

Carta a um Jovem Investidor: O Segredo para Evitar Erros Dispendiosos no Investimento
Publicado originalmente no site safalniveshak.com em 11 de julho de 2025
Prezado Jovem Investidor,
Espero que esta carta te encontre bem.
Deixa-me começar com uma história. É sobre dois atletas notáveis. Provavelmente já ouviste falar de um. Do outro, talvez não.
Michael Phelps é considerado um dos maiores atletas olímpicos de todos os tempos. Com 23 medalhas de ouro olímpicas, Phelps redefiniu o mundo da natação. Com braços longos, uma envergadura enorme e um eficiente dolphin kick, o seu corpo parecia feito para a água. Durante mais de uma década, Phelps foi praticamente invencível na piscina.
Agora, apresento-te Hicham El Guerrouj. Pode não ser um nome familiar, mas El Guerrouj é uma lenda no mundo do atletismo. Um corredor de meia distância marroquino, El Guerrouj foi o detentor do recorde mundial na milha, nos 1.500 metros e nos 2.000 metros durante anos. Nos Jogos Olímpicos de Atenas em 2004, ele ganhou o ouro nos 1 500 e nos 5 000 metros, uma façanha que não era conseguida há mais de 80 anos.
Eis dois atletas de classe mundial: um é um mestre da água e o outro, da terra.
Agora é que isto fica interessante.
Phelps tem 1,93 metros de altura. El Guerrouj tem 1,75 metros. Apesar da diferença de sete polegadas (18 cm), ambos os atletas usam o mesmo comprimento de entreperna nas calças. Podes questionar-te, como é que isto é possível? Bem, isto acontece porque Phelps tem um tronco longo e pernas relativamente curtas, o que é perfeito para nadar. El Guerrouj, por outro lado, tem pernas longas e um tronco mais curto, o que é ideal para correr.
Os seus físicos mostram que foram feitos para corridas diferentes. Mas imagina se eles tivessem trocado. Supõe que Phelps tinha decidido tentar a sua sorte em corridas de longa distância. Com a sua estrutura alta e mais pesada, estava em desvantagem natural. Cada passada queimava mais energia e cada volta era um esforço. Phelps poderia estar em forma, ter a disciplina e a motivação, mas não ganharia.
O mesmo acontece com El Guerrouj. Se o colocássemos numa piscina ao lado de nadadores de elite, ele teria dificuldades desde o início. As suas pernas, tão úteis numa pista, ofereceriam pouca vantagem na água. O seu tronco mais curto reduziria a sua flutuabilidade e eficiência de braçada. Por mais que treinasse, El Guerrouj simplesmente não foi construído para aquele ambiente.
Ambos os homens são extraordinários. Mas o seu sucesso veio de competir no domínio que melhor correspondia aos seus pontos fortes.
E isso leva-me à lição que quero partilhar contigo hoje, que é sobre a poderosa ideia de "círculo de competência", e que funciona maravilhosamente bem no investimento.
As pessoas acham que o sucesso no investimento se resume à inteligência e de investir na próxima grande ideia. Mas, na maioria das vezes, resume-se a algo muito mais simples e muito menos glamoroso. E essa é a ideia de permanecer dentro do nosso círculo de competência.
É uma frase tornada famosa pelos lendários investidores Warren Buffett e Charlie Munger. O nosso círculo de competência é a área onde realmente entendemos o que estamos a fazer. É a indústria que estudamos, o tipo de negócio que conseguimos explicar com clareza, ou o produto de investimento que conhecemos de fio a pavio. Não se trata de opiniões ou dicas, mas em conhecimento real, adquirido através de anos de leitura, pensamento e observação.
E aqui está a questão que muitos investidores experientes não compreendem: o nosso círculo de competência não precisa de ser enorme.
Como Charlie disse uma vez:
"Penso em coisas onde tenho uma vantagem sobre outras pessoas. Não jogo num jogo onde os outros são sábios e eu sou estúpido. Procuro um lugar onde eu sou sábio e eles são estúpidos. É preciso conhecer os limites da nossa própria competência. Sou muito bom a saber quando não consigo lidar com algo."
Depois, como Warren disse:
"O risco vem de não se saber o que se está a fazer."
Por outras palavras, aventurarmo-nos para além da nossa compreensão é jogar, não é investir inteligência. Mantermo-nos dentro do nosso círculo de competência não significa que temos de saber tudo sobre todas as indústrias, ações ou produtos de investimento.
Podemos ser especialistas em apenas algumas áreas, e isso é perfeitamente aceitável. O que importa é que o que está fora da nossa competência seja muito claro. Um engenheiro de software, por exemplo, pode ter uma visão clara sobre empresas de Tecnologias de Informação, mas pode achar uma startup de biotecnologia desconcertante. Um agricultor experiente pode compreender intuitivamente qual das empresas agri-tech pode resolver problemas reais da agricultura, mas essa mesma pessoa pode ficar completamente perplexa com uma empresa fintech. Reconhecer estes limites evita erros dispendiosos.
Pensa no teu círculo de competência como um porto seguro no vasto oceano dos mercados. Dentro dele, as águas são familiares e navegáveis. Mas fora, há turbulência que podes não ver a chegar.
A história está cheia de exemplos de investidores que se desviaram do seu círculo de competência e sofreram consequências ruinosas. Por exemplo, durante a euforia das ações de tecnologia no final dos anos 90, muitos investidores aventuraram-se para além das suas competências. Empresas de tecnologia pouco conhecidas, com poucas receitas e lucros, viram os preços das suas ações subirem absurdamente. Não importava que poucos entendessem os modelos de negócio dessas empresas. As pessoas compravam porque os preços continuavam a subir. Inevitavelmente, a realidade bateu à porta. Quando o frenesim acalmou, essas ações caíram por terra, destruindo os investidores imprudentes que acreditavam que a festa não teria fim.
Saltemos para meados dos anos 2000, uma altura em que eu trabalhava como analista de mercado de ações. A economia indiana estava de vento em popa e o otimismo estava em máximos. Em janeiro de 2008, o OPV da Reliance Power tornou-se a moda mais escaldante da cidade. A Reliance Power era uma empresa de energia com planos ambiciosos, mas sem histórico operacional. No entanto, seduzidos pela marca famosa e pelo frenesim, dezenas de investidores de retalho, incluindo muitos principiantes, pediram dinheiro emprestado ou esvaziaram as suas poupanças para comprar essas ações. Ainda me lembro do primeiro dia de negociação em bolsa da Reliance Power, quando a realidade se abateu sobre os investidores e a ação despencou. Ainda hoje, 17 anos depois, a ação está cerca de 80% abaixo dos seus níveis de 2008.
Não estou a contar estas histórias para te assustar, mas para mostrar um fio condutor comum. Em cada um destes casos, e muitos mais como estes, pessoas (e instituições) aventuraram-se para além da sua competência, quer seduzidas pela ganância, pelo glamour ou pelo excesso de confiança. E em cada caso, o resultado foi doloroso.
No entanto, há o outro lado da moeda: quando nos mantemos dentro do nosso círculo de competência, aumentamos as probabilidades de sucesso a nosso favor. Os investidores que se mantiveram em negócios que compreendiam profundamente geralmente saíram-se muito melhor. Por exemplo, alguém com experiência em agricultura, na década de 2010, pode ter reconhecido o potencial a longo prazo de uma empresa de automação agrícola que resolvia problemas reais de produtividade, precisamente porque compreendia os pontos de dor da agricultura que essa tecnologia podia resolver. Ao investir nesse domínio familiar, teria muito mais confiança e paciência, mesmo que outros o ignorassem.
