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Autoria
Morgan Housel
Morgan Housel

Artigo publicado originalmente no blog Collaborative Fund.

O que muda sempre

Algumas coisas estão sempre a mudar, nunca se mantendo no mesmo sítio muito tempo:

1. A informação e as métricas a que as pessoas prestam atenção mudam constantemente. Por isso, mesmo que saibamos o que vai acontecer, não sabemos se as pessoas se vão interessar.

James Grant costuma dizer que o sucesso no investimento é “fazer com que as pessoas concordem connosco… mais tarde”.

Prever apenas o que vai acontecer amanhã não é suficiente. Para estarmos certos, temos que prever o que vai acontecer e que milhões de investidores concordem que vale a pena prestar atenção ao que acabou de acontecer de forma a que vale a pena lá investir os seus dólares.

E as coisas a que as outras pessoas prestam atenção – as métricas e informação que agarram a nossa atenção – estão constantemente a mudar.

O valor contabilístico era aquilo a que os investidores em valor prestavam mais atenção no início do Séc. XX. No seu clássico livro, “O Investidor Inteligente”, Benjamin Graham refere-se ao valor contabilístico o dobro das vezes de “resultados líquidos”.

Depois, esvaneceu-se. Os lucros tornaram-se a métrica de escolha no final do Séc. XX.

Noutras alturas, eram os dividendos a métrica preferida. No final dos anos 90, eram as visualizações por página web. Em meados dos anos 2000, crescimento do número de utilizadores.

Se a Uber tivesse sido criada em 1985, na altura em que os investidores estavam obcecados pelo free cash flow, seria considerada uma piada. No entanto, uma vez que existe desde 2010, e os investidores apenas se importam com o crescimento das receitas e dispensam a rentabilidade, tornou-se uma estrela.

Os factos no investimento estão constantemente a mudar. Mas as previsões são duas vezes mais difíceis porque os factos com que os investidores se importam e a que prestam atenção – aquilo que torna os factos relevantes – estão sempre a mudar. Não apenas numa indústria, mas no mercado como um todo.

Os factos mudam com as condições económicas, com as novas gerações e quando uma narrativa atrativa acerca de uma nova métrica encontra o seu caminho e entra nas mentes de um número suficiente de pessoas.

O mesmo acontece nos negócios, política e relações interpessoais.

Raramente podemos dizer: “Quando isto acontece, aquilo também acontece”, porque aquilo acontecer depende da importância que as pessoas dão a isto, quando a sua atenção já pode ter sido desviada para outras coisas.

2. As preferências geracionais mudam, alterando a procura de maneiras difíceis de antecipar porque não estão sempre ligadas à utilidade de um produto.

Os Beatles, Nike e LEGO mantiveram a sua popularidade ao longo de várias gerações.

São exceções.

São tantas as modas que se identificam com uma geração e não conseguem transmitir-se para a seguinte.

Uma razão para isto é que é difícil sentir que estamos a avançar na vida quando nos associamos às marcas dos nossos pais. Cada geração quer as suas próprias coisas. A probabilidade de conseguir que um adolescente de 16 anos fique viciado em Seinfeld ou Alanis Morissette é quase zero – são modas em segunda mão. A Morgan Stanley poderia ser o melhor robo advisor e os millenials continuariam a preferir o Betterment. Foi assim que a Charles Schwab floresceu nos anos 80 e 90; com uma marca que os baby boomers sentiam ser deles, não dos pais. Robinhood está hoje a preencher esse lugar para a Geração Z. Faz poucas coisas que as corretoras mais antigas não fazem já e está sempre a “crashar”. Mas os jovens investidores adoram-na porque é deles.

Com raras exceções, qualquer empresa cuja marca é sinal de “estar na onda” – de uma nova tecnologia, moda ou pertença a um novo movimento – tem uma esperança de vida geracional. Não é surpresa, portanto, quando os gigantes anteriores cedem cota de mercado aos novos concorrentes, mesmo quando o produto é inferior.

As gerações mais velhas sentem dificuldades em distinguir progresso tecnológico de declínio moral. O telefone matou a arte de escrever cartas; o email matou as conversas telefónicas; Slack matou as reuniões presenciais, etc., etc. os tradicionalistas respondem com rebelião. Pode demorar uma geração para que uma nova tecnologia atinja o seu potencial porque esse é o tempo que demora a transição da geração mais velha – o Princípio de Planck aplicado a produtos comerciais. Por isso é fácil subestimar a mudança, porque ela acontece mais lentamente do que assumimos à partida se todos utilizassem os produtos mais úteis à nossa disposição.

3. As pessoas utilizam o sucesso como indicação do que devem continuar a fazer. Mas a maioria dos sucessos semeia a própria destruição e, assim, o que as pessoas julgam que funciona e tentam copiar está constantemente a mudar.

Acontecem certas coisas quando alguém tem sucesso.

A primeira coisa que acontece é que o sucesso atrai concorrentes que querem um pedaço do sucesso para eles.

Outra é que provavelmente vamos baixar a guarda, usando o sucesso como desculpa para abandonar algum do foco paranoico que nos ajudou a atingir o sucesso.

Provavelmente vamos fixar-nos num único ponto de vista, e não temos disponibilidade para abandonar o que funcionava dantes, mesmo quando o mundo à nossa volta já evoluiu.

E aqueles que nos seguem podem estar a confundir uma tendência temporária – estra no sítio certo à hora certa – com uma vantagem competitiva.

É assim que as coisas funcionam. Poucos sucessos – quer seja uma empresa ou uma estratégia de investimento – se mantêm indefinidamente, porque as coisas que originaram esse sucesso têm uma tendência a reagir noutra direção. quanto maior o sucesso, mais verdade isto é.

O que é difícil é que os sucessos atuais são os manuais de instrução mais persuasivos do que toda a gente deve tentar.

Não nos devemos culpar. Isto é que devemos fazer sempre: aprender e emular.

Mas quando o trabalho tem uma data de validade e as pessoas estão sempre a tentar copiar o que funciona hoje, chegamos à conclusão que muito do que acontece nos negócios e no investimento são modas passageiras, estratégias que florescem e desaparecem, ideias populares que se disseminam e desvanecem com a mesma rapidez. Sempre a mudar.


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