certeza de como será 2010. Estou certo, no entanto, que será muito diferente do que antecipamos. Devemos, portanto, preparar-nos para isso.”

Menos de seis meses mais tarde, ocorreu o 11 de setembro. A primeira década deste século incluiu duas guerras, dois crashes gigantescos no mercado acionista, uma bolha (e o rebentar da bolha) imobiliária, uma leve recessão e a pior crise financeira desde a Grande Depressão.

Lin Wells tinha razão – ninguém fazia ideia, em 2001, como o mundo iria ser em 2010.

Tenho algumas ideias de coisas que poderão acontecer em 2024, mas é muito provável que estas ideias venham a provar ser inúteis porque algo inesperado poderá mudar essas coisas.

O mercado acionista pode subir ou cair, dependendo das taxas de juro, da taxa de inflação, crescimento económico, lucros, sentimento dos investidores ou algo completamente inesperado.

O próximo grande risco é raramente aquele de que toda a gente fala e contra o qual toda a gente se prepara.

Não estou a dizer para não fazermos previsões. Basicamente, todos nós precisamos de fazer previsões sobre o futuro para sobreviver.

As empresas precisam de fazer previsões para planear para o futuro, selecionar investimentos, ou fazer contratações.

As famílias precisam de fazer previsões para planear gastos, créditos e padrões de consumo.

Os investidores precisam de fazer previsões para estabelecer expetativas de ganhos ou perdas.

As pessoas que vão de férias tem de olhar para as previsões meteorológicas para saber que roupa devem levar.

Não há qualquer problema em tentar prever. Todos nós temos de pensar sobre o futuro, quer queiramos, quer não.

No entanto, é importante compreender como a vida se atravessa à frente das nossas expetativas. As surpresas ocorrem com maior frequência do que estamos à espera.

Algo de surpreendente vai acontecer em 2024

Não nos surpreendamos quando o que acontecer nos apanhe de surpresa.


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