

Diferentes tipos de inteligência
Artigo originalmente publicado no blog Collaborative Fund em 11 de junho de 2025
"Quanto mais velho fico, mais me apercebo de quantos tipos de inteligência existem. Há muitos tipos de inteligência. Também há muitos tipos de estupidez.” Jeff Bezos
Os investidores mais inteligentes de todos os tempos foram à falência há 20 anos esta semana. Faliram durante o maior bull market de todos os tempos.
A história do Long Term Capital Management é mais fascinante do que triste. O facto de investidores com mais inteligência académica do que talvez qualquer outro grupo, antes ou depois, terem conseguido perder tudo diz muito sobre os limites da inteligência. Também realça o ponto de Bezos: há muitos tipos de inteligência. Sabemos – em retrospetiva – que a equipa do LTCM tinha quantidades épicas de um determinado tipo de inteligência, mas faltava-lhe alguns dos tipos de inteligência mais subtis, que não são facilmente mensuráveis. Humildade. Imaginação. Aceitar que as motivações coletivas de 7 mil milhões de pessoas não podem ser resumidas numa folha Excel.
"Ser inteligente" é a capacidade de resolver problemas. Resolver problemas é a capacidade de conseguir fazer coisas. E fazer as coisas exige muito mais do que provas de matemática e memorização.
Alguns tipos diferentes de inteligência:
1. Aceitar que a nossa área de especialização não é mais importante ou mais influente nas decisões de outras pessoas do que dezenas de outras áreas. Isto deve incentivar-nos a investir mais do nosso tempo a ligar os pontos entre a nossa experiência e a de outras disciplinas.
Ser um especialista em economia ajudar-nos-á a compreender o mundo, se o mundo fosse governado puramente pela economia. Mas não é. É governado pela economia, psicologia, sociologia, biologia, física, política, fisiologia, ecologia e assim por diante.
Patrick O’Shaughnessy escreveu um e-mail para o seu clube de leitura há anos:
De acordo com a minha crescente convicção de que é mais produtivo ler sobre áreas à volta da nossa área, não há livros de investimento nesta lista de recomendações.
Há tanta inteligência nesta frase. Alguém com inteligência B+ em várias áreas tem provavelmente uma melhor compreensão de como o mundo funciona do que alguém com inteligência A+ numa única área, mas que ignora que essa área é apenas uma peça de um puzzle complexo.
2. Uma personalidade barbell (haltere) com confiança de um lado e paranoia do outro; disposto a fazer movimentos ousados, mas sempre no contexto de fazer da sobrevivência a principal prioridade.
Alguns pensamentos sobre isto:
"O único pecado imperdoável nos negócios é ficar sem dinheiro." – Harold Geneen
"Para ganhar dinheiro que não tinham e não precisavam, arriscaram tudo o que tinham e precisavam. E isto é simplesmente tolice. Se arriscamos algo de importante por algo sem qualquer importância, isto simplesmente não faz sentido." – Buffett sobre o colapso do LTCM.
"Acho que sempre tivemos medo de falir." – Michael Moritz explica as quatro décadas de sucesso da Sequoia.
Um ponto chave aqui é perceber que existem pessoas inteligentes que podem ter um desempenho melhor do que nós este ano ou no próximo, mas não têm uma margem de erro paranoica, e são mais propensas a ser eliminadas ou a desistir, quando eventualmente encontrarem algo que não esperavam. A paranoia dá às suas decisões ousadas uma hipótese de sobreviverem o tempo suficiente para que se transformem em algo significativo.
3. Compreender que Ken Burns é mais popular do que os livros escolares de história porque os factos não têm qualquer significado a menos que as pessoas lhes prestem atenção, e as pessoas prestam atenção, e lembram-se, de boas histórias.
Um bom contador de histórias com uma ideia razoável terá sempre mais influência do que alguém com uma ótima ideia que espera que os factos falem por si. As pessoas questionam-se muitas vezes porque é que tantas pessoas menos inteligentes acabam no governo. A resposta é fácil: os políticos não ganham eleições para fazer políticas; fazem políticas para ganhar eleições. O que é mais persuasivo para os eleitores não é se uma ideia está certa, mas sim se conta uma história que confirma o que os eleitores veem e acreditam no mundo.
Nunca é demais reforçar isto: a principal utilidade dos factos é a sua capacidade de dar credibilidade às histórias. Mas são sempres as histórias que convencem. Focarmo-nos tanto na mensagem como na substância não é apenas uma habilidade única; é fácil de ignorar.
4. Humildade não na ideia de que podemos estar errados, mas, dado o quão pouco do mundo experimentamos diretamente, é provável que estejamos errados, especialmente ao tentar adivinhar como pensam e tomam decisões as outras pessoas.
Pessoas academicamente inteligentes – pelo menos avaliadas dessa forma – têm uma maior probabilidade de serem rapidamente encaminhadas para empregos com muita responsabilidade. Com essa responsabilidade, terão de tomar decisões que afetam outras pessoas. Mas como muitos dos "inteligentes" experimentaram um percurso profissional totalmente diferente das pessoas menos inteligentes, poderão ter dificuldades em relacionar-se com a forma como os outros pensam – o que experimentaram, como veem o mundo, como resolvem problemas, que tipo de problemas enfrentam, o que os motiva, etc. O exemplo mais claro disto é o brilhante professor de gestão cujo cérebro se sobrepõe talvez um milímetro ou dois com o tipo que gere com sucesso uma lavandaria local. Muitos CEOs, gestores, políticos e reguladores têm o mesmo defeito.
Uma forma subtil de inteligência é reconhecer que a inteligência que lhes deu o poder de tomar decisões que afetam outras pessoas não significa que compreenda ou se relacione com essas outras pessoas. Na realidade, é muito provável que isso não aconteça. Por isso, é essencial fazer um esforço extra para ouvir e ter empatia com outros que tiveram experiências diferentes das suas, apesar de ter a autoridade para tomar decisões por eles, concedida pela sua média de notas.
5. Convencer-se a si próprio e aos outros a renunciar à gratificação instantânea, muitas vezes através de distração estratégica.
Todos conhecem o famoso teste do marshmallow, onde as crianças que conseguiam retardar o consumo de um marshmallow, em troca de dois mais tarde, acabavam por ter uma vida melhor. Mas a parte mais importante do teste é muitas vezes ignorada. As crianças que exerciam paciência muitas vezes não o faziam por pura força de vontade. A maioria das crianças pegava no primeiro marshmallow e ficava ali a olhar para ele. As crianças pacientes retardaram a gratificação distraindo-se. Esconderam-se debaixo de uma secretária. Ou cantaram uma canção. Ou brincaram com os sapatos. Walter Mischel, o psicólogo por trás do famoso teste, escreveu mais tarde:
A correlação mais importante do tempo de retardamento com os jovens foi a implementação da atenção, onde as crianças focavam a sua atenção durante o período de retardamento: Aqueles que prestavam atenção às recompensas, ativando assim mais o sistema quente, tendiam a retardar por um período de tempo mais curto do que aqueles que focavam a sua atenção noutro lugar, ativando assim o sistema frio ao distraírem-se dos pontos quentes.
A gratificação retardada não se trata de se rodear de tentações e esperar dizer "não" a elas. Ninguém é bom nisso. A forma inteligente de lidar com o pensamento a longo prazo é desfrutar o suficiente do que se está a fazer no dia-a-dia para que as recompensas finais não lhe passem constantemente pela cabeça.