De facto, muitas das grandes histórias de sucesso de investimento vêm de manter fiel ao que se sabe fazer. Peter Lynch disse famosamente que fez as suas melhores escolhas de ações quando "investiu no que conhecia". Ao permanecer em terreno familiar, não só detetou oportunidades que outros ignoraram, como também evitou entrar em pânico ao primeiro sinal de problema porque tem convicção nos ativos em que investe.
Agora, poderás perguntar-te, permanecer dentro do nosso círculo significa que nunca poderemos experimentar coisas novas ou crescer como investidores? De modo algum! O nosso círculo de competência não é fixo. Pode expandir-se ao longo do tempo com esforço, experiência e educação. A chave é abordar a expansão gradualmente, com paciência e com grande humildade.
Roma não foi construída num dia, e a competência também não. Warren Buffett tornou-se um investidor lendário não porque corria para todos os setores da moda, mas porque lia vorazmente e aprendeu continuamente durante décadas.
Sempre que leres e observares, descobrirás que algumas coisas que antes te confundiam começam a fazer sentido. Pouco a pouco, o teu círculo alarga-se.
Nesta jornada de aprendizagem, a humildade é a tua melhor amiga. Lembra-te sempre que, por mais inteligente que sejas, o mercado pode humilhar-te se sobrestimares o teu próprio conhecimento. A queda de alguns investidores começa frequentemente com a frase "Isto é fácil, não posso errar", especialmente num campo que não estudaram. Evita essa armadilha. O orgulho e o excesso de confiança, o que os antigos chamavam de hubris, podem cegar até pessoas brilhantes.
Portanto, nunca te iludas que és um especialista em algo quando não o és. É muito mais sensato (e, em última análise, mais lucrativo) dizer "Não sei o suficiente sobre isto, por isso vou deixar isto de lado", do que mergulhar num investimento às cegas. Manter essa autoconsciência honesta irá salvar-te de muitos desastres.
A paciência também é crucial aqui. Num mundo obcecado com resultados rápidos, ter a paciência para esperar pela oportunidade certa dentro do nosso círculo de competência é um superpoder.
Lembra-te, não precisa de arriscar em todas as bolas que te são lançadas. Pode deixar dezenas delas a passar até que surja uma que esteja exatamente na tua zona de conforto. Com o tempo, à medida que continuas a aprender, descobrirás que o teu círculo se alarga naturalmente.
Este é um processo para toda a vida. Mesmo na minha própria experiência, comecei com um círculo muito estreito (apenas algumas indústrias e empresas que entendia bem). Gradualmente, através da leitura de relatórios anuais, conversando com especialistas do setor e, por vezes, fazendo alguns pequenos investimentos experimentais, aprendi mais e expandi o meu círculo de competência. Algumas áreas nunca me entusiasmaram (e eu evito-as felizmente até hoje), enquanto outras que antes ignorava, acabaram por se tornar parte da minha competência.
Podes fazer o mesmo, passo a passo. O importante é nunca parar de aprender e manter a humildade sobre o muito que ainda há para aprender.
Para terminar, quero tranquilizar-te: permanecer dentro do nosso círculo de competência é libertador. Liberta-nos da pressão de seguir todas as modas. Permite-nos investir com confiança, porque sabemos o porquê por trás das nossas escolhas. Protege-nos dos erros evitáveis que descarrilam tantos investidores. E à medida que o nosso conhecimento cresce, também o nosso círculo e as oportunidades dentro dele crescerão.
O investimento é frequentemente visto como algo complexo, mas não tem de o ser. Como mentor, o meu conselho sincero para ti é que o mantenhas simples e claro. Contenta-te em dizer "não" a oportunidades que não consegues compreender totalmente. A longo prazo, esta abordagem servi-te-á bem, tanto em termos de riqueza como de paz de espírito.
Estou entusiasmado com a tua jornada futura e estarei a torcer por ti a cada passo do caminho. Investir, feito com sabedoria, recompensa não só com lucros, mas com aprendizagem contínua e crescimento pessoal.
Abraça este processo.
Atenciosamente,
Vishal