Benvindos, Acionistas da Berkshire - Parte I
Como seguidores da filosofia de investimento do Senhor Warren Buffett e do seu sócio Charlie Munger e partilhando dos seus princípios de criação de riqueza para os acionistas, no nosso caso para os nossos clientes, a Casa de Investimentos esteve presente na Assembleia de Accionistas da Berkshire em Omaha, no estado do Nebraska. Este evento anual é também conhecido como o Woodstock para capitalistas.
Benvindos Acionistas da Berkshire
Ao aterrar no aeroporto de Omaha, desde a saída do avião, recolha de bagagens, lojas comerciais, saída do aeroporto, várias são as frases que desejam as Boas Vindas a todos os accionistas da Berkshire e que fazem elogios ao Senhor Warren Buffett. Estes são os 3 dias do ano mais importantes para a cidade que vê neste acontecimento anual a possibilidade de ganhar dinheiro, desde hotéis, restaurantes, estabelecimentos comerciais, taxistas, etc, que tentam aproveitar para fazer negócio com os cerca de 38.000 accionistas que eram esperados para ouvir ao vivo Warren Buffett e Charlie Munger responder às perguntas de acionistas que vêm de todo o mundo e que todos os anos repetem este ritual.
No dia 3 de maio, o número recorde de accionistas dirigiu-se ao CenturyLink Center em Omaha para ouvirem Warren Buffett falar sobre dinheiro. Os accionistas da Berkshire Hathaway podem celebrar um recorde financeiro inédito: 100 biliões de dólares em acções.
Foi o horizonte temporal de longo prazo que permitiu este feito histórico
O portfólio de acções da Berkshire ultrapassou os 100 biliões de dólares em 2013. Foi um horizonte temporal de longo prazo que abriu o caminho para este feito histórico. Totalizando já cerca de 115 biliões de dólares, o valor deste portfólio triplicou na década passada e vale 30.789 vezes (trinta mil setecentas e oitenta e nove vezes) mais do que valia em 1967.
É esta performance o motivo pelo tantos accionistas eram esperados nesta assembleia geral. Vêm ouvir horas de perguntas e, mais importante, as respostas de Buffett e do Vice-Chairman, Charlie Munger.
"Nunca estabeleci, como objectivo, um número" declara Warren Buffett. Construir um portfólio de 100 biliões é "simpático" mas "estou sempre concentrado no dia seguinte. Nunca estabeleci metas para vendas anuais ou lucros ou taxas de penetração no mercado".
O valor crescente do portfólio das acções detidas pela Berkshire, 33% no último ano, é o resultado, não só das subidas do preço de mercado das acções mas é também resultado da subida dos lucros - mais de um bilião de dólares por mês - das mais de 80 empresas detidas a 100% pela Berkshire. As seguradoras do grupo angariam também mais dinheiro disponível para investir. É como uma conta bancária revolving, escreveu Buffett. Sai dinheiro para pagar responsabilidades com seguros, mas entra muito mais - mais 3 biliões no ano passado - nos pagamentos dos prémios das apólices de seguro. A Berkshire detém também no seu balanço 48,9 biliões de dólares, que podem ser utilizados na compra de acções ou empresas inteiras.
"Não temos dinheiro no balanço porque gostamos"
Esta é uma frase recorrente de Buffett, "nada me faz mais infeliz do que ter dinheiro, excepto a falta de dinheiro no momento errado"."Todos os dias, ao vir trabalhar, estou a pensar no que fará mais sentido para a Berkshire. Como é óbvio, as circunstâncias alteram-se de dia para dia, os preços variam diariamente, as oportunidades mudam de dia para dia."
Buffett promete que a Berkshire terá sempre em carteira acções de negócios excelentes. Buffett chama a atenção para o facto de "no ano passado, encontrámos muitas formas de investir muito dinheiro - 1,2 biliões de dólares em IBM e 1,35 biliões em Wells Fargo". Ted Weschler e Todd Combs, gestores contratados nos últimos dois anos, ajudam a pôr o dinheiro a render; cada um gere uma carteira de 7 biliões de dólares.
Todos estes valores pertencem aos accionistas da Berkshire Hathaway. O dinheiro nos fundos de investimento, pelo contrário, pertence aos investidores que, ao mais pequeno sinal de uma queda do mercado, fogem a sete pés e retiram o seu dinheiro.
Este facto constitui, segundo Vitaly Katsenelson, conceituado investidor em valor que todos os anos marca aqui presença, uma fabulosa vantagem competitiva inerente à Berkshire.
"É capital permanente. Buffett toma decisões que vão ser boas para a Berkshire no longo prazo. Mesmo que no curto prazo, elas pareçam não resultar, esse dinheiro não vai fugir. A maior parte das boas decisões de investimento causam dor no curto prazo."
Os gestores de fundos, por outro lado, são obrigados a levar em conta as consequências de curto prazo uma vez que precisam de ter liquidez disponível para fazer face aos levantamentos de clientes. " Eles são forçados a ter horizontes de investimento curtos", diz Katsenelson, "precisam de ter boas performances em três meses, seis meses, um ano. É desta forma que são compensados porque é desta forma que o dinheiro entra e sai dos fundos."
Buffett pode tomar decisões para as próximas décadas. Se, no curto prazo, as suas decisões não produzem resultados satisfatórios, o dinheiro não lhe é "arrancado". Buffett declarou numa entrevista recente que a forte posição financeira da Berkshire lhe permite evitar a pressão de comprar ou vender algo que não quer. "Podemos fazer coisas estúpidas mas não será por termos sido obrigados a isso". Esta visão de longo prazo encaixa com a filosofia de investimento de Buffett segundo a qual devemos investir em poucas acções e concentrar as posições nas oportunidades com maior potencial de valorização.
Em 2003, o portfólio da Berkhshire era constituído por 30 biliões de dólares distribuídos por 10 empresas: American Express, Coca-Cola, Gillette, H&R Block, HCA Inc. (fornecedor de cuidados médicos), M&T Bank, Moody's, PetroChina, Washington Post e Wells Fargo. 5 biliões adicionais estavam distribuídos por algumas dúzias de negócios.
Agora, 15 empresas representam cerca de 100 biliões de dólares: American Express, Coca-Cola, Moody's e Wells Fargo continuam na lista e às quais se juntam DirecTV, Exxon Mobil, Goldman Sachs, IBM, Munich Re, Phillips 66, Procter & Gamble, Sanofi-Aventis, Tesco, U.S. Bancorp e Walmart. Os 20 biliões remanescentes estão distribuídos por cerca de 30 empresas.
"Esta é uma concentração muito pouco usual para uma carteira desta dimensão" diz Whitney Tilson, outro conceituado investidor em valor de Nova Iorque. "É difícil encontrar um portfólio desta dimensão tão concentrado", diz Tilson, "mas isto é o que Buffett tem feito durante a maior parte da sua carreira. Ele age com pouca frequência e quando o faz, fá-lo com convicção e investe grandes somas de capital. Obviamente isto só funciona quando se sabe o que se está a fazer e Buffett sabe o que está a fazer."
A vantagem do "capital permanente" da Berkshire foi amplamente demonstrada durante as quedas dos preços das acções em 2008-2009. Os preços das acções do portfólio da Berkshire caíram, assim como quase todas as outras acções. Buffett, em nenhuma altura, sentiu pressão para liquidar as suas posições, enquanto que praticamente todos os outros gestores de dinheiro estavam a liquidar ou com receio de liquidar as suas posições. Nesta altura, quando as empresas estavam a preços de saldos, muitos gestores vieram para os canais de televisão financeiros dizer "Cash is King". O futuro demonstrou que "dinheiro não era rei". Num artigo de opinião em 16 de Outubro de 2008 que escreveu no New York Times, Warren Buffett veio incentivar os americanos a comprar ações: "Buy American. I Am". Desde esse dia até aos mínimos de mercado, o S&P ainda caiu quase 27%. Durante este período foi duramente criticado. Contudo, fez compras extraordinárias que se valorizaram imenso e contribuíram para potenciar os lucros da Berkshire e dos seus accionistas.
Durante a crise financeira de 2009, Bank of America, General Electric e Goldman Sachs, Harley Davidson, recorreram a Buffett e estavam dispostos a pagar mais para conseguirem o seu selo de aprovação. Não precisavam apenas do seu dinheiro, precisavam também de demonstrar aos mercados financeiros mundiais que Warren Buffett acreditava nestas empresas e nos seus gestores.
Como diz William Browne, "o investimento é levado a cabo por pessoas e as pessoas, na maior parte do tempo, não são racionais."
Investir exige bom senso. Tal como Charlie Munger disse: "Só quero saber onde vou morrer para nunca lá ir". Infelizmente, a maior parte dos investidores não aprende com os seus erros, nem com os erros dos outros, e repetem-nos vezes sem conta esperando resultados diferentes.
No próximo artigo, darei destaque às respostas mais importantes que Warren Buffett e Charlie Munger nos deram na Assembleia Geral da Berkshire Hathaway, em 3 de Maio passado